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Josh

Amar é uma jornada. Leve um mapa.
— Sabina

Josh desistiu de tentar se afastar dela.

Em parte, porque seu autocontrole não passava de um fio débil e em parte porque Any não era alguém que valorizasse distância emocional ou espaço pessoal. Era como o filhote que resgataram: afetiva, ingênua e grudenta.

Ele voltou a trabalhar e, pelos próximos dias, ficou imerso em seu mundo ficcional e personagens. Estes ocupavam-lhe a mente de tal forma que o mundo real se desfez. Josh não tinha sombra de dúvidas de que aquele era seu melhor livro até o momento. Ele estava prestes a concluir algo que ficaria feliz em mostrar ao mundo.

O sol brilhava através das janelas do escritório, tocando as árvores cobertas de neve com gotas prateadas ofuscantes, como se alguém tivesse decorado o parque especialmente para as festas.

Nas ruas, as pessoas se apressavam para terminar as compras de Natal. Josh não reparou em nada disso.

Escreveu e reescreveu, editou impiedosamente o texto, estreitou a história, aprofundou os personagens, poliu a prosa. A noite fundiu-se ao dia e Josh trabalhou por períodos tão longos de tempo que, de vez em quando, ao levantar o olhar, via que estava escuro e que perdera quase todas as horas de claridade.

Se não fosse por Any, teria morrido de fome ou desidratação, mas, em intervalos regulares, ela aparecia a seu lado carregando iguarias nutritivas que praticamente dispensavam-no de tirar as mãos do teclado.

Miniquiches de massa amanteigada crocante recheadas de lascas de cogumelos exóticos ao alho, crostini de pimentão assado com queijo de cabra, levíssimas mousses de salmão defumado e queijo cremoso. Cada pedaço era uma festa de sabores e texturas feitos para serem comidos de uma única bocada, sem comprometer o gosto ou a qualidade.

Provando da comida de Any, Josh não teve problemas em compreender como a Gênio Urbano cresceu tão rápido. Any tinha a percepção exata de que comida servir para cada ocasião, fosse para um casamento chique ou para um escritor sem tempo de tirar os olhos do manuscrito.

Fora nesses momentos em que lhe trazia comida e bebida, ela tomava cuidado para não incomodá-lo, ainda que, de tempos em tempos, Josh a escutasse conversar ao telefone com Sabina e Sina ou cantar na cozinha enquanto cozinhava.

Os dois sempre jantavam juntos, mas, em seguida, Josh quase sempre trabalhava noite adentro. Foi durante uma dessas madrugadas de trabalho que ouviu os gritos de Any. Com o coração acelerado, pulou da cadeira ainda mais sobressaltado porque estava revisando uma cena assustadora.

Josh abriu a porta do quarto. A luz de leitura estava acesa e ele viu Any de cabelo desarrumado e olhos arregalados sentada na cama.

— Any? O que houve? — Olhou ao redor do quarto esperando ver assaltantes mascarados, mas tudo o que viu foi Any tremendo. — O que aconteceu?

Por um instante Any não respondeu e só então puxou a coberta até o queixo.

— Você poderia acender a luz?

— A luz está acesa.

— A luz principal, eu quero dizer. Eu quero mais luz. — Any batia os dentes. Josh acendeu todas as luzes e foi até a cama.

— O que aconteceu?

Ela estava pálida e tremia:

— Sonho ruim.

— Você teve um pesadelo? — Josh se sentou na cama ao lado de Any e puxou-a para seu abraço. — Sobre o quê?

— Eu estava na cozinha fazendo comida para um monte de gente e... Pensando bem, não quero falar sobre.

Milagre Na 5° Avenida - Beauany Onde histórias criam vida. Descubra agora