— Nem te digo, quase um mês, já!Catalina quase engasga com a bebida, assustando María e Julio.
— Com aquele humano que você me falou? Tá podendo.
Julio foi o primeiro a saber, tudo por causa do dia em que Martín apareceu com cheiro de perfume humano no trabalho. Ele subornou Daniel com dinheiro para saber por onde Martín andava, depois subiu para avaliar o homem. Luciano passou na avaliação de Julio, um demônio que vive brisado.
— Isso não dá problema? Dizem que aquela súcubo da G-55, a Katila, quase foi pra cadeia por envolvimento com humanos. Passou um ano lá em cima e achou que poderia voltar como se nada tivesse acontecido.
Um silêncio flutua sobre eles quando María diz isso. As leis raramente são respeitadas no Inferno, e isso se aplica nas prisões; se for pego cometendo algum crime e conseguir pagar algum favor ou propina para os superiores, tudo bem. Mas há pouco o que fazer se seu crime não envolve comércio ou se o criminoso está liso.
Quando estava com o outro humano, Martín não passava muito tempo sem dar satisfação para o sistema, justamente por isso. Se passar muito tempo lá em cima, pode chamar atenção de anjos e caçadores. O único jeito de não ser pego é nunca mais voltar para o Inferno, se tornando quase humano, apenas podendo mudar de forma e sentindo a presença de criaturas.
— Mas isso nunca acontece, uma vez um cão infernal arrastou um exorcista aqui pra baixo, eles devolveram o exorcista e o maluco ainda está pela cidade, acho que ele mora na Ira — Martín diz, lembrando do conhecido.
— Esse dia foi louco, eu dei um jeito de me enfiar no escritório dos Olheiros — Olheiros são os os anjos menores que caíram, e adquiriram posições melhores, como em policiamento, investigação e justiça — Aquele exorcista tentou chamar até a mãe dele enquanto pensavam no que fazer, e o Feli ficou na focinheira e nas algemas para não ir assustá-lo.
A história de Catalina foi recebida com risadas naquela mesa em um estabelecimento qualquer do Anel da Gula, rodeada pelos quatro comemorando o feriado.
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— Tenta ouvir o Frajola miando!
Martín, com metade do cabelo penteado, presta mais atenção nos sons do telefone e ri do miado fraco.
— Luciano, qualquer dia desses, eu vou sequestrar seu gato — Diz, em tom de brincadeira, enquanto volta a pentear o cabelo para o lado, roçando o pente nos chifres.
— Você vai devolver ele em menos de vinte e quatro horas, Tincho.
Martín ouve o som de portas se abrindo e fechando pelo outro lado da linha, mas nem questiona o que está acontecendo antes da ligação cair.
Depois de cada noite de trabalho, ele pegava o outro cartão e ia vagabundear em forma humana pela cidade, procurando lugares interessantes. Depois, farejava o ar e voava até a janela de Luciano, apenas para observá-lo durante o sono, indo embora apenas quando quase caía da janela.
Ele descobriu o cinema humano, que é bem diferente do do Inferno. O plano é encontrar o homem na entrada do prédio e ir até lá, pegando a sessão da noite. Por sorte, nunca foi questionado do lugar onde mora, apesar de que Luciano não é burro, como percebeu na primeira vez que saíram juntos.
Martín termina de arrumar o cabelo, balançando a pequena mecha que se ergue, ou, como diz Luciano, sua “antena”, na frente do espelho. Pega o celular e coloca dinheiro mundano e seu cartão de elevador na capinha antes de colocá-lo entre o quadril e a tanga, próximo da chave extra presa na pele
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Incumbido
FanfictionEm um reino moderno e muito distante,o Inferno, um íncubo precisa trabalhar e pagar suas contas com um trabalho que exige qualidades duvidosas e instintos fortes Catalina, colega súcubo de Martín, é conformada e totalmente feliz com sua vida de atr...