𝐀𝐖𝐀𝐊𝐄 • neteyam x aonung

Say

Neteyam estava sentado no quarto à margem da água, dedicado a desfazer os nós das redes de pesca. Enquanto a mente vagava em pensamentos e lembranças dos últimos dias, mal percebeu a presença do homem que caminhava em sua direção, e só tomou consciência quando este se sentou ao seu lado.

"Precisamos conversar." Jake falou em tom sério. Neteyam se sobressaltou por um segundo, e mesmo que relutante sobre a conversa, ele assentiu em concordância.

"Como você está?" Jake não considerava uma tarefa difícil manter um diálogo simples com o filho mais velho.

"Estou bem..." Neteyam respondeu casualmente, como se a aproximação repentina do pai não o desconcertasse. Manteve a atenção nos nós que desfazia. "...quer dizer, sempre pode ser pior, não é?" Ele lançou um olhar breve para o genitor, com um riso sem graça no rosto.

"Isso é verdade."

Jake respondeu e permaneceu em silêncio por alguns minutos, observando atentamente as feições do primogênito, que parecia cada vez mais desconfortável ao seu lado. Eram raros os momentos em que ele parava para refletir sobre sua relação com o filho, ou sobre como este se sentia. Mal tinha tempo para pensar em sua família desde que deixaram a floresta, tornando-se guerreiro em outra tribo.

Percebeu que estava tão focado em proteger os garotos que talvez estivesse negligenciando a felicidade deles, e ficou preocupado, pensando na razão por trás dos problemas que Neteyam vinha se envolvendo.

"Eu realmente quero saber se você tá gostando desse lugar, e se tem algum problema acontecendo que seria bom que eu soubesse pra te ajudar." As palavras atraíram a atenção de Neteyam, que elevou o olhar a ele, percebendo o nervosismo no tom de sua voz. "É como se tudo ainda fosse meio novo pra você, não é?"

"Eu tô levando numa boa..." Respondeu simplista. Por mais que se sentisse tentado a se abrir, as últimas atitudes negativas de Jake foram determinantes para que ele permanecesse fechado. Mas vendo a expressão de expectativa no rosto dele, complementou. "...digo, eu sinto saudades de casa, lá é melhor, mas eu não tenho problemas com nada e nem com ninguém específico aqui."

Não era essa a resposta que Jake esperava ouvir. Ao perceber a relutância do mais novo, ele se culpou pela distância que havia criado entre eles. Notar suas semelhanças físicas nas feições do filho fez ele se lembrar de como era quando tinha vinte anos, alguém inconsequente, um pouco rebelde, cheio de dúvidas, e certezas, e então percebeu como aquela conversa seria valiosa.

"Tem certeza que não tem algo contra alguém específico?" Jake cruzou os braços, e suspirou, para se corrigir em sequência. "Ou algo a favor sobre alguém específico."

Neteyam desviou rapidamente o olhar ao ser confrontado, sabendo exatamente sobre o que estava sendo sugerindo. Àquela altura dos acontecimentos, qualquer suspeita de seus familiares e amigos haviam se tornado próximo de certeza quanto à amizade ambígua que nutria com o herdeiro do clã. Nos últimos dias, pode constatar que os rumores circulavam ferozmente pela aldeia graças aos olhares aficionados e coxinhos que percebia em qualquer lugar e hora do dia.

"Eu..." Neteyam coçou o couro cabeludo, nervoso, mirando seus pés na água. "Você quer saber se é verdade que eu e...?" Inseguro, evitou olhar.

"Não." Neteyam elevou o olhar, surpreso. "Eu só quero que você saiba que eu não estou aqui pra te julgar, tudo que eu tinha que te ensinar sobre certo e errado sobre a vida eu já ensinei, e você sempre foi um bom garoto." Jake sorriu leve, e afagou com a mão as tranças do filho. "Eu sei que tô tão nervoso e preocupado que fui um imbecil nos últimos dias, mas não é esse tipo de pai que eu quero ser, por isso tô aqui."