Cap 10 | Em frente e sempre

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ᴀʟɪᴄᴇ's ᴘᴏɪɴᴛ ᴏғ ᴠɪᴇᴡ 🏁

Depois que a qualificação acabou gravamos mais algumas tomadas e começamos a guardar nossas coisas, passei pelos boxes da Ferrari e vi Leclerc sair do carro, ele jogou seu capacete para o outro lado do espaço e saiu andando, nem Arthur, seu irmão, conseguiu fazê-lo parar, todos olharam meio torto para a situação e eu senti que tinha alguma coisa errada. Deixei minha equipe por um momento e comecei a procurá-lo. Eu não sabia o que estava sentido, uma preocupação vinha crescendo dentro do meu peito e eu não entendia o porquê. 

Andando mais afastado das pessoas consegui ouvir um barulho incomum de caixas e ferro caindo no chão, entrei no beco estreito e atravessei para o outro lado, Leclerc estava pálido sentado no chão, tremendo

— Charles? — Tentei chamar sua atenção mas ele não reagiu, olhava pra lugar nenhum com as mãos nos ouvidos. 

Me sentei ao seu lado imediatamente tentando acalma-lo, tentando fazer ele respirar comigo. A cada tentativa de respirar devagar era um soluço que ele soltava. 

Aquela sensação, eu conhecia bem.

Aquela sensação de sentir que o mundo poderia acabar, você só quer que aquela dor no seu peito pare, suas mãos ficam dormentes, era como se você sentisse o controle escapar por elas. O desespero, a vontade de gritar. 

Meus pensamentos voltaram para quando meu pai foi embora, abandonando eu e a minha mãe. Em uma lugar aonde não podíamos pagar, dormimos nas ruas por dias até algum familiar ceder a casa, uma das piores fases da minha vida, eu experimentei o medo, a solidão, o abandono e descaso; uma criança, eu era apenas uma criança negligenciada. 

— Você vai ficar bem, Charles, por favor respira, fica comigo, se concentra. — Foi com aquelas palavras saindo com dificuldade que notei o nó na garganta. 

Me sentei ao seu lado acariciando seu ombro, eu ficaria aqui o quanto ele precisasse, ele estava tão vulnerável, segurei sua mão dando leves apertos esperando que ele sentisse que alguém estava com ele, ele voltou a si aos poucos, foi se acalmando e respirando com mais facilidade. 

— Porque está chorando? — Ele perguntou ainda com dificuldade. Sequei as lágrimas rápido. 

— Não, não é nada. Você está melhor? 

— Estou, obrigada... Não queria que tivesse visto isso. 

— Charles, todos nós passamos por momentos de dificuldade, não se preocupe com isso nem se sinta culpado, estou aqui pra te ajudar. — Ele sorriu com as minhas palavras. 

— Podemos ficar aqui mais um pouco?

— Claro, o tempo que precisar. 

Ficamos sentados um ao lado do outro em silêncio. Vez ou outra ele respirava fundo. Ainda estávamos de mãos dadas, ele segurava minha mão com cuidado, seu toque era macio. Depois de dez minutos assim ele finalmente fez menção de levantar, mas ainda não soltou minha mão, me ajudando a levantar. 

— Obrigada por isso, Alice, estou me sentindo bem melhor, obrigada pelo seu apoio, nem sei como te agradecer... 

— Leclerc, somos amigos, não somos? Não precisa agradecer, amigos fazem isso uns pelos outros. 

Ele abaixou a cabeça estampando um sorriso sincero. 

— Você tem razão. Mas, agora, temos um passeio pra fazer, Não é?

— Ah, é... Olha, se não quiser voltar, podemos deixar isso pra outro dia, você não precisa... 

— Hey, hey, eu quero fazer isso. 

Assenti, seu rosto estava tão próximo do meu que senti sua respiração, senti um calafrio na espinha, Charles abaixou o olhar para nossas mãos, ainda estavam juntas. 

— Vem, vamos! — Ele começou a andar, voltando pelo mesmo caminho que fiz.

Entramos nos corredores para o box da Ferrari dando algumas corridas espaçadas, ele só soltou minha mão quando entramos, algumas pessoas olharam para nós curiosas mas Leclerc não pareceu se importar, ele me puxou para mais perto do carro, automaticamente me abaixei para ver o espaço do motorista, Charles começou a me explicar tudo sobre os painéis e componentes, ele estava animado e falava gesticulando e apontando

Do carro fomos para as telas de controle, ele me mostrou a mesa e o rádio de comunicação, senti alguém se aproximar, fui a primeira a virar. Arthur vinha com as mãos no bolso até nós. 

— Charles. — Foi tudo que ele disse. Ele abraçou seu irmão, falaram alguma coisa um pro outro que eu não entendi. 

— Arthur, essa é a Alice, prometi que traria ela para conhecer os boxes hoje. — Ele colocou a mão no meu ombro. 

— Alice, é um prazer conhecer você. — Ele parecia sincero. 

— O prazer é meu. Como está na Fórmula 2?

— Bem disputado eu admito. — Ele gargalhou, Leclerc assistia àquilo em silêncio. — Mas esse ano estou com um pouco mais de sorte. 

Conversamos mais um pouco, depois de alguns minutos com ele e Leclerc me explicando mais algumas coisas. Depois de todas as partes vistas Arthur anunciou sua saída. 

— Te vejo em casa Charles. — Ele se despediu do irmão com um aperto de mão. Leclerc assentiu. 

Olhei para fora, o sol já estava indo embora. Demorei um pouco pra raciocinar. Olhei para o relógio desesperada. 

— O que foi? — Charles perguntou preocupado. 

— A van, eles estão indo embora agora! Ai meu Deus, minha carona!

Peguei minha bolsa que havia deixado no chão em um canto e corri para fora, Leclerc vinha atrás de mim, ele tomou a frente me guiando até a saída do circuito. Avistei Angelo e Rafael na catraca. Apertei mais a corrida, assim que cheguei mais perto pude finalmente descansar, ainda estavam carregando a van. 

— Olha, essa foi quase. — Leclerc começou, apoiando as mãos nos joelhos. 

— Você é um atleta, não pode ficar cansado! — Empurrei ele com o ombro. 

— Você tem razão, vou me recuperar. — Ele mudou sua pose colocando as mãos na cintura. Rimos juntos. 

— Obrigada Charles, eu amei. 

Ele não precisava dizer nada, já estávamos nos entendendo assim. A van já estava carregada, me despedi dele e atravessei a catraca, quando entrei na van Dievo me lançou um olhar suspeito. 

— Onde você estava? — Rafael começou, virando para o banco aonde eu estava sentada atrás dele. 

— Eu... estava fotografando e encontrei Lando, perdemos a hora conversando. 

Toda vez que eu falava do piloto ou ele me via com Norris fazia uma cara estranha, não sei qual o drama daquela história mas também não queria descobrir. 

Ele se virou calado, colocando os fones de ouvido. Descansei durante todo o caminho. 

Cheguei já adiantando meu material de trabalho e minhas matérias; meus pensamentos em Charles. Ver ele daquele jeito hoje me despertou uma coisa diferente, ele era forte mas ninguém sabe o que acontece por trás dos bastidores, não sei quantas vezes ele teve que suportar isso sozinho, mas não vai mais acontecer. 

Eu não vou deixar. 

Beyond The Finish Line | Charles LeclercOnde histórias criam vida. Descubra agora