Matteo
Uma das minhas maiores qualidades é saber agir em um momento de crise. Sempre fui um exemplo de alguém centrado, frio e racional.
Quando tudo começou a pipocar, eu fiquei inerte, é verdade, completamente desnorteado diante de tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo: a mulher que amo viva e baleada, meu filho doente por ter sido envenenado aos poucos pela mulher que se dizia mãe, a organização entrando em colapso. Somente quando meu irmão me ligou querendo que eu levasse Rebeca para casa é que minha racionalidade voltou.
Eu precisava pensar calmamente.
Saí do quarto, busquei todas as possibilidades para sair daquela, até porque a merda era nossa, Rebeca só trouxe à tona. Dotado de calma e com algumas soluções viáveis já permeando minha cabeça, liguei para meu irmão de volta para que ele me deixasse a par de tudo que estava acontecendo de um ponto de vista jurídico, e o que ele concordou comigo e com papai foi que o melhor a se fazer era permanecer em silêncio até ter alguma coisa concreta, uma acusação formal. Nós sequer deveríamos falar o que descobrimos sobre Andrea. O que menos precisávamos agora era uma ruptura interna diante dessa loucura, e delações em troca de redução de pena era o que mais aparece num caso desse. Qualquer coisa que falássemos agora só pioraria.
― Nos falamos, meu irmão. Só traz essa piranha sem falta amanhã para ela aprender que mexeu com o grupo errado ― disse no fim da conversa. ― Já mandei dois homens nossos no avião para te ajudar com o que precisar. — Não era porque ele não confiava em mim, mas eu tinha um bebê e isso poderia me tirar a atenção.
O que ele não esperava era minha traição.
Aluguei um carro, fiz uma ligação e ainda cobrei favores de quem me devia. Nunca tive segredos com o meu irmão, como tampouco contei tudo que eu fiz ou deixei de fazer quando não havia motivos plausíveis para contar. Meu irmão tinha suas putas que ele patrocinava em troca de favores... eu tinha pessoas que metiam os pés pelas mãos na organização e eu protegia ou mesmo escondia suas falhas. E eles me deviam.
Minha maior preocupação era meu filho. Eu o amava mais que tudo e sabia que meus pais também, mas ele era filho de uma persona no grata na família e isso poderia levá-lo a uma condição de exclusão, e a ideia de vê-lo marginalizado não era algo que eu toleraria em qualquer hipótese.
E se algo acontecesse a mim? E se eu fosse preso ou até assassinado, o que aconteceria ao meu filho? Por isso eu preferi enviá-lo com Rebeca, principalmente depois de vê-la fazer o que fez pelo filho, de contemplá-lo juntos, do quanto ele a aceitou tão fácil.
Saímos do hospital consciente que era uma questão de tempo curto me descobrirem fugindo. Meus homens ainda me obedeceram quando os impedi de ir até a ala de internação. Eles precisavam ficar na recepção do hospital me esperando.
Agora era correr, fugir. Fugir de duas famílias da máfia italiana era uma loucura sem precedentes.
Eu precisava tentar. Eu precisava acreditar que se Rebeca levou anos para ser descoberta, o que dirá com minha ajuda.
Apreensão foi o que eu senti quando chegamos à divisa da Itália com a Suíça. Eu percebi que era tarde, que já estavam me procurando.
A polícia não me prenderia porque ainda não havia ordem de prisão, tudo estava num processo investigativo. Eu só tinha ciência que assim que Lucca percebesse que eu estava ajudando Rebeca a fugir, ele recorreria à famosa lista de procurados, uma que ele e outros do nosso meio emitia quando caçava alguém. E essa lista era de conhecimento de muita gente que por uma grana alta denunciava.
E eu percebi que o policial que nos autorizou passar pela fronteira nos reconheceu. Agora era questão de horas: eu precisava chegar ao banco em Berna antes de Lucca.
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Completamente, Seu (Livro 2 - Traídos)
Literatura FemininaRebeca Monteiro foi pega pelo seu maior inimigo. E agora grávida e sozinha ela precisava salvar sua própria vida e a do seu bebê ainda em seu ventre nem que precisasse vender sua alma. Matteo, preso em suas promessas, se vê sendo consumido pela culp...