pt.1 " Na Velocidade da Luz "

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Taehyun nunca pensou que esse dia chegaria, mesmo depois de anos de preparo e treinamento, não parecia realidade que um dia estaria enfim iniciando sua vida na polícia. Ou quase isso. Acontece que antes de realmente viver seu sonho de andar pelas ruas em busca de grandes criminosos, participando de missões e salvando vidas, tinha que passar pela primeira fase, a iniciante e mais básica; ser guarda de trânsito.

Não desmerecendo a posição, é um emprego necessário oras! Ainda hoje existem vários malucos irresponsáveis que correm o risco de atropelar vovozinhas desprevenidas. O mínimo que inconsequentes assim podem receber é uma bela multa e um registro que não ficaria bem na ficha criminal.

Resumindo, se Taehyun tinha que passar por aquilo, faria da melhor forma possível! Com esse pensamento em mente, vestiu seu uniforme laranja vibrante, que com certeza faria pequenos infratores de trânsito temerem sua presença, — era assim que o Kang imaginava — ele faria daquele primeiro dia, memorável!

Dirigiu cuidadosamente até o centro, tinha que dar o exemplo, não é mesmo? Lá seria seu posto principal, já que o centro da cidade era conhecido por possuir um nível alto de infrações e pequenos delitos, então claro que a melhor opção do comandante seria colocar o novato promissor para dar uns puxões de orelha por lá.

...

Já se passava do meio dia, e apesar do garoto já ter corrigido uma violação ou outra, estava realmente entediado. Não fazia o menor sentido, aquele era um dos pontos mais movimentados da cidade, mas logo hoje os cidadãos decidiram criar juízo e seguirem as leis de trânsito.

O guarda suspirou, encarando seu entorno com mais atenção. Havia chegado em Daegu há poucos messes, e com toda a questão do treinamento, exames, e preparo físico e mental, não tinha tido tempo para apreciar o lugar, que possuía sim um charme. Como as cerejeiras que desabrochavam de forma graciosa, trazendo mais cor à aquela rua de tons terrosos e cinzentos.
Tudo ao seu redor era harmonioso de certa forma, tranquilo e calmo.
Ou era, até aquilo aparecer.

Teahyun mal teve tempo de enxergar o que havia passado por si, parecia uma moto com muito laranja e vermelho envolvido, tão rápida que o guarda demorou alguns bons segundos para perceber o que aquilo significava. Nem pensou quando entrou em sua picape prateada e ligou o motor, foi quase que automático; ele não podia deixar aquele infrator descarado escapar.

Aquela não era exatamente a função do Kang, mas simplesmente parecia certo, não podia o deixar livre tendo a consciência de quão perigoso era; e afinal, o que há de mais emocionante do que uma bela perseguição digna de cinema? O guarda tinha isso em mente enquanto perseguia a moto avermelhada. As ruas ainda eram confusas e muitas vezes desconhecidas para si, mas isso era irrelevante naquele momento, teria tempo para pensar nisso depois de multar aquele jovem, provavelmente era um adolescente mal caráter que nem mesmo tinha habilitação para dirigir — deduziu — mas ainda assim seria ótimo para mostrar aos superiores de Taehyun que ele merece estar em um cargo elevado.

Eles corriam e corriam, quase lado a lado como em uma richa, quando de repente a moto desacelerou e enfim parou. Pela velocidade em que estavam, o guarda acabou por parar o carro prateado um pouco à frente da moto, mas isso não seria problema; nada impediria que ele fizesse seu trabalho.

Taehyun desceu da picape, sentindo o ar úmido que balançava a folhagem das árvores, ele teria aproveitado em outra oportunidade, mas agora tinha apenas um objetivo. Quando olhou para a moto, estava vazia. E pode ver quem estava a dirigindo correndo para dentro de uma casa em meio às árvores. O guarda correu para alcançar aquele que já estava dentro da casa de madeira, à esse ponto ele já desconfiava que havia ido um tantinho longe demais, mas não poderia simplesmente ir embora, não quando já estava dentro da casa.

O motoqueiro ainda usava o capacete, impossibilitando que o outro visse seu rosto, ele foi até uma mesa no canto do cômodo e sacou algum objeto que o Kang não conseguiu destinguir, seu primeiro pensamento é que seria uma arma ou um objeto para usar contra si; talvez aquele não fosse apenas um infrator de trânsito, e sim um meliante perigoso em potêncial. Ele não podia mais observar, precisava agir!

