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Uma forte dor, como uma ferida feita a ferro em brasa, domina meu ombro acordando-me de um sono profundo

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Uma forte dor, como uma ferida feita a ferro em brasa, domina meu ombro acordando-me de um sono profundo. Esse lugar não me é estranho, estive aqui não muito tempo atrás, após descobrir que meus pais não são quem eu pensava.
Levo a mão até o local do incômodo e noto um enorme curativo.

- Não se mexa muito ou vai sangrar.

Essa voz... Olhando para o lado fico surpresa e temerosa ao ver quem está me acompanhando.

- A senhora?

- Sim... Não pense que meu neto não ficou com você, pelo contrário, Baran esteve segurando sua mão desde o tiro até poucas horas atrás quando o expulsei daqui.

- Como ele está? Foi ferido? Todos estão bem? E o senhor Hassan?

- Ele foi preso... Seus muitos crimes o levaram a isso... Hassan deve pagar por todo mal que fez à nossa família. Os outros estão bem, graças a você.

Será que tal cena está mesmo acontecendo ou é algum sonho delirante causado pelos medicamentos?
A Senhora Azade aqui sentada a minha cabeceira é realmente impossível de acreditar. Seu semblante está mudado, mais sereno, sem a testa franzida, o olhar acusatório e o ar esnobe. Diria que ela está tão simpática a ponto de parecer mais jovem.

- Eu quero lhe pedir perdão. Por tudo que fiz e disse. Você ajudou meu filho Kudret a se curar e salvou a vida de Baran levando um tiro quando se jogou em sua frente... Agradeço muito, permanecerei em dívida eterna por isso.

- A senhora fez mais mal aos seus netos do que a mim. É a eles que deve pedir perdão... Os dois foram criados envenenados pelo seu ódio, ensinados a querer vingança e assim, você os manteve cegos para as alegrias que a vida proporciona. De minha parte, está perdoada, mas outras pessoas também sofreram em suas mãos e merecem que se retrate...

                            ~~~

Tive tudo, quando minha mãe era viva, a família feliz e em ordem perfeita, não desejava outra coisa... Depois, isso me foi tirado e a escuridão tomou conta de meu coração que decretou jamais bater embalado por felicidade novamente.
Então ela veio, destemida, linda, paciente, impulsiva, doce, carinhosa... E, algo em mim foi mudando, se solidificando e criando raízes... Descobri que jamais tive a capacidade de amar perdida, somente ainda não havia encontrado a pessoa que me faria querer embaracar nesse sentimento perigoso outra vez.

O amor, ao contrário do que muitos pensam, não é um caminho florido em tarde ensolarada. Ele é uma força avassaladora que não segue em linha reta mas sim, atravessa montanas rochosas, mares tempestivos, desertos, geleiras, florestas escuras e espinhosas...

Escuto o tropel de cavalo se aproximando. Curiosa como minha esposa é, não poderia esperar até que a surpresa estivesse pronta, já era de imaginar.
Desde que comprei essa fazenda para morarmos, Dilan e eu temos feito longos passeios a cavalo, mas hoje, vou levá-la até um lugar que sempre fui sozinho.

Viro as rédeas e disparo em corrida, seguido por ela. Imagino seu sorriso enquanto galopa, os cabelos ao vento, o rosto corado, e a faço me seguir até o local desejado.
Existe uma pequena clareira, cortada por um riacho, onde tenho cultivado um jardim. São várias flores coloridas, mas o destaque é o canteiro maior, repleto de flores de sangue, vermelhas como nosso amor.

Dilan chega alguns minutos depois de mim, sua respiração ofegante deixa ainda mais evidente a surpresa estampada em seu rosto. Ela me olha sem entender e eu sorrio. Tenho feito tanto isso ultimamente que nem lembro mais daquela época em que deixei de sorrir.

Ela se aproxima a passos rápidos, com lágrimas nos olhos e pula em meu colo abraçando-me. Sou coberto por beijos que iniciam inocentes mas que mudam após o constante sinal de desejo que sentimos um pelo outro.

Admiro seu corpo nu sobre a relva, os cabelos entre as flores, seu perfume misturado ao da natureza, a pele iluminada pelo sol... Nada pode ser mais perfeito.
Me delicio em suas curvas mais uma vez como se fosse a primeira. Nunca tenho o bastante, Dilan é como um vício, uma necessidade... Beijo inúmeras vezes a cicatriz em seu ombro... Uma marca da maldade feita contra nós, mas que graças ao seu ato de amor, ficou no passado. Eu, que sempre estive na linha de frente, disposto a aguentar tudo por minha família, a levar balas pelos outros, fui defendido e tive a vida salva pelo escudo amoroso dessa mulher forte.
Rolo nossos corpos e a deixo sentada sobre mim. Sem timidez, seus movimentos são torturantes e me enlouquecem a ponto de fazer cravar as unhas em suas nádegas gemendo o nome dela.
Dilan sabe o poder que tem sobre mim, e o usa sem pudor na nossa intimidade, satisfazendo-me sem medidas.

                                ~~~

Seis meses depois, estou andando de um lado para o outro em frente a porta do banheiro.
Minha esposa passou mal outra vez no café da manhã e agora está trancada lá dentro a longos cincos minutos.

- Dilan, abra a porta para que eu veja que está tudo bem com meus próprios olhos ou irei derruba-la.

Suavemente ela sai e seu rosto está estranho, livido, feliz e assustado ao mesmo tempo, com os olhos desfocados. Mil cenários horríveis cruzam meu pensamento, imaginando que ela está doente.

- Me diga o que houve... Você está bem? É algo grave? Vamos até o hospital agora mesmo!

- Baran... Estou grávida...

Grávida... Grávida... Grávida... As palavras soavam em minha mente mas custei a assimilar... Dilan está grávida. Minha esposa espera um bebê. Nosso bebê. Serei pai. Pai.
Me aproximo com a visão embaçada pelas lágrimas. A mão vai a frente, ansiosa por tocar sua barriga.

- Vou explodir de felicidade... Estou sentindo tantas coisas que nem sei nomear Dilan... Muito obrigado... Por essa vida, pelo amor, por uma família... Prometo que serei um bom pai. Não deixarei nenhum mal acontecer a vocês, nunca.

- Se for menina quero dar o nome da sua mãe...

Ouvir isso me fez cair de joelhos. Abraçando o corpo de Dilan, com a testa apoiada em seu ventre...
A felicidade está sempre perto de nós, em meio as pequenas coisas, as vezes um dia normal pode esconder tantas alegrias... Mas só as veremos se estivermos com o peito aberto, o coração livre de amarguras e disposto a amar.
Sempre há esperança, mesmo onde só existem espinhos, se as flores do amor brotarem, nada impedirá essa força.

FIM

Flores de Sangue e Amor Onde histórias criam vida. Descubra agora