o ciclo de origem

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"A média de idade a qual humanos têm filhos é em torno dos 30 anos de idade, e a partir desse ponto é onde surge um falso começo, porque apesar de que a criança tenha sido agraciada com a possibilidade de ter um começo nessa história qual chamamos de universo, verdadeiramente, a criança não começou sua jornada quando nasceu, ela é apenas um reaproveitamento de átomos."

"Mas a questão é que a vida não tem sentido se você se deixar levar apenas pela razão, quem declara o'que existe ou não, é você. Tudo só tem relevância no universo diante que esteja em sua memória, antes disso, é como se não existisse, não te afetasse. Então,  a partir do momento que você nasce, o universo existe, e quando você morre, nada nunca existiu. "

"E por isso, atualmente eu não tenho vontade alguma de me esforçar, me importar ou gostar."

Enquanto Pedro passava pela rua rotineira,  ele parou, quebrando um pouco seu ciclo monótono, por algum motivo, desta vez ele olhou fixamente por alguns minutos para o sol se pondo, se lembrou de seus momentos de êxtase enquanto estudava desesperadamente em busca de sucesso. Tal brilho sumiu com o decorrer de seu amadurecimento, mesmo que ele negasse inicialmente, progressivamente desistiu de viver, e passou a sobreviver.

Hoje, Pedro se demitiu, pelo simples motivo, de que achava muito "trabalhoso seu trabalho", e foi exatamente esse o motivo dito por ele ao seu chefe, o fato de não se importar com mais nada, fez com que nem sequer sentisse receio de demitir-se, mas no fundo, algo aconteceu quando ele olhou para o pôr do sol, talvez sentiu preocupação por não ter dinheiro para pagar despesas ou alimentação… não, isso é muito indiferente, o'que ele pensou quando olhou para o sol foi

"No fim, eu não vou conseguir ler nem uma página dessa história imensa".

Finalmente em casa, Pedro prepara a melhor refeição possível, ele se entala de comida. Ansioso e empanturrado, vomita em seu banheiro, ao se recompor e olhar pela janela de seu quarto, estava perceptível no céu algo parecido com uma camada se rompendo, e com isso, surgindo um grande estrondo que ruge aos céus. Cambaleante com um terremoto forte repentino, ele tenta alcançar seu telefone e as chaves de seu carro. Ecoa dos céus, sons de risadas medonhas, debochados e maléficas, Pedro sente cada parte de seu corpo arrepiar enquanto abre a porta de sua casa desesperado, suas mãos trêmulas, eram quase incapazes de acertar o buraco da trinca, mas com esforço ele destranca a porta, ao sair de casa, ele corre até o carro enquanto tenta se equilibrar, mas antes de entrar no carro, ouve um som de algo perfurando o ar, e em questão de milésimos de segundos uma criatura despenca no carro, a queda foi potente o suficiente para deixar o carro inutilizável.

'Sua pele tinha uma cor morta, como sangue depois de coagulado, o cheiro, indescritível, nada se comparava com o cheiro, se perguntassem qual o cheiro de 1000 cadáveres apodrecidos queimando, seria a primeira atrocidade que eu me recordaria, o ser tinha 2 olhos como eu, mas eu sabia, que de humano, ele não tinha nada, quando a poeira baixou, eu vi ele por completo, grande, magro, alto, garras grandes, chifres… e um sorriso mortal. Dentre todos os seres vivos vistos na humanidade, aquele foi o primeiro que parecia mais morto que uma pedra.'

Pedro começa a ficar esbaforido enquanto sua garganta fecha, enraizado no chão ele se esforça para caminhar recuando, o monstro coça sua cabeça enquanto olha bem em volta, ele começa a cheirar, e vira na direção de Pedro acompanhando algum odor, quando ela olha para ele, a criatura começa a lamber em volta da própria boca, devorando-o com os olhos, Pedro respira fundo enquanto soa frio, e grita

—So-s-socorro! *Ssghh fsss, ssghh fsss!*(respira intensamente)

Sua voz começa a afinar enquanto grita usando todas suas forças, não só pedidos de ajuda, quanto meros gritos de desespero, enquanto isso a criatura começa a rir abobadamente enquanto se aproxima. Acelerando ela pisa fundo no chão, o rachando e dando uma investida que alcança Pedro, e o agarra, a força de sua palma era o suficiente para machucar a costela dele, junto da força, as garras da criatura perfuram as frestas da costela de Pedro.

"Cacete, alguém me ajuda, eu não quero morrer porra!"

—Aah-Aaaahh! Socorro Deus! Alguém me ajuda-Aaaahggh!

Sangue espirra de sua boca, fazendo com que ele se engasgue com o próprio sangue. Quando ele percebe que não tem salvação, para de se debater.

'Naquela noite, eu percebi o quão hipócrita eu fui, mesmo depois de tanto dizer e acreditar que não me importava com a vida, eu acabei implorando por ela? Por acaso foi aquela quebra de rotina que durou minutos, admirando o pôr do sol, que mudou tudo em minha vida? Eu queria viver?'

'E foi assim que minha visão começou a marear, e lentamente a força em minhas pálpebras sumiu, enquanto eu sentia a baforada do monstro, eu ouvi um som cortando o ar, e logo em seguida, senti um líquido jorrando em minha cara, com minha pouca visão, vi um grande guerreiro medieval, robusto, com uma armadura pesada e bem grande, balançando sua espada longa de duas mãos contra o pescoço da criatura.'

*Slaash!*

O grande guerreiro que parece ter vindo de outra época, mata a criatura com certa facilidade, porém Pedro desmaia antes que pudesse sequer agradecer. Com o decorrer do tempo, recobra a consciência, e vê o guerreiro sentado e atento.

'Me sentia fraco no momento, primeira coisa que fiz foi olhar ao redor, identifiquei que estávamos em um quintal de alguma casa, porém bem destroçada, tentei falar com o homem de imediato'

Pedro D.—Senhor, obrigado…

Guerreiro desconhecido—Você acordou!Pode me dizer o que está acontecendo? E você está bem?!

'O guerreiro era jovem e ansioso, mas parecia gentil e assustado, e principalmente, deslocado, é como…

Se ele estivesse totalmente perdido'

De todos os argumentos sobre a própria existência, há algo que Pedro esqueceu de incrementar, que se praticamente tudo que existe ou não, só depende de sua capacidade e vontade, o que o fez determinar que ele não pode ler a história toda?

O ciclo de origem foi quebrado.

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