09. Back Again

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Park Seonghwa, Busan - Domingo, 11:18

Foi difícil abrir os olhos pela manhã, minhas pálpebras nunca pareceram tão pesadas, mais difícil ainda foi rolar pela cama e sentir ela fria e vazia. Não sei porque esperei pelo contrário. De forma otimista tentei captar qualquer som diferente ou olhar pelo quarto atrás de um sinal de vida além da minha, e de novo foi uma tarefa falha.

Não posso culpá-lo, claramente éramos só algum rolo, na verdade sei nem dizer porque estou tão decepcionado assim, nem tão próximo somos para poder ao menos crer que temos algum tipo de amizade, é apenas Park Seonghwa o estudante de artes cênicas e Kim Hongjoong o líder e guitarrista de uma banda indie. Nada além... É o que eu deveria acreditar.

Depois de tanto encarar o teto pensando, me levanto sentindo o chão gelado na sola dos meus pés, preciso de um chá e algo bem doce pra afastar minhas confusões internas. Andando quase caindo pelos cantos por conta do sono, sinto então pisar em algo diferente no chão frio. Olho para baixo vendo o pequeno e fino objeto preto e triangular. Sorri, eu sorri muito maior do que eu deveria.

Uma palheta.

Me abaixei e peguei o objeto levando tempo demais para analisá-lo. Era óbvio a quem isto pertence, como foi óbvio prever que minha mente se perderia novamente em imagens suas, seja os encontros no mercadinho, as mensagens idiotas, os flertes descarados e finalmente a intensa noite que tivemos. Tão óbvio que eu apenas tive duas reações, a primeira foi guardar o objeto em minha bolsa como desculpa que algum dia teria que devolvê-lo e a segunda foi pensar que até podíamos só ser Park Seonghwa, o estudante de artes cênicas e Kim Hongjoong, o líder e guitarrista de uma banda indie, mas mesmo com nada ele acabou virando um grande tudo dentro de mim.

Com uma mistura de tristeza e euforia. Foi assim que estava quando percebi a nova paixão.

O resto do dia não poderia ser pior ao constatar em gostar de alguém que nem próxima de mim deve se considerar, ele ao menos me acha relevante? Esparramado no sofá pensando onde fui me meter, com direito a chocolate, pensamentos que beiram de breguices que nunca irão acontecer e xingamentos ao meu coração que nunca foi mole e de repente decide ser com a pessoa errada. E eu quero muito acreditar que seria só esse domingo de dúvidas, mas eu sei que não será.

[...]


Kim Hongjoong, Busan - Quinta-feira, 16:40

- Hongjoong, papel vem de árvore, sabia? Você sabe o que é desmatamento? - Foi o que Yunho disse ao entrar na sala de ensaio, combinamos de começar os ensaio às 18:00, mas decidi chegar antes dos meninos pois minha mente pensa bem melhor aqui.

- Engraçado, e você sabe que falta mais de uma hora para o ensaio ainda? Por que está aqui? - Perguntei tirando o olhar do caderno vendo ele se abaixar para juntar os papeís que deixei pelo chão da sala.

- Queria treinar uma parte que estou com dificuldade... Você veio compor? - perguntou quando abriu um dos papéis amassados, que provavelmente assim como as outras folhas devia ter só umas frases aleatórias e rabiscos frustrados. - E não está conseguindo, devo supor.

- Como adivinhou? pelas folhas de caderno que amassei e joguei no chão?

- Foi pela sua cara irritada mesmo, te ouvi bufando lá de fora - ele riu e se sentou no sofá mais para o canto da sala - Aconteceu algo? Você não costuma se irritar tanto assim com isso.

- Nada, só acho que perdi o jeito - deixo o pequeno que antes estava em minhas mãos cair em algum lugar.

- Perdeu o jeito eu não sei, mas que aconteceu alguma coisa definitivamente aconteceu. O que é isso aqui? - O olho sem entender, ele lia alguma das folhas amassadas - Sem inventivos a beber, nada de insinuações a sexo, não está xingando ninguém e nem se lamentando pela vida miserável... Esse é um Hongjoong que eu não esperava que estaria vivo para ver - um riso debochado saí de seus lábios - E para ser sincero, isso aqui está até meio romântico... Posso fazer uma pergunta?

- Eu dizer não vai impedir de você fazê-la?

