MOMO & MINA.momo era uma bagunça.
seus sentimentos, seus pensamentos, seus movimentos, tudo estava uma verdadeira bagunça. e ela precisava resolver isso, antes que fosse tarde demais.
por isso, quando eram exatas 18:09 - ela havia verificado no celular -, saiu de casa com passos apressados, pesados e melancólicos. era certo que os dias estavam chuvosos ultimamente e que hoje não seria uma exceção; por isso, quando a primeira gota grossa de chuva caiu em seu braço, ela rapidamente subiu o gorro de seu moletom e cobriu sua cabeça.
seu tênis all star, braquinho por estar recém lavado, agora estava encharcado: mais tarde ela se preocuparia com o chulé. sua camiseta preta era larga e tinha nela ilustrada um fantasma da cor verde-agua, por cima, havia seu moletom preto, comum.
e em seu rosto, lágrimas. lágrimas caiam sem parar. as lágrimas pelo medo. medo da chuva, medo de perder alguém importante, medo de perder sua consciência, medo de perder sua essência.
quando a chuva aumentou, momo não viu outra opção a não ser procurar o parque mais próximo que avistou e se esconder por lá. por sorte, não demorou a achar uma casinha coberta com escorregador, logo se acolheu por ali.
lá, descansou a cabeça em seus joelhos e respirou fundo, tentando parar com o choro antes que começasse a soluçar.
suspirou, eram muitos sentimentos para uma noite chuva.
- você é tão idiota, momo. - ouviu a voz tão conhecida por si de myoui mina, e seu coração foi a loucura quando levantou sua cabeça e deu de cara com a garota. - só não é tão idiota quanto eu, que vim atrás de você. - ela exibiu um sorriso ladino, calmo e sereno.
momo se hipnotizou pela beleza da garota. seus cabelos molhados que estavam meio ondulados, a regata branca colada em seu corpo pela chuva e sua calça moletom preta que ela nunca abandonava.
bom, ela estava molhada, mas continuava linda.
- eu fui atrás de você. - a hirai conseguiu dizer, com a voz baixa e rouca, tentando manter contato visual com a myoui.
- eu sei, por isso estou aqui. - mina se sentou ao seu lado, havia pouquíssimo espaço, então elas chegavam até mesmo a encostar seus braços. isso causava arrepios sérios em momo.
por um momento longo, houve um silêncio duradouro. isso até a hirai perceber que mina demonstrava estar com frio, sem pensar duas vezes antes de abrir o ziper de seu moletom e usá-lo como uma coberta para cobrir ambas na frente. engoliu a seco, por sorte ela sempre usava números maiores por serem mais confortáveis e quentinhos.
mina sorriu grata pela ação, apoiando sua cabeça na de momo.
- então.. o que tem a me dizer? digo, você veio atrás de mim no meio da chuva. - a myoui começou, pressionando os lábios pelo nervosismo.
momo teve que soltar um longo suspiro antes de pegar seu celular no bolso encharcado; por sorte, sempre andava com um saquinho para casos como esse. ela abriu o aplicativo verde com listras pretas e entrou em uma playlist conhecidas por ambas, clicando logo na música que chamou sua atenção.
conhecidentemente, ou não, era uma música da tão querida Taylor Swift, a cantora favorita de mina.
droga, sentia tanta falta de suas discussões sobre ela ser artista ou não.
- mina, eu não vou enrolar muito, acho que já fiz isso demais durante os últimos meses. - momo se virou para a garota, seu coração martelando no peito e sua mente a mil estavam a enlouquecendo. precisava pôr pra fora, então tentou manter contato visual, mesmo que seus olhos agora marejados quisessem falhar.
- tô aqui, momorin.- mina temia o que viria pela frente, tinha que admitir, ela tinha uma ideia do que poderia ser.
- eu gosto de você. você sabe, mais que uma amiga, como uma - momo tremia, seus lábios tremiam, sua voz falhava e ela percebia seu pé bater repetidamente no chão sem sua permissão. - namorada. eu quero namorar com você, mina, eu não quero ser só a porra da sua amiga! - as lágrimas começaram a descer. - eu não aguento esse sentimento dentro de mim, mimi, eu juro, eu tentei falar pra mim que era algo bonito, mas não dá. não quando eu sei que não vai ter nada entre nós, não quando eu te vejo tão abertamente afim de outras pessoas, não quando eu sinto meu interior se remexer por ciúmes. não quando eu acho que você não sente o mesmo, não com essa coisa de namoradas que não namoram. essa é a pior coisa do mundo pra mim, e, aos poucos, está me remoendo.
momo respirou fundo, tentando controlar sua respiração. mesmo com sua situação atual, ela ainda tentava encontrar algum sinal de que mina sentia o mesmo.
a hirai não mentia em nenhuma palavra sequer, ela realmente andava se remoendo por todos aqueles sentimentos acumulados. guardados. trancados a sete chaves. fazia dias que ela não sabia o que era dormir sem passar a madrugada ansiosa, sem sentir seu coração ser esmagado sempre que pensava nos seus sentimentos, sem pensar nas possibilidades.
nunca gostou de demonstrar ciúmes, mas, recentemente, ela parecia estar sentindo tudo em dobro. por isso, nunca esteve irritada ou furiosa, apenas triste. triste de uma forma de partir o coração. qualquer tolo teria pena de si.
quando mina finalmente esboçou uma reação além de a encarar com a boca levemente aberta e cenho levemente franzido, momo desatou a chorar. juntou suas pernas e as abraçou, afundando o rosto em seus próprios braços e soluçando. ainda tremia muito.
era isso, ela não sentia o mesmo.
mas, já estava feito, não tinha como voltar atrás. agora ela sabia como se sentia, e as coisas mudariam drasticamente.
- me desculpe. - mina disse, baixo como sempre. momo se perguntou se era errado ela se sentir mal por saber que mina ficaria triste com a situação.
não queria sua garota triste... bom, ela não era sua.
e ali, momo continuou a chorar. com o seu amor ao seu lado, sabendo que nunca a teria da forma que queria e teria que lidar com isso. teria que lidar com o clima chato, teria que lidar com o tempo que aquilo ainda estaria as incomodando. elas não seriam como antes, e momo se culpava por isso.
só esperava que mina não se sentisse mal por isso. momo era a única culpada, por ter um coração frágil o bastante para não aguentar os encantos daquela linda garota.
quando a chuva diminuiu, cerca de quarenta minutos depois, momo viu mina se despedindo dela. viu ela virar as costas pra si com uma expressão triste, mas ainda assim com um sorriso fechado.
reparou em seus lábios. no primeiro dia que saiu com mina, seus lábios estavam azuis pela bebida que ela teria dado alguns goles momentos antes. foi bem naquele momento que sentiu vontade de a beijar, de saber o sabor daquela bebida azul.
reparou também em suas costas quando ela foi embora. se lembrou de quantas vezes teve que deixar mina ir embora, sem poder fazer nada.
momo se perguntava como seria se ela tivesse ido atrás de mina. se seria diferente.
mas agora ela sabia, nessa vida, nesse momento de sua vida, ela não poderia ter mina pra si.
e ela tentava entender que estava tudo bem. sua vida não acabava ali, apenas começaria uma fase chata, a fase de superação. se sentia mais leve por ter posto pra fora, mas não menos triste, não menos deprimida.
tudo bem, ela lidaria com isso do seu jeito.