Capítulo 9, Surpresa.

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彡★ Capítulo 9, Surpresa:

O quarto estava escuro, e de repente, no lugar da noite quente com estrelas, o vento tomou o seu lugar. As rajadas invadiam o ambiente com violência, fazendo as janelas de vidro se agitar e suas dobradiças rangerem. Corri até elas para fechá-las antes que algum acidente acontecesse. Embora parecesse impossível, o quarto ficou ainda mais sombrio. Escutei os passos de Duni atravessando o recinto até parar em frente à cama. Ela puxou um lençol e, aproximando-se novamente de mim, olhou-me com os olhos cansados e chorosos.

— Eu não aguento mais tudo isso, Zade... — e começou a chorar.

Ela se enrolou com o lençol e, impulsivamente, a abracei. Senti seus braços me apertando enquanto seus soluços ecoavam altos pelo quarto. Apesar de não ser o momento mais apropriado, era curioso como "Zade" tinha uma sonoridade semelhante a "Jade".

— Não, Duni, vai ficar tudo bem... — disse, alisando sua cabeça com a ponta dos dedos.

Dessa vez, fui eu quem a puxou até um lugar específico. Afastei-me do abraço, segurei sua mão e a conduzi até o que parecia ser a minha cama, fazendo-a se sentar. Em seguida, fiz o mesmo. Peguei uma parte do lençol que estava com Duni e me envolvi nele. A abracei, e ela começou a chorar ainda mais.

Ficamos assim por um tempo indefinido. Duni chorou tanto que acabou adormecendo nos meus braços. Eu, no entanto, não conseguia dormir. Fiquei encarando a porta do quarto, ouvindo gritos, rugidos e barulhos diversos, imaginando o que estava acontecendo e refletindo sobre o que eu fizera. Eu tinha salvo aquela Astri, mas... lembrei-me novamente do momento em que estava dentro do salão do duque... Eu havia entrado no livro... Balancei a cabeça em negação, mas como isso seria possível? Eu sabia que existiam objetos encantados, mas... além disso, eu atendia pelo nome Sherazade aqui, e esse nome não me era estranho. Droga! Se ao menos eu conseguisse falar com o ser de cabelos lilás... Fechei os olhos com força e tentei estabelecer algum contato com ele, mas nada aconteceu. Ou talvez ele não quisesse falar comigo. Eu não sabia mais no que acreditar. Será que eu tinha morrido? Será que tudo isso era um sonho?

Olhei ao redor mais uma vez enquanto minha mente trabalhava. Era um quarto realmente bonito, como já mencionei. Havia almofadas espalhadas por todos os lados, além de livros ao lado delas. Aparentemente, Sherazade gostava muito de ler, e embora eu não compartilhasse do mesmo hábito, entendia o motivo das almofadas por todo canto, para relaxar enquanto se lia um bom livro. Na minha escola em Torthaí, havia uma sala semelhante, embora, ao invés de almofadas chiques e livros com capas belíssimas como os de Sherazade, usássemos almofadas duras como pedra e livros desgastados. Além das almofadas, vi uma escrivaninha, encostada entre as duas janelas que davam para a sacada. Ela estava cheia de livros e alguns objetos pessoais, como escovas de cabelo, grampos e joias.

Encostei Duni novamente na cama, e ela automaticamente se encolheu, como uma criança. E, de fato, parecia uma criança, provavelmente teria entre quinze e dezesseis anos. Levei minha mão até seu rosto e arrumei uma mecha de cabelo que caía sobre ele. Por algum motivo, pensei no meu irmão. Sentia saudades dele.

Levantei-me e fui diretamente para a escrivaninha de Sherazade. De perto, ela parecia ainda mais bagunçada. Talvez organização não fosse o forte dela, então decidi arrumar tudo enquanto Duni dormia, para distrair a mente. Juntei as várias joias espalhadas e as coloquei em um pote semiaberto, onde as outras estavam. Depois, peguei os livros, um por um. Estavam empoeirados, então passei a mão por cima das capas e as assoprei para retirar a poeira. O livro do topo tinha como título algo sobre "animais fantásticos", e o outro falava sobre mitologia. Assim, todos os livros tinham temas semelhantes. Havia muitos lápis espalhados pela escrivaninha, então os peguei e os coloquei em um copo, onde seus iguais estavam. No entanto, ao juntar os lápis, acabei derrubando alguns livros ao esbarrar neles com o cotovelo, fazendo um barulho alto o suficiente para ser ouvido do outro lado do quarto. Olhei para Duni, mas ela nem se mexeu, o barulho não a despertou. "Sono pesado" pensei. Abaixei-me e peguei os livros espalhados no chão, mas encontrei algo diferente entre eles.

O feiticeiro e o deserto.Onde histórias criam vida. Descubra agora