Especial Silver
Shadow negou com a cabeça do outro lado do vidro que nos separava, duvidando de mim com todas as suas forças. A pedrinha que segurava entre o indicador e o polegar ardia em chamas pelo aperto forte, mas não me fazia ceder por nada.
- Até parece, Silver - zombou ele, os olhos repletos de dúvida. - Isso não existe, é impossível. É só uma pedra comum, ela não vai te fazer voltar no tempo.
- Vai, sim! - gritei em resposta, os dentes cerrados de raiva. Inconformado, elevei a esmeralda minúscula até que ficasse visível ao garoto, que não parecia convencido com tão pouco. - Você vai ver: eu vou voltar no tempo, mudar tudo isso e tornar as coisas plenas e boas, como deveriam ser.
Seu olhar continuava preso ao meu, sem demonstrar nada além de desconfiança e nem um pouco de crença no poder do objeto em minhas mãos.
- Então me prova.
Ser desafiado foi a gota d'água para mim e, usufruindo do poder da pedra, um clarão de luz branca cegou-nos. Apesar disso, fui capaz de ver a expressão horrorizada de Shadow antes de tudo desaparecer em meio à claridade.
Meu corpo sentiu como se estivesse sendo deslocado de lugar, cada célula se desmanchando e voltando em um piscar de olhos para um lugar completamente diferente, um tempo completamente diferente.
Agora, já não me encontrava mais com um macacão laranja e nem na cadeia, e sim na casa de Amy Rose, com a tão temida faca em mãos. Vê-la me causou a nostalgia que não desejava, tremendo pelas lembranças vívidas do que fui capaz de fazer em um passado que, neste momento, poderia mudar por completo.
Destemido a fazê-lo, devolvi cuidadosamente a faca em seu devido lugar. Eu sei que deveria dar meia-volta e sair daquela casa de uma vez, pondo um fim no destino cruel que dei a todos, mas algo dentro de mim me fez caminhar até o local onde a voz de Sonic ecoava, cantando uma melodia de uma música animada que não reconhecia.
Perambulando por ali, assisti-o arrumar os lençóis da cama, ajeitar os pertences das gavetas e retirar o pó de algumas action figures que estavam espalhadas por seu quartinho azul.
Porém, eu sabia que corria um risco gigantesco ficando ali, portanto, virei as costas e segui rumo à porta, esbarrando sem querer em uma mesinha pelo caminho e derrubando um lindo vaso transparente de flores coloridas, que se espatifou no chão com um som alto. A cantoria de Sonic cessou imediatamente, e pude ouvir seus passos se aproximando. Desespero me dominou naquele instante, e a única coisa que pude fazer foi correr porta afora, sendo engolido pela escuridão da noite e desaparecendo da vista de qualquer um que pudesse me incriminar.
𖤜
Já era tarde da noite do dia seguinte e, ainda que estivesse parecendo extremamente ocupado, com os olhos vidrados no computador ligado à minha frente, eu estava em outro planeta. Minha mente divagava, pensando em Sonic, Shadow e o passado que agora não existe mais. Eu fiquei tanto tempo nesse frenesi que, quando me apercebi, a delegacia estava quase vazia, exceto por alguns policiais do turno da noite chegando.
Vê-los ali foi o suficiente para me fazer levantar, desligar o aparelho e seguir na direção da saída. Mas algo, alguém, não me deixou sair.
Um ouriço azul, sentado no banco de espera, estava sendo meramente ignorado por todos, um olhar triste predominando seu rosto. Mais uma vez, eu poderia ignorar também, seguir meu caminho para casa e dormir, mas não era aquilo que meu coração (muito menos meus pés) queria. Quando menos esperava, já estava diante do menino, que levantou seus olhinhos em minha direção e arfou de surpresa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Os Mil e Um Você (Volume 1)
FanfictionEm um oportuno momento, Shadow encontra um ouriço desesperado, exalando mistério do início ao fim. Nada do que fazia ou dizia parecia se encaixar, e as coisas ficavam mais estranhas à medida que se conheciam de forma mais profunda. Shadow queria aju...