Capítulo 4

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Azriel me levou voando, era engraçado, por mais que ainda sentisse meu estômago revirando, era bonito ver de cima toda aquela imensidão, mas quando pousamos, eu não pude segurar o vômito. Azriel esperou me recuperar e enfim quando me senti melhor, comecei a minha emboscada, e o Encantador das Sombras ficou escondido para qualquer problema que ocorresse, me ajudasse.

Eu fiquei sentada em um tronco próximo, mas que pudesse me esconder também até que escuto a armadilha dar certo, e lá estava a figura em sua túnica escura e surrada. Ele tenta se soltar do cordão que o prende, mas percebe que eu tinha ganhado naquele momento. Ao se virar vi sua face, parecia um osso seco e a pele postergada. Senti um medo subir em meu corpo quando percebi os dentes longos em uma boca sem lábios, eu poderia dizer que ali era Voldemort, com o nariz em fendas finas e o pior de tudo, seus olhos que eram uma imensa escuridão em volta de um glóbulo completamente branco.

Apesar de estar assustada, ele parecia muito surpreso em me ver. Parecia que eu era a verdadeira assombração. Entrelaço minhas mãos e sinto meus dedos suarem, o Suriel parou no mesmo momento de tentar fugir e meio corcundo, ele até que levantou um pouco o corpo para me enxergar melhor. Ele achava que eu era Feyre.

— Não, eu não sou ela. — Vejo seus dedos magros saírem das cordas e apertar ainda mais a túnica que se vestia — Mas preciso que me diga onde está o corpo de Feyre. — Ele se manteve em silêncio, como se ainda tentasse entender.

— Tudo bem, você merece sua resposta. — Abro um sorriso nervoso, mas com expectativas — Ela está na ponta da sua marca no braço. — Sua cabeça voltou para onde ficava a minha tatuagem de Velaris. Me aproximo.

— Eu pareço tanto assim com ela, com Feyre? — Percebo que aqueles dentes sumiram e reapareceram novamente. Eu sabia que o Suriel não podia mentir para mim. Apesar de Rhysand dizer que sim, eu precisava ouvir do Suriel, de alguém que tinha o dever de me falar a verdade.

— Idêntica. — Abro um sorriso sem jeito e vou até a corda que o prendia e ele observa ajudá-lo a sair — Com a mesma semelhança de corpo, como de coração. E a alma com o mesmo parceiro. — Senti o ar falhar, parceiro? Ele observa meu rosto, mesmo solto ele não podia mentir para mim e agora isso. Antes que falasse qualquer coisa, ele se foi. Eu tinha o mesmo coração e alma de Feyre e agora estava predestinada a amar alguém que não pertencia ao meu mundo, apenas a minha imaginação.

Em choque volto a Azriel que parecia nervoso esperando respostas, eu avisei a ele que sabia onde o corpo de Feyre estava, mas me sentia vazia. Quando voltamos para a Casa do Vento, senti o ambiente mais quente e dessa vez não vomitei quando pousamos. Azriel não perguntou mais nada, apenas me deixou sozinha, segui até onde ficava o meu quarto e me deitei na cama. Por que? Por que me trazer aqui e me mostrar alguém que nunca poderia ter?

Eu sabia que nunca iria encontrar o homem dos meus sonhos na vida real, e quando aceitei namorar com Gabriel, eu nunca senti o que estava sentindo agora, mas pensava que poderia aprender a amá-lo e agora sinto por Rhys em poucos dias algo que nunca senti durante dois anos de namoro, mas apesar desta emoção me manter tão viva, eu não aceito continuar em uma ilusão, continuar aqui sabendo que tem pessoas que me viram crescer me esperando e que me amam.

Escuto batidas a porta, Posso entrar? A voz grave de Rhys soou em minha cabeça e pude sentir meu corpo esquentar em um abraço acolhedor. Ainda não tinha costume de conversar com ele pela minha mente, mas confirmo e o vejo abrir a porta. Ele parecia sério e pensativo. Estou sentada com a mesma roupa que havia visto o Suriel, ele veio em silêncio em minha direção.

— Az me disse que viu o Suriel. — Levanto-me da cadeira para explicar, para dizer que eu que insistir, mas ele continua — Não precisa justificar, sei que quer voltar. Você tem uma vida do outro lado. — Ele toca em minha mão e sinto como se as estrelas surgissem por todo o ambiente.

— Queria ter nascido aqui, queria que tudo fosse diferente, ou que apenas fosse meu livro favorito. Não queria que as coisas acabassem assim. — Ele me puxou a um abraço e sinto seus braços em minha cintura me segurar tão desesperadamente que podia também sentir meu desespero. Ele não estava abraçado a mim, ele estava abraçado a Feyre e eu a fuga da minha realidade. Éramos duas pessoas quebradas pela nossa realidade tentando encontrar a salvação no mundo do outro.

— Eu a levarei para o pico da montanha. Te levarei de volta para a sua vida. — Me afasto dele e percebo seus olhos lilás.

— Não precisa fazer isso, não precisa vê-la, desenterrá-la.

— Eu preciso encarar a minha realidade, preciso entender que a perdi, que te perdi. Que neste mundo eu perco a mulher que amo. — Mordo o lábio e sinto o gosto salgado de minhas lágrimas.

— Queria poder te levar a minha realidade, mostrar o quanto é amado Rhys. Pelo Caldeirão, como queria que soubesse o quanto é amado. — Coloco minhas mãos em seu rosto e o beijo, tentando me prender a esse único e último momento enquanto ainda estou com ele.


Continua...

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