Capítulo 7

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A casa dos capitães era um dos maiores e mais belos prédios em toda Cidadela, talvez até em toda Lesteria. Era composto por um grande salão visto logo da entrada, seguido por dois outros um pouco menores, mas ainda bastante espaçosos, mais à frente, separados por longas portas ornamentadas. Era todo feito em pedra, com detalhes em mármore, prata e ouro. As paredes eram cheias de grandes pinturas representando batalhas, vitórias militares do reino ao longo dos séculos, além de uma boa dose de contos mitológicos que serviam de inspiração. Do lado esquerdo estavam a enfermaria, a biblioteca, sala de arquivos, depósito de equipamentos, uma sala de exposição e honraria aos guerreiros mais importantes da história do reino, uma sala para banho, um salão de bebidas, que em certas épocas servia como taverna e a cozinha. Pela porta direita estavam os quartos para generais e capitães que desejassem dormir ali.

Atravessou o primeiro salão e foi diretamente ao salão das bebidas. Elodin, quando estava na casa, quando não se encontrava ocupado, costumava ficar no salão bebendo e conversando. Gael considerava aquilo um desperdício de tempo, mas preferia não discutir. Ao menos era melhor que abusar do título de capitão, como faziam alguns. Ao chegar no salão, no entanto, Elodin não estava. Perguntou a alguns soldados, mas todos afirmaram não o ter visto. Foi até os guardas na porta, mas eles disseram que o capitão amigo dele não estivera ali já há algum tempo.

Elodin não tinha casa na Cidadela e não ficava por lá a menos que precisasse. Por estar sob o comando de Fallagrin, podia estar em qualquer lugar do reino. Se ninguém o vira, então ele certamente não estaria na Cidadela. Ficou decepcionado, mas não surpreso. Elodin não gostava de Cidadela nem do salão de capitães. Dizia haver uma disputa irritante entre a fama de cada capitão, atual ou passado. No fundo, ele devia se sentir frustrado de não ter nenhum feito digno de nota. As pessoas lembravam de seu pai como um herói. Mas ninguém falava sobre Elodin. E ambos haviam sido capitães na mesma guerra.

Voltou pelo extenso corredor esquerdo. Parou na porta da sala dos arquivos. Olhou para dentro e logo o viu. Elodin podia não estar na Cidadela, mas se tinha alguém naquele prédio capaz de lhe dizer onde estava, esse alguém era Gerald. Gerald era um capitão comandado pelo general Palin, o general responsável por gerir o comércio do reino e assegurar que tudo fosse feito com legitimidade, juntamente com o duque Octávio. Gael gostava de Gerald. Era um homem na casa dos quarenta anos, corpulento, com uma barba grisalha e um olho cego, com uma extensa cicatriz, uma marca da guerra que ele sempre carregaria. Desde que conhecera o homem ele já estava ligado à Palin, mas Elodin e outros mais velhos afirmavam que Gerald já fora um dos capitães favoritos de Folkas pela sua fúria e inteligência em batalha. Quando perguntado, Gerald apenas afirmava ter se cansado da matança e da violência. Poderia ter se aposentado com honras, mas não aceitou essa oferta. Não podia permitir que só os "brutos, os egoístas e os violentos permanecessem no exército".

Gael não conseguia deixar de nutrir certa desconfiança do homem. Se uma guerra fosse declarada, todo o exército seria acionado e ele, como capitão, seria obrigado a participar. Talvez não tivesse deixado totalmente de lado sua sanguinolência. Mas nada podia provar isso. O importante era que em dez anos Gerald sempre se mostrara bastante atento a tudo que acontecia e, em vez de sair por aí cobrando impostos e tributos excessivos como faziam uns capitães ele cuidava de quase toda informação que fosse registrada. Não era uma tarefa oficial para os capitães, mas com a pouca, se alguma, amizade entre o general Palin, assim como do duque, para com o rei, esse trabalho indiretamente assegurava a posição de ambos no poder.

Foi até a mesa do capitão, que estava sentado com um pergaminho, pena e tinta. Largou a pena no tinteiro quando percebeu alguém se aproximando.

-A que devo essa honra, Gael?

-Você podia ordenar para uma centena de pessoas diferentes fazer isso que está fazendo, mas sempre que passo por aqui o encontro debruçado sobre pilhas de papéis.

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