263 dias antes

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Olhando as gotículas de chuva deslizando do outro lado da janela, eu sussurro a letra daquela música que não consigo tirar da cabeça. "No, no, no, no, no, no, don't lose who you are in the blur of the stars" sempre odiei a forma como essa letra mexe comigo, mas nunca passei mais do que uma semana sem a ouvir. Batendo com meu dedo indicador na gélida vidraça da janela do meu quarto, crio uma fraca melodia que casa muito bem com o meu sussurrar, a cada gota que em distração vejo cair, me pego ainda mais distante da realidade, que se perde em minha vasta mente. Meu lugar mais bonito. Na véspera de meus dezoito anos, tenho amigos incríveis, minha relação com a senhora Dalila, vulgo minha mãe, nunca esteve melhor, minhas notas genuínas refletem todo meu esforço acadêmico, tenho o namorado dos sonhos. Deus, como eu amo cada detalhe de minha vida, mas não consigo me sentir feliz, e me sinto tão ingrata por isso, sequer tenho coragem de contar sobre minha estúpida infelicidade para alguém, tudo que consigo fazer a respeito é deitar, abraçar forte meus travesseiros, e dormir, na esperança de um amanhã melhor.

     Saio de minha bolha de pensamentos com um suave vibrar em meu bolso, me mexo um pouco em cima do baú que fica embaixo de minha janela até ficar de forma mais confortável para que pudesse retirar o celular do meu bolso. Sorri fraco ao encarar a notificação de mensagens e perceber que se tratava de Bruno, meu namorado.

     "Ganhamos mais uma vez, estamos saindo para comemorar! Você vem?" 

    Eu deveria, sei que deveria, pois preciso ser uma namorada mais presente, mas odeio os amigos brutamontes de Bruno, e meu humor estava péssimo graças a bendita menstruação.

     "Não estou muito disposta hoje, se divirta por nós dois, ok? Beijos" respondi.

   Bruno Barley, não era muito inteligente, mas por sua vez era tão gentil e engraçado que até fazia com que eu esquecesse um pouco sua falta de atenção. Nunca fui muito fã de me relacionar com as pessoas, mas já fazia 3 meses desde que aceitei o pedido de namoro que Bruno me propôs. O baile da escola, céus, nunca pensei que o baile de Boas-vindas da escola se tornaria tão inesquecível para mim. Lembro bem do Sr. Barley bêbado roubando o microfone do DJ e cantando Sorry do Justin Bieber para mim no seu tom mais desafinado. Fazia exatamente um mês que tínhamos começado a sair, e depois de muita insistência sua, me convenceu a ir ao baile de Boas-vindas com ele, mas quando faltavam alguns dias para o tão esperado baile, eu recebi uma ligação da escola, eu tinha ganhado uma competição estadual muito importante, e ia começar a trabalhar na área de minha preferência como prêmio — Eu escolhi jornalismo — mas antes tinha um jantar de gala com o prefeito da cidade, outros ganhadores, imprensa, etc. Todos os ganhadores deviam ir acompanhados, e achei que seria legal se Bruno fosse meu par neste jantar, então o convidei, ele me garantiu que iria, comprou até um terno novo, mas no dia do jantar, o time de futebol que ele é Capitão foi convocado de última hora para um jogo, eu realmente não costumo ligar muito para essas coisas, não foi tão ruim ir sozinha, foi lá onde conheci Ísis, mas isso é história para outro capítulo. Eu tentei falar para ele que estava tudo bem, que eu não estava chateada por ele não ter ido, mas ele não entendeu, me ligou chorando quando me viu sair sozinha nas fotos que o jornal publicou, Bruno é um tanto quanto sentimental.  Fiquei ocupada com atividades extracurriculares, e não pude vê-lo até o baile, onde tudo aconteceu. Desde então venho tentando ser mais presente em sua vida, mas confesso que me relacionar com as pessoas não é meu forte.

Ouço batidas na porta, minha mãe.

— Elaine? — Falou baixinho ao abrir um pouco da porta — Está acordada?

Olhei para o relógio, 22h45.

— Sim, dona Dalila, mas já estou quase indo dormir — Falei largando o celular na cama, e fui até ela, a envolvendo em um meio abraço — Aconteceu alguma coisa?

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⏰ Última atualização: Jul 18, 2023 ⏰

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