CAPÍTULO 4.1 (EXTRA)

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O vento soprava as roupas penduradas no varal, enquanto as últimas folhas das árvores caíam vagarosamente até encontrarem o chão. Uma melodia ácida e, ao mesmo tempo, doce, podia ser ouvida por toda a vizinhança do casebre despedaçado.

Bertha fazia esforço para se manter em pé no banco de madeira que usava para recolher as roupas. No entanto, devido aos cupins que se deliciaram com a madeira do banco, um de seus apoios quebrou, fazendo com que a velhinha perdesse o equilíbrio.

Bertha sentiu a brisa ao cair, se sentiu um pouco desastrada por escorregar de forma tão engraçada.

No entanto, antes que ela tocasse o chão, um cavaleiro de armadura prateada com detalhes dourados e extremamente brilhante a segurou nos braços. Seu elmo extravagante cobria seu rosto quase completamente, a única coisa aparente era o brilho dourado que surgia de seus olhos.

Antes de falar, o cavaleiro colocou Bertha no chão com delicadeza.

- Bertha... Já disse para tomar cuidado! É a quinta vez esta semana. Vou comprar novos móveis e trazê-los para casa. - disse, preparando-se para retirar o elmo.

- Querido... Você sabe que eu já não tenho mais tantas habilidades atléticas. - disse a senhora, sorrindo de forma engraçada.

A careca branca e reluzente do cavaleiro surgiu de repente quando ele removeu seu elmo. A falta de pele também chamaria bastante atenção de qualquer um que não fosse Bertha. Joldur sabia disso. Ser um cavaleiro necessitava que ele se escondesse de outras pessoas, mas não das pessoas daquela casa.

Seus olhos emitiam um brilho dourado e, no lugar do brilho avermelhado de seu tórax, estava outro de cor semelhante ao de seus olhos.

As pessoas do reino apelidaram ele de "Cavaleiro Dourado". Um apelido nada criativo, mas funcionava para a maioria das pessoas.

- Entre, Bertha... Já é quase noite. - disse Joldur, guiando a velhinha até a porta dos fundos do casebre, que dava num bosque fechado e escuro. - As crianças estão esperando você.

- Ah... É verdade, preciso fazer a janta. - afirmou Bertha.

- Não se preocupe, eu já fiz um guisado de coelho... - ele parou antes de entrar na casa. - Pensando bem... Faz muito tempo desde que as crianças comeram guisado.

Desde que conheceu Bertha, Joldur designou a si mesmo um objetivo: proteger ela e as crianças das quais cuidava. No início, ele não tinha ideia de como conseguiria fazer isso. Ele era um esqueleto e, até onde sabia, fraco.

Maneiras engenhosas de cumprir sua "missão" surgiam aos montes em seus pensamentos. Construir um muro ao redor da casa, montar uma outra casa isolada e levá-los para lá, levá-los para o pântano de onde veio... Nada disso fazia sentido.

No entanto, ele tentou todas elas.

Na primeira, apesar de conseguir tijolos de uma obra próxima, não conseguiu montar a estrutura correta para formar uma parede firme. Depois de muitas tentativas, percebeu que ela não ficaria de pé.

Por conta dessa falha miserável, ele percebeu que construir uma casa também não era viável.

Ele tentou, porém, levar os moradores da casa para o pântano de onde veio. Basta dizer que é difícil guiar crianças curiosas. Nas muitas vezes que tentou, Joldur passava horas procurando por meninos e meninas que se perdiam na floresta, geralmente procurando animais estranhos. O gordinho era especialmente bom em se perder, apesar de seu tamanho.

Sua motivação estava quase acabando. Ele ainda gostaria de proteger Bertha, mas não conseguia convencer a si mesmo de que tinha força suficiente para fazê-lo.

A vida do Lich SolitárioOnde histórias criam vida. Descubra agora