Zerofuku andava animadamente pelas ruas desconhecidas daquele vilarejo humilde do qual, desde semana passada, o chamava de lar. O jovem sorria resplandecente, os olhinhos arroxeados difusos pareciam rodopiar nos globos oculares, como se tentassem captar cada centímetro daquele lugar e armazenar como calorosas memórias em sua mente.
O gorgolejar preguiçoso do rio que margeava a rua de terra batida, os pássaros cantarolantes empoleirados nas copas das árvores, as mulheres assobiavam alegremente das janelas, regando os jarros de plantinhas multicoloridas enfileirados nas sacadas, enquanto os homens vinham logo abaixo, pés pesados arrastando-se pela rua, grandes sacas de carvão nas costas, acompanhados pela carroça puxada por bois, que levantava uma nuvem de poeira fina, que logo era dissipada pela brisa agradável que soprava dos cumes mais ao sul. Todo aquele cenário interiorano fazia Zerofuku, ou Zero, como era conhecido, a criança mais feliz do mundo!
O jovenzinho parou de repente, levando a mão à testa como se tivesse esquecido de algo importante. Ele ainda não era a criança mais feliz do mundo, já que lhe faltava apenas uma coisa para que conseguisse tal proeza: fazer amizades! Ali naquele vilarejo incrustado nas montanhas, o mocinho de cabelos esvoaçantes não fizera nenhum amigo ainda, afinal chegara ao local semana passada e, aquela era a primeira vez que saía sozinho na rua, pois passara os dias inteirinhos ajudando seu irmão na árdua tarefa de desempacotar as caixas e deixar o casebre onde moravam com uma cara de lar. Zero, é claro, fizera amizade com todos os animais da vila, desde o simpático cachorrinho branco, que se remexia todo e lhe mostrava a barriguinha para receber carinho, até o mais brabo zebu, que de brabo não tinha nada, ele apenas precisava de carinho e compreensão, feito que o platinado conseguiu rapidamente, apenas acariciando a cabeçorra do animal e encarando os olhinhos negros do boi gigantesco com afeto. Tal conquista fez com que Zero ganhasse a afeição de toda a vizinhança, que sempre lhe recebia com braços abertos, afagos na cabeça, sorrisos e mimos variados, desde cordões de miçangas até guloseimas açucaradas deliciosas!
Estas guloseimas, é claro, Zero nem sentia um mero grão de açúcar em seu paladar, afinal seu irmão Buda, como uma formiguinha faceira, devorava todos os doces numa velocidade tão impressionante que o mais novo nem ao menos conseguia esconder alguns nos bolsos para comer mais tarde!
Enfim, mesmo tendo diversos amigos bichos e vizinhos que lhe sorriam rechonchudos, Zero precisava fazer amizade com crianças de sua idade. Meninos ou meninas, ele não se importava, apenas queria um grupo de amigos divertidos, que nadassem no riacho no verão; que se empoleirassem de cabeça para baixo nos galhos das árvores quase sem folhas durante o outono; colheriam diversas flores multicoloridas na primavera e no inverno, ah, o inverno! O menino mal conseguia conter os pulinhos serelepes ao imaginar as travessuras invernais, que consistiam em guerras de bolas de neve, anjinhos no chão do pátio congelado e diversos bonecos de neves narigudos, com a cenoura congelada despontando dos rostinhos redondos, emperequetados com os mais diversos enfeites natalinos. O inverno era a estação do ano a qual Zero mais estava animado em descobrir as sensações. Afinal, sua terra natal era árida, de calor escaldante durante o ano inteiro, cabendo apenas a neve ficar nas ilustrações de seus livros de histórias, que seu irmão mais velho lia para o mais novo antes de dormir. Sentir a neve gelada sob seus pés, ouvir o estalar gostoso das toras de madeira se retorcendo na lareira, enquanto bebericava uma caneca fumegante de chocolate quente, com a mente a viajar, divagando ao longe, ao observar os pontinhos branco de neve que se acumulavam de pouco em pouco no beiral da janela, eram apenas alguns dos desejos que o menino conseguia enumerar em sua lista mental do que gostaria de fazer naquela estação do ano tão esperada. E, com certeza, todas aquelas novas experiências seriam muito melhor aproveitadas e divertidas na companhia de crianças amigas!
Motivado pelos bonecos de neves gigantes e guerrinhas frenéticas por entre os montinhos de neve, o pequeno estava determinado a fazer o máximo de amigos que pudesse! Todavia, ao procurar por pessoas de sua idade, Zero se frustrou ao ver apenas adultos, idosos e crianças tão pequenas que mal conseguiam andar com as próprias pernas! Será possível que não havia nenhuma criança com idade próxima a dele naquele lugar? Uma breve animação nasceu ao se recordar de seu irmão Buda citar que o matricularia na escola de ensino fundamental na semana seguinte, mas aquela breve esperança sumiu, quase como tivesse sido levada longe pelo vento, porque as aulas só começaram mês que vem e ele, Zerofuku, não queria esperar aqueles longos dias tediosos que se arrastariam pela frente, interagindo somente com os adultos e com os animais do vilarejo. Zero queria brincar com as crianças de sua idade, se meter em traquinagens que somente a infância poderia lhe proporcionar.
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A criança mais feliz do mundo
FanfictionZerofuku se considerava a criança mais feliz do mundo, porém para conseguir de fato tal alcunha, só faltava um desafio a ser cumprido: o de fazer amizades naquele vilarejo desconhecido! Será que o menino irá conseguir novos amiguinhos?