— Parado! — gritou, tentado parecer o mais autoritário possível.

O motoqueiro então se virou, sua forma continuava misteriosa pelo visor escuro do capacete, então Taehyun continuo percorrendo o garoto com os olhos, e em suas mãos estava o objeto tão amedrontador, um potinho de ração para peixes.

— Você é o maluco que 'tava me seguindo? — gritou abafado de dentro do capacete.

— Maluco, eu? — disse no mesmo tom, frustrado por ter realmente se assustado com um carinha segurando ração de peixe — Foi você que passou por mim na "velocidade da luz".

— E eu tenho cara de "jedi", por acaso?

— 'Sei lá, tem cara de motoqueiro.

O infrator então deixou o potinho de lado por um momento, para então retirar o capacete que cobria seu rosto. E 'caralho, ele era bonito, muito bonito.
Ele era ruivo, de um tom que o guarda ainda não tinha visto por aquela cidade, pois se tivesse, certamente lembraria. O Kang assistiu calado enquanto o garoto tirava a atenção de si e pegava a ração novamente, abrindo-a e despejando um pouco do conteúdo em um pequeno aquário que até então tinha sido despercebido por Taehyun.

— Me desculpe mesmo, Bob. Juro não te deixar passando fome de novo. — o ruivo falava com o pequeno peixe que habitava o aquário, mantendo um sorriso fraterno no rosto. — Agora — se virou para o outro na sala, o encarando dos pés à cabeça — O que diabos você está fazendo aqui?

— Eu vim aqui porque... porque... — aquela situação toda era tão atípica e confusa que bagunçava a cabeça do guarda, e a imagem do garoto ridiculamente bonito à sua frente não ajuda a em nada.

— Porque...?

— Para te multar! Isso!

— Me seguiu até minha casa como um psicopata 'pra me multar? Tem certeza de que não é maluco?

— Tenho. Eu sou um policial... Quase! Quase policial. Eu sou um guarda de trânsito e você — apontou para o outro, com claro julgamento — é um tremendo infrator.

— Olha meu senhor, tenha um pingo de empatia, foi por urgência extrema — se sentou em um puff perto do sofá, ele falava como se o que tinha feito não fosse nada demais, e isso estava deixando o outro nos nervos — eu apenas quis evitar um acidente. — por fim pegou seu celular se distraindo com o aparelho.

— Evitar um acidente? Você quase causou um acidente, não percebe o que fez? — berrou.

— Acontece que eu acabei de salvar uma vida aqui, e você quase me impediu! — Taehyun se sentiu extremamente julgado pelo olhar alheio.

— Como é?

— Eu vou explicar, aí você pega essa roupinha de cone laranja e vai embora. Ontem eu saí de casa com pressa e acabei esquecendo de dar comida 'pro Bob aqui — apontou para o peixinho que nadava pelo aquário — e para evitar uma morte trágica onde ele estaria faminto em seus últimos momentos — levou a mão à testa, dramantizando da forma mais ridícula possível; o que talvez o guarda tenha achado engraçado, mas ele nunca admitiria — eu tive que dar uma acelerada no caminho. Agora pode fazer o favor de sair da minha casa?

Realmente não havia motivo para continuar aquela conversa, O Kang tinha certeza que apenas iria se extressar mais.

— Eu vou, não se preocupe. Só pega isso antes. — entregou um papel quadriculado.

O ruivo analisou a multa, incrédulo.

— Isso é ridículo! Assim até parece que matei alguém.

— Não matou, mas poderia ter matado. — sorriu convencido.

— Cuidado, ainda dá tempo. — Taehyun sorriu em uma risada conrida, já de costas para o garoto.

Ele saiu, a caminho da picape, ainda com um sorriso no rosto; aquela situação havia sido bem engraçada no final das contas, ao menos para o guarda que não iria perder um tostão, diferente do ruivo inconsequente. Entrou no carro e olhou em volta, pensando em qual caminho faria para voltar ao centro da cidade; foi quando percebeu o real problema em que se meteu.

Afinal o Kang era novo em Daegu, era óbvio que ir para os arredores da cidade era uma ideia horrível, pois agora ele estava completamente perdido.

Pra Quê a Pressa? • taegyu Onde histórias criam vida. Descubra agora