Antônio encarou a figura de Agatha olhando para ele e essa foi a primeira vez que ele não sentiu absolutamente nada quando olhou para ela, ela não despertava absolutamente nada nele. Talvez pena, não sabia dizer.
— A gente pode conversar? – passando por ele para entrar no quarto, Antônio segurou o braço dela.
— Aqui não, a Irene tá dormindo.
— A Irene? – riu e Antônio bufou.
— Você vai falar ou ficar me enrolando? – ele fechou a porta para abafar o som e Irene acordasse.
Dos dois, a mais bêbada era ela. Nessas questões, Antônio sempre se preocupava em saber se ela realmente conseguiria dormir ou se passaria a madrugada vomitando. Nas madrugadas que passava vomitando, ele permanecia ao lado dela já que ela se desesperava.
Com Agatha nunca teve essa preocupação, a primeira esposa não bebia, então ele apenas dava de ombros.
Sempre achou que conhecia Agatha perfeitamente bem, mas sabia que estava errado. Sabia todas as manias de Irene, as coisas que ela odiava e as que amava, sabia qual o perfume que ela amava e os que ela odiava. Sabia exatamente a ordem das cores no guarda roupa e também sabia que ela não gostava de dormir sozinha e muito menos de dormir no escuro.
Quanto a Agatha, era apenas uma mera desconhecida.
— Acho que a gente precisa esclarecer muitas coisas. – começou e Antônio assentiu. — Você deve ter entendido os motivos que eu fiz isso.
— Sinceramente? Não.
— Você me ameaçou. – ela tinha os olhos marejados e ele a mesma expressão neutra de sempre. — Como você queria que eu me sentisse segura com um homem que ameaçou a mim e ao meu filho?
— Filho? Agora o Caio é seu filho? – o tom de voz aumentou mas ele lembrou da esposa adormecida no quarto, respirou fundo. — Eu errei muito Agatha, mas eu te amava como nunca amei alguém.
— Amava? – a voz embargada denunciou o choro. — Não ama mais?
— Não sei. – ele desviou o olhar. — Sofri por anos com a sua "morte", não consegui criar o Caio da maneira que ele merecia. Tudo isso porque você decidiu morrer e voltar sem medir as consequências.
— Não consigo acreditar que você foi capaz de maltratar uma criança.
— E você foi capaz de abandonar essa criança. – estava perdendo a paciência, a única coisa que queria agora era voltar a dormir.
— EU NÃO ABANDONEI O CAIO!
— Não grita. – respondeu com raiva, puxando ela até a sala.
Irene ouviu toda a conversa, sempre acordava ao notar a ausência do marido na cama. Então ouviu absolutamente tudo atrás da porta, não raciocinava, mas sabia que a conversa iria piorar. Seguiu eles e parou no corredor da escada, dali ouviria a conversa toda e já era o suficiente. Petra já estava lá embaixo com o Luigi e ousava dizer que Caio estava junto com Graça.
Antônio e Agatha gritavam acusações e até Caio se meteu na conversa. Petra tentava controlar a situação e tirar Caio da sala, alegando que ele não merecia ouvir aquilo. Caio finalmente entendeu tudo.
Irene saiu correndo quando ouviu passos na escada. Se deitou novamente e se assustou quando Petra apareceu na sua frente.
— Mãe, o Caio tá tendo uma crise de bronquite. – a menina estava afobada e pela situação, ninguém sabia o que fazer. — O que eu faço?
Irene se levantou em segundos, a primeira crise que Caio teve, ele tinha 8 anos e desmaiou no colo dela. Irene brigava com ele pelo comportamento na mesa mas notava como a respiração estava acelerada e pesada ao mesmo tempo, Irene se desesperou e implorou para o menino tentar abrir os olhos e conversar com ela.