- Foi com Seonghwa que você saiu mais cedo do pub? - Pelo seu rosto convencido era óbvio que ele já sabia a resposta, ele só queria me fazer falar.

- Onde você quer chegar, Yunho? - cortei, definitivamente sem paciência para gracinhas.

- Você é transparente como água, Hongie - ele se segurava para não ir - Vamos juntar os pontos, sim? Você achou um moreno bonito que dominou todos seus desejos, quiz uma transa porque por algum motivo você acha que isso é o motor de todas as suas composições, não conseguiu de primeira mas seguiu persistente, algo bem estranho vindo de você e agora que finalmente conseguiu não consegue escrever mesmo assim e aposto que Seonghwa não some de seus pensamentos, que a qualquer momento que ele te chamar você vai ir correndo até ele como um cachorrinho adestrado. Estou certo?

Segurei muito para não deixar meu queixo cair no chão. Yunho sempre foi de falar na cara mesmo, mas isso já não é demais? Não passa de um bloqueio criativo, Seonghwa não tem nada a ver com isso! E cachorrinho adestrado? Apenas nos tornamos próximos nesses dias, o considero meu amigo, termos transado não diminui isso e bobo eu não sou de negar mais uma noite com ele. Yunho está louco!

- Morderam sua língua? - De novo o sorriso debochado, a sorte dele é que ele é o dobro do meu tamanho.

- Estou incrédulo com tanta besteira, apenas - digo e ele revira os olhos.

- Besteira? Não diga que não avisei mais tarde, sabemos que algo em você está crescendo e não é euforia por uma simples amizade

- Você não ia treinar? Vai logo antes que eu bata com a guitarra na tua cabeça - me irrito e ele se levanta entendendo o recado

- Só espero que você não machuque outra pessoa de novo e se machuque de quebra com esse orgulho todo, não tem problema gostar dele, vou adorar tocar músicas românticas!

- Yunho!!

- Okay, não está aqui quem falou... - ele desiste e começa a procurar por partituras na mochila.

Sem chances de estar apaixonado por um cara que não cometeu um único erro em toda sua vida e exala perfeição em todos os seus gestos e palavras, usa perfume caro e delicioso, tem uma risada contagiante e mãos finas, o cabelo sempre arrumado de forma elegante e uma vasta coleção de bonequinhos de filme de ficção científica.

Não... Sem chances!


Park Seonghwa, Busan - Quinta-feira, 23:42

Nunca estive tão certo em falar que não seria apenas de sentimentos conturbados, minha mente varia o tempo todo entre "Mande uma mensagem" "Siga em frente, ele nem se importou" "E se for dar uma surra nele só para descontar nossas dores?" e entre tudo isso existe uma melancolia que só aumenta todo dia que piso naquela faculdade e tenho que lidar com San e Wooyoung sendo o casal mais grudento e fofo existente, maldito Seonghwa do passado que ajudou esses dois a se reconciliaram!

A situação de agora é completamente humilhante. Quase 00:00 de uma quinta feira, sentado do lado de fora da conveniência que ele trabalha depois de me certificar entre nossas conversas que hoje realmente não é um dia que ele tem expediente aqui. Na mesa de plástico estava um pacote de balas de ursinhos coloridos e o fatídico energético de blueberry que fui atrás tão desesperadamente no dia que tudo isso começou. A lata já estava vazia assim como o pacote com as balas, apenas estava olhando um ponto aleatório da rua sem de fato saber o que eu estava vendo já que a mente voava entre pensamentos supérfluos que tentavam mascarar a vontade de imaginar seu rosto decorado de um sorriso idiota que ele exibia por aí.

Minha mente acordou quando ouvi o barulho que reconheci como o de uma cadeira sendo arrastada e quando dei por mim eu estava completamente delirando, era claramente Hongjoong se sentando no outro lado da mesa enquanto dava um gole na cerveja mais barata que tinha na loja, colocou outra lata do energético em minha frente sob a mesa e voltou o olhar para rua.

Pronto, além de apaixonado estou maluco.

- Vi que tinha acabado o seu energético. Comprei outro.

Arregalei os olhos quando em alto e bom som ouvi sua voz. É ele mesmo, eu não estou louco.

Blueberry Beer Kiss - SeongJoongOnde histórias criam vida. Descubra agora