Capítulo 1: Contos de Fada

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O mundo para de rodar, e eu olho em volta completamente perdida.

A tela do computador dá lugar a árvores frondosas, juntas e com folhas alaranjadas. O chão se transformou em uma cama de folhas avermelhadas e em uma terra macia. Meu quarto sumiu de vista e quando olho para o que estou vestindo, quase solto um grito, minhas calças de pijama se transformaram em um vestido vermelho desbotado, com um corpete preto, botas confortáveis e uma capa vermelha que cobre meu cabelo e vai até meus pés.

— Mas que mer...

Escuto barulho de vozes. Antes que tenha tempo de pensar em fazer alguma coisa, cavalos com homens em armaduras de metal surgem e me rodeiam.

— Quem és?

— Tens permissão de estar aqui?

— O que fazes sozinha?

Tantas perguntas de uma vez, me deixam ainda mais confusa.

— Estou perdida. — Digo por fim. — Podem me ajudar?

Os homens me prendem em um círculo malfeito.

— Para onde queres ir?

— Eu... Eu não sei.

— Se quiseres sair, terás que descobrir para onde queres ir. Só vós conseguis isso.

Então, assim como surgiram, eles desaparecem.

Fico sozinha no meio das árvores. Respiro fundo e olho em volta. Ficar parada esperando alguém vir me ajudar não vai funcionar. Escolho um dos caminhos e começo a andar.

Caminho por um longo tempo até avistar um casebre, feito de madeira escura. Um caminho de pedras coloridas surge magicamente na frente dos meus pés e terminam na porta grande da cabana.

Reviro meus olhos. Com certeza alguém batizou meu café quando eu não estava olhando. Assim que chego na porta, bato com força.

— Pode entrar. — Fala uma voz esganiçada, quase como se estivesse gemendo de dor.

Contra todos os conselhos que eu já recebi na vida, entro na casa. Uma lareira meio morta me recebe, com uma movimentação no quarto.

— Estou aqui, querida. — Chama novamente a mesma voz, mas dessa vez está mais limpa, mais convidativa.

Pego um dos atiçadores de brasas do lado do fogo. Pelo peso, deve ser de ferro. Posso até estar vestida de Chapeuzinho Vermelho, mas não seria devorada por um lobo.

Entro no quarto com o atiçador escondido atrás do corpo. Assim que olho para cama, tenho que piscar algumas vezes para realmente ter certeza de que estou vendo aquilo.

Uma mulher com o cabelo tão preto quanto asfalto, com ele indo até sua cintura, parece ter a mesma idade que eu. Seu rosto pardo é pintado com a tinta tão escura quanto o cabelo. No meio da testa, uma tatuagem de uma meia-lua e alguns losangos e linhas ornam embaixo dos olhos, bochechas e até o queixo. Mas as imagens desenhadas não param por aí.

A única peça que ela usa é um vestido simples, preto, tão longo quanto o meu. Ele é de alças, o que faz com que os traços pretos desenhados em seu corpo possam ser vistos até as pontas dos dedos.

Ela abre um sorriso assustador quando me aproximo, mostrando dentes brancos e tão afiados que parecem ter sido apontados.

— Estava esperando por você. — Ela abre os braços, e eu franzo a testa.

Essa senhora não espera mesmo que eu a abrace, né?

— Onde eu estou? — Digo, tirando o atiçador de trás das costas, deixando visível que eu não confio nela.

Ela abaixa os braços, revirando os olhos, como se minha pergunta a aborrecesse.

— Em Märchen, obviamente. O feitiço funcionou e te trouxe para cá.

O jeito que a palavra soou, parecia muito algum país da Europa.

— Eu fui sequestrada e me trouxeram para a Alemanha? — Pergunto, entendendo menos ainda do que está acontecendo.

Em um momento eu estava olhando para frente do computador, tentando desesperadamente conseguir inspiração para entregar meus textos dentro do prazo, agora estou aqui, vestida como se estivesse indo numa festa à fantasia falando com uma desconhecida.

— O que é Alemanha? — Ela bate na testa. — É a terra daqueles dois irmãos imprestáveis, não é? Depois que eles vieram para cá, tudo se tornou uma enorme bagunça. Mas não com você aqui. As coisas finalmente vão voltar ao normal. Venha Satrina, temos trabalho a fazer e o mundo não vai se destruir sozinho.

Histórias Incompletas (DEGUSTAÇÃO) Onde histórias criam vida. Descubra agora