O dia em que Meu Sol nasceu

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A brisa gelada da manhã batendo no rosto... O céu clareando e deixando o verde das árvores mais brilhante com os primeiros raios de luz... A grama levemente confortável tocando minhas costas e pernas... Tudo está perfeito. Fecho meus olhos e apenas aprecio a natureza ao meu redor sem dizer nada.

Uma voz feminina me faz voltar à realidade. Ao me virar para o som da voz, eu me deparo com uma menina se despedindo de um grupo de amigos e vindo na minha direção. Provavelmente não é nada de mais, ela vai apenas passar reto e ir para seja lá qual for o lugar que ela tem que ir. Fecho os olhos novamente e volto a apreciar a beleza desse lugar. Poucos segundos depois ouço o barulho de seus passos na grama se aproximando ainda mais, eles pararam do meu lado e logo em seguida ouço a grama sendo amassada. Tentando não me importar muito com o som, dou uma espiada apenas para ver o que ela tinha feito. A menina estava deitada do meu lado com os olhos fechados e uma respiração profunda.

Me pergunto o que ela está fazendo e eu começo a observá-la. Por acaso eu conheço essa pessoa do meu lado? Ela é familiar de alguma forma... Talvez eu deva tentar dizer algo?

-"Você...?"

Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, ela abre seus olhos e se vira na minha direção, com um sorriso lentamente se formando em seus lábios, ela coloca seu dedo sobre eles, e fecha os olhos novamente.

Ainda um pouco confuso com a companhia inesperada, eu faço o que ela me pediu e não tento falar mais nada. Volto a fechar meus olhos e me preparo para relaxar com o ambiente, mas agora alguma coisa estava diferente. Antes, era como se a natureza do lugar estivesse apenas existindo vagamente sem nenhuma razão. Agora aquele lugar inteiro estava completamente diferente, era uma sensação nova que eu nunca tinha sentido antes. Precisei me sentar e abrir os olhos tentando entender o que estava acontecendo. E então eu vi.

Tudo ganhou um novo tom de cores com a presença dela. Os raios de sol iluminavam seu cabelo só para mostrar o quanto ela brilhava mais que ele. O verde da grama só existe para deixar suas roupas mais bonitas. O canto dos pássaros e o farfalhar das árvores se calaram todos para apreciar a beleza dessa mulher nesse lugar. Meu mundo nunca mais seria o mesmo depois de vê-la.

Senti uma vontade insana de tocá-la para ter certeza de que tudo aquilo era real, mas me contive. Era como se o menor dos movimentos pudesse quebrar aquela perfeição em um piscar de olhos.

Estava tão perdido nos meus pensamentos que nem percebi quando ela abriu seus olhos e começou a me olhar. O que me trouxe de volta foi o som da sua risada ao perceber minha expressão. É um som tão maravilhoso que não importa como eu pudesse tentar descrevê-lo, seria apenas um insulto.

-"É melhor você fechar a boca... Duvido que queira experimentar o gosto de um mosquito." – Ela diz ainda sorrindo.

Eu estava completamente inclinado na direção dela como se ela tivesse sua própria gravidade me puxando para perto. Arrumo minha postura e fico torcendo para que ela não tenha notado. O que é quase impossível.

Devo ter respondido algo muito inteligente,  do tipo "uhng", pois o som maravilhoso da sua risada voltou a preencher o ar. Logo seguida por sua voz angelical.

-"Você não tem jeito mesmo né? Hoje não é a primeira vez que te vejo sentado aqui olhando o sol nascer. Não sei como consegue andar depois de passar tanto tempo todo torto aqui. Nesse pouco tempo minhas costas já estão doendo... Se importaria se eu deitasse de novo?"

Cada frase era dita lentamente, deixando o som da sua voz dançar pelo ar até desaparecer. Não tinha como eu nem pensar em responder em voz alta, com medo de ouvir qualquer outra coisa que não seja a voz dessa pessoa. Tudo que pude responder foi um aceno com a cabeça.

-"Aqui é um lugar maravilhoso... Tão relaxante que sinto vontade de dormir o dia inteiro..."

Depois disso, ela não disse mais nada e simplesmente ficou ali, deitada do meu lado com as mãos atrás da cabeça, de vez em quando parando para tirar uma mecha do cabelo que voava em seu rosto.

Não sei quanto tempo se passou até que eu conseguisse parar de olhar para ela e me deitar novamente. O sol já está claramente visível agora. Apesar de o dia ficar cada vez mais claro devido ao sol, minha visão parecia ficar mais escura, até que escureceu por inteira.

Um calor e luz insuportáveis me fazem abrir os olhos, o sol agora está no centro do céu e percebo que dormi. Começo a me levantar meio confuso, até que me lembro do que aconteceu e fico de pé no mesmo instante. Olho para todos os lados e percebo que estou sozinho. Uma onda de tristeza me acerta na hora e volto a me sentar na grama, colocando a cabeça entre os joelhos. Uma voz no fundo da minha cabeça me diz que aquilo deve ter sido apenas um sonho.

Depois de um tempo sentado, o sol volta a queimar minha nuca e percebo que preciso ir para casa. Me levanto novamente com uma certeza na cabeça.

Eu nunca vou me esquecer desse dia.

Nem daquela mulher.

O dia em que Meu Sol nasceuOnde histórias criam vida. Descubra agora