os grãos de areia se enroscavam entre os dedos dos meus pés descalços, enquanto eu avançava firmemente para o que logo seria um oceano profundo. é misterioso, frio e escuro. de quê adiantaria, enfim? aqueles murmuros apenas pareciam aumentar - eram um clamor ensurdecedor, sem fim. estavam gritando. e para quem berrariam, além de mim? eles ordenavam que eu prosseguisse. que eu andasse, e me perdesse naquele extenso mar.
meus pés, enfim molhados pela água salgada daquela praia, logo ficaram fora do meu campo de visão, apenas aquela coloração azul meio esverdeada da água. era tudo o que eu conseguia ver, acompanhado da forte ventania, como esperado no fim da tarde.
sucesso. eu preciso do sucesso.
me afundar aqui, eu tenho que me afundar aqui. os murmuros querem que eu me afunde nesta mesma água, pois ela irá curar meus pecados. eu preciso ser limpo, e ter a oportunidade de ir além. nesse mar serei curado e abençoado, poderei transcender, finalmente. e receber aquele amor, que tanto almejava por anos.
porque, por agora, sou imundo. sou sujo. um erro. uma desgraça. é isso? é dessa forma que me vê? preciso superar a todos para que seu olhar descanse na minha grandeza?
se for isso mesmo, tenha a certeza de que aqui me afogarei.
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caminho arenoso até o fundo do mar
Non-Fictione eu não sei nadar, por sinal. eu estou por conta própria. (???)