19| Sobriedade

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Cada vez mais que a sobriedade adentrava meu corpo, mais eu me achava maluca por estar confiando em um cara que eu mal conhecia.

O dia estava quase amanhecendo quando fui deitar, e Ian parou de conversar comigo. Por incrível  que pareça, nossa conversa havia sido mais superficial possível. 
Coisas como " quando entrou no trabalho, qual a sua rotina e quem você odeia lá" foram tópicos  recorrentes, mas o que mais se perdurou, foi sobre como Ian havia chegado ao seu atual cargo.

O que não era muita surpresa , claro. O antigo chefe estava falindo com a quantidade de processos e falhas encontradas durante a sua  gestão. Ian interessou-se pela compra, e assim o fez, o que me pegava pensando o quanto de dinheiro ele tinha e o que ele fazia antes de comprar a empresa.

Mas ele não se aprofundou nesse assunto, para a tristeza da minha curiosidade, a não  ser os comentários  sobre  ser empresário  e sobre investir em negócios  bem rentáveis. 

Agora eu encarava o teto. O sono havia sumido e a consciência  pesado um pouco. Eu não  era de sair e dar trabalho à minha avó, mas parecia errado o que eu estava fazendo e me odiava por sentir isso.

Fecho os olhos por alguns segundos, imaginando o que teria acontecido se as coisas com Ian avançassem.  Ele havia ficado no escritório, acordado, alegando não  estar mais com sono. Enquanto eu, para fugir de algo que eu não  sabia o quê, menti estar sonolenta.

As horas se passam, e eu me viro de um lado e para o outro, com uma inquietação  agoniante... A noite parecia não  passar nunca!

Mesmo assim, insisto em continuar com os olhos fechados, me obrigando à dormir mesmo que meu corpo estivesse  em alerta. Mas, surpreendentemente, após um tempinho, sinto minhas pálpebras  pesadas, o corpo ainda mais, e algo quente e caloroso aquecer meu corpo.

Um sensação que eu nunca havia sentido. Algo como... paz. Sim, paz.

Era como se algo estivesse me acalentando, até que fosse impossível  abrir os olhos ou me mexer,  de tanto cansaço  e sono.
Como o carinho de uma mãe  carinhosa, era impossível  recusar.

E é assim que durmo.
Mais uma vez, nada me assombra.
Nem mesmo minha mente, que devia ser a principal causadora dos últimos  acontecimentos.

Maldita.

Débora  me analisava com seus olhos afiados como os de uma águia,  analisando cada expressão  minha

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Débora  me analisava com seus olhos afiados como os de uma águia,  analisando cada expressão  minha.

Já irritada por essa reação insistente dela durante quase toda a manhã, bato na mesa o que a sobressalta.

ㅡ Você vai para com isso?!

Embora meu tom tenha deixado claro minha irritação,  Débora não  parece se importar e continua:

ㅡ Não vai me falar nada?! ㅡ pareceu exasperada com o meu voto de silêncio. 

Estava um pouco irritada com o que havia acontecido na boate, com a irreponsabilidade dela em ter me confiado lá, sozinha.  Mas, acima de tudo, estava chateada comigo mesmo por ter me metido onde me meti.

Dois dias haviam se passado após o ocorrido, conforme o feriado acontecia. Eu havia respondido minha amiga de forma seca, e ela também  parecia ter percebido o erro e me deixado quieta durante o feriado. Mas agora parecia não  suportar a ideia de me ver calada.

ㅡ Eu sei! Sinto muito mesmo por ter a deixado só! Mas, veja só, Declan e seu amigo nos deixou em segurança em nossas casas.

Isso me faz erguer os olhos para ela. Débora não parecia saber que eu havia passado a noite na casa de Ian, e nem quem ele era, pelo visto. E isso deveria me aliviar, mas o efeito dói o contrário... me senti tão  enjoada que desejei fechar os olhos e sumir.

ㅡ Por favor, Marie, não  fique chateada comigo...ㅡ choramingou.ㅡ O que quer que eu faça para que me perdoe? Me ajoelhe?!

Inspiro o ar puro,  bufando.

ㅡ Embora  me pareça  uma ideia tentadora vê-la se ajolhear, prefiro poupar a vergonha. ㅡ isso faz Débora  sorrir.ㅡ E vamos esquecer esse assunto.

Ela se anima.

ㅡ Ok, ok! ㅡ olha o redor e se inclina para a frente como se fosse murmurar algo secreto.ㅡ Ouvi dizer que nosso amigo inspetor está com problemas com a direção,  e que uma reunião  foi feita para mudar os cargos da empresa.

Pisco algumas vezes.

ㅡ Primeiro, que amigo inspetor é, segundo, como assim mudar os cargos?ㅡ Franzo o cenho.ㅡ Já não  foram mudados?

Débora  nega.

ㅡ Ainda estamos com a mesma formação  que o antigo chefe deixou...ㅡ responde.ㅡ Já estava mesmo na hora de mudar. Quem sabe Richard, nosso "amigo inspetor ", não  saia do cargo atual? ㅡ vejo uma centelha de felicidade  passar pelos olhos de Débora. 

Mas isso significava que teríamos  que ver os responsáveis  por isso, incluindo  Ian  e Declan.  Débora  os veria e os reconheceria.

Ok, agora eu estava torcendo mesmo para ver a sua expressão  quando visse Declan lá, mas não  estava preparada para as perguntas quando visse Ian.

ㅡ Não  estou sabendo de nada. Eles costumam anunciar e...

ㅡ As bonitas vão  ficar de conversa no meio do expediente? ㅡ a voz de Richard me interrompe, o que me faz parar de falar, assustada.

ㅡ E você ouvindo, como sempre.ㅡ Débora  murmurou, mas o homem não  parece ouvir.

ㅡ O que quer? ㅡ Pergunto, já irritada ao lembrar da sua falta de profissionalismo ao me abordar no elevador. Isso só fez com que minha raiva por ele aumentasse.

A ideia de Richarde não  sendo mais o que era, me deixava imensamente feliz.

Richard, no entanto, me ignora e fala em voz alta para que todos escutassem

ㅡ Meia hora antes do final do expediente, o chefe virá informá-los das mudanças que ocorrerão,  devido a muda da antiga administração  da empresa e, claro, conhecê-los melhor. ㅡ faz uma pausa e me olha de soslaio.ㅡ Não que isso vá mudar para alguns... se contetem com o lugar de vocês,  e dêem o seu melhor.

Isso me faz trincar os dentes. A arrogância  que Richard deixara transparecer, havia sido direcionada à mim. Ele estava tão  confiante e seguro de sua posição,  que eu torcia para que alguém  puxasse o tapete para que ele caísse da ilusão. 

Mas não  foi isso que segurou muito a minha atenção,  e sim o fato de o próprio  chefe, Ian, vir nos ver.

Me And The Devil ( Em Andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora