— Por que precisa de um final? Foi só um sonho, cara — afirmou enquanto separava as roupas coloridas das claras.
— Ok, Hoseok. — Arremessou a toalha suja na cabeça do outro. — Não dá 'pra conversar com você, sempre esqueço esse detalhe.
— Sério? Às onze da noite e em pleno domingo você quer que eu fique dando corda 'pra abobrinha da sua cabeça? — ele disse, balançando a cabeça e rindo em descrença. — Não acredito nisso.
Jungkook, ao mesmo tempo em que respirava fundo e tentava levar os resmungos de seu colega de banheiro na esportiva, descarregou nele a frustração de algumas peças sujas.
— Eu teria arrastado qualquer outra pessoa, se fosse ela quem dividisse o cesto comigo e fosse a vez dela de levar a roupa 'pra lavar! VOCÊ É IRRESPONSÁVEL, e eu preciso dessas roupas em algumas horas. — E continuou: — Então, sei lá, por que não reclama menos?
— Tanto faz — murmurou o outro. — Estamos de acordo em uma coisa pelo menos, certo? Vamos usar o amaciante clássico e concentrado.
— Vamos usar o de coco e menta e em pastilhas.
Houve silêncio na lavanderia, até que o impasse começou novamente e os dois se atracaram em argumentos. Hoseok afirmava que estava cansado, pois havia começado a gostar daquele amaciante exatamente porque Jungkook se recusava a usar outro. Já Jungkook argumentava que a mudança era necessária, afinal havia lido em algum blog que roupas eram como cabelos, e cabelos precisavam sempre mudar de shampoo.
Nenhum deles estava em uma posição inteligente.
— Cara ou coroa? Falar nunca leva a gente a nada — Hoseok propôs.
— Coroa!
E foi ali que a primeira coisa realmente estranha da noite aconteceu. Hoseok jogou a moeda, sem nenhum efeito dramático de câmera lenta como em decisões importantes em filmes; apenas a ansiedade boba de dois colegas contando com a sorte. Ao cair em seu braço, ele tapou a moeda com a palma da mão e, ao mostrar, lá estava: cara.
Hoseok levou a melhor, e restava a Jungkook aceitar, afinal, não se pode alterar a sorte. No entanto, de repente, ela mudou. Jungkook viu a moeda se transformar diante de seus olhos e, inesperadamente, ele era quem havia ganhado.
— Você viu isso? — Jungkook hesitou.
— Pois é, você ganhou. Parabéns, coco e menta. Vou ter que me acostumar com vocês.
Ele não viu. Jungkook esfregou os olhos. Já era tarde, estava cansado e sonolento. Isso poderia explicar. Estava vendo coisas, pois já tinha passado do seu horário e estava preocupado com o dia seguinte. Ele faria uma entrevista para a vaga de estágio em um canal de televisão local. E se pudesse contar com um evento de sorte como aquele que tinha quase certeza que vira, ficaria mais tranquilo.
Sentou-se sobre um dos balcões, enquanto os funcionários da lavanderia passavam e preenchiam o silêncio com tosse e cochichos. Já era tarde o suficiente para que nenhuma luz além daquela que ficava sobre suas cabeças estivesse acesa.
Hoseok agora rolava os dedos por alguma rede social, que se tornara uma de suas principais fontes de renda. Eles se conheceram graças à faculdade, onde ambos cursavam jornalismo. Hoseok era um dos veteranos que havia ajudado Jungkook a encontrar um lugar para morar, já que o rapaz repudiava a ideia de repúblicas. Ficava mais barato se dividissem o banheiro, mas eles não contavam que também acabariam dividindo comida, televisão e amigos sempre que necessário.
Na internet, ele falava sobre a própria vida e dava a sua opinião sobre assuntos em alta, incluindo a vida de famosos e até mesmo pessoas próximas, tudo isso de forma jornalística e oferecendo dados e fontes, afinal, ele estudava para isso.
Já Jungkook estava mais inclinado para o lado clássico da profissão: escrevia matérias e sentia prazer em investigar e entrevistar. Não gostava da ideia de estar em frente às câmeras, mas caso fosse preciso, enfrentaria o trabalho. Até o momento, não havia feito nada com tanta notoriedade ou sequer encontrado algo — como o cara sentado à sua frente —, uma coisa que desse dinheiro e estivesse dentro da área que ele cursava.
A oportunidade que teria em algumas horas encontrou seu caminho ao acaso durante uma noite de bar com seus amigos. Começou a conversar — ainda que não soubesse — com o diretor da redação do canal local mais assistido da cidade. A conversa agradou, e quando recebeu o convite, agradeceu aos céus por ter sido sua vez de dirigir e, por isso, não ter bebido. Queria vivenciar a profissão com tanta urgência que nem ligaria de largar as roupas ali e ir pelado até a entrevista. Contudo, a pressa estragaria tudo, então tentava seguir um passo de cada vez. O próximo era pagar a lavanderia, enquanto Hoseok tirava as peças da secadora.
Como era de se esperar, Hoseok sequer encostou na máquina; acabou se distraindo com a tela do celular ao sair para fumar. Jungkook acertou o pagamento, deixaria o resto das roupas ali para pegar mais tarde naquele dia e levaria consigo apenas as peças mais importantes. Enfim, ao levar o olhar para onde seus pertences estavam, notou a segunda coisa realmente estranha naquela noite: havia um homem alto, vestindo um terno vinho e com cabelo bem arrumado, organizando suas roupas com perfeição dentro de um pequeno cesto. Ao procurar por seu amigo, o encontrou fora do estabelecimento, de costas para o que acontecia, com o rosto enfiado no celular. Sem outra alternativa, ajeitou a postura e foi ao encontro do homem que dobrava suas roupas para interferi-lo.
— Com licença, posso ajudar? Acho que você se enganou.
O homem resmungava como um cachorro, exalava um perfume confuso e mantinha o olhar fixo nas roupas.
— Desculpe, muito obrigado pela ajuda, mas você não precisa continuar.
O homem riu.
— Como puderam me invocar para um ser tão insolente? Apenas aceite a ajuda, ok? Farei por você, daqui em diante, tudo o que gostaria que ele fizesse.
— Apontou para o distraído recostado na vidraça.
Jungkook abriu a boca para dizer algo, mas o homem o calou.— Gostou do que fiz com a moeda? Não se empolgue, esse poder só serve para eventos bobos como aquele. Mudar a sorte de alguém envolve muitas coisas, então vamos com calma.
— Que merda, só deixa as coisas aí e suma! Por favor — pediu, assustado.
Não conseguiu processar as palavras do homem, nem as suas próprias, quando percebeu que ele simplesmente não estava mais lá; o desconhecido desapareceu em frente ao seu nariz, e aquilo foi suficiente para juntar suas coisas o mais rápido possível e entrar no carro. Xingou todas as gerações de Hoseok e pisou no acelerador em direção à pensão Dreamers' Den.
— Quem era esse cara? — sussurrou incrédulo para si mesmo.
Em resposta, sentiu um frio na espinha, algo brincou com o lóbulo de sua orelha e então pôde ouvir um sussurro dizendo:
— O Diabo.
betado por @serpentae / WonderfulDesigns
notas:
Oi pra você :) passando pra agradecer pela leitura e fazer alguns esclarecimentos básicos. Essa história vai ser bem tranquila, não vou me prender muito nela em questão de super produção e essas coisas, ok? Será um romance, terá cenas quentíssimas, bastante presepada e espero que eu consiga mantê-la leve para que seja uma forma de descontrair quem lê. bjbj até o próximo capítulo ❤️
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The Devil Knows You
FanfictionNas entranhas do universo, uma aposta celestial enviou Taehyung, o Diabo, para viver entre os humanos como servo de Jungkook, um jovem comum que mal imaginava as confusões que o aguardavam. Em um mundo onde o sobrenatural e o cotidiano se entrelaçar...