Capítulo 11

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Outra vez.

Ele trás o garoto, outra vez.

Essa pode ser a consulta final.

Desta vez, estou ciente de que elas estão esgotando-se.

Ele tem um filho, é claro que ele tem.

Em 1961, qualquer homem respeitável, honrado e renomado na sociedade possui um herdeiro, e uma esposa.

Não sou honrado.

Não sou renomado socialmente.

Não possuo um herdeiro.

E melhor não mencionar sobre a esposa.

— Aquiles insistiu para vir. — Cede um sorriso melancólico. — Deslumbrado com os preparativos finais do festival.

Examino a criança.

Seu semblante sobre mim denota sinais de alerta, como se eu fosse um perigo.

Não permito-me julga-lo.

Se eu estivesse em seu lugar, neste pontual momento, também me temeria.

— Filho. — O doutor carece baixinho, sem desviar os olhos de meu braço enquanto o move. — Pegue a cenoura que trouxemos. O cavalo lhe espera.

O garoto hesita, mas concede ao pedido do pai, retirando generosas cenouras da maleta.

— Abra pacatamente um dos lados da janela. — Indica. — Ele irá aparecer no mesmo instante.

Não me contenho e guio meu olhar até os olhos verdejantes do doutor.

Como ele sabe?

Ele reparou em cada detalhe, todo esse tempo.

Fui tolo em não perceber.

— Não se preocupe. — Diz para mim e sorri confortador. — Em breve, não terá mais que nos aturar.

Continuo a encara-lo.

— Pai! — Ouço a criança chamar, todavia, o doutor de tão compenetrado em meus braços, não percebe.

Então, o menino proclama mais alto.

— Harry!

Desta vez, o doutor ergue a cabeça assustado.

Harry.

— Não consigo abrir. — Aponta para a janela.

Ele é célere em ajudá-lo e logo, contemplo Ansel em minha janela, ávido e cobiçoso por cenouras frescas.

— Oh. — O garoto parece deslumbrado com meu cavalo e Harry sorri. — Qual o nome dele?

Vislumbro seu sorriso se desfazendo com o questionamento do menino.

Sinto a culpa invadindo-me.

Meus dedos se contorcem.

Ansel.

Ansel.

Ansel.

Tento gritar, mas nada se esvai.

Quando eles se vão, me permito soltar o ar.

Quando eles se vão, me permito soltar o ar

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