As luzes das casas de uma pequena cidade começam a se apagar. Os pais colocam seus filhos em suas camas e lhe entregam beijos de boa noite. Poucos sabem do poder de um beijo na testa de uma criança antes dela adormecer. É um gesto amor puro e genuíno que afugenta o mal daquelas pequeninas almas. Quando a criança dorme, ela está segura em seu mundo e está protegida de um certa criatura que vaga pela floresta.
Durante o dia, ela se disfarça de mulher. Usa uma pele de gente falsa que esconde a sua bestialidade horripilante. Tem vezes que se disfarça de uma velha simpática e tem vezes que se disfarça de uma moça bonita. Raramente, ataca alguém. Apenas observa atenta e sorrateiramente sua presa enquanto estas brincam e pulam em meio a vila. Depois do pôr-do-sol, a Cuca, como chamam esse tipo de besta, larga sua pele de gente e vaga noite adentro procurando por crianças perdidas para consumir sua carne.
Por que a Cuca se dedica a tal atividade tão cruel? Será apenas fome? O sabor da carne? Isso lhe dava algum benefício? Se perguntar ela, ela dirá:
"A Cuca não segue regra nenhuma. Ela faz o que lhe dá na telha. Ela gosta fazer o contrário do que se espera"
Dizem que as Cucas são criaturas que não sentem amor e nunca serão amadas. Se todos amam algo, elas odeiam mais do que tudo. Crianças são as coisas mais amadas pelos seus pais e famílias, por isso elas as odeiam.
Com a lua cheia em seu apogeu, a criatura solitária trajada com um manto escuro feito de pano encardido que cobria sua pele verde e escamosa vagava pelos telhados das casas procurando uma presa. Contudo, as oportunidades eram escassas. Esta Cuca jovem e novata nunca sentiu o gosto de uma criança, mas sonhava acordada com o dia em que finalmente poderia comer uma.
"Que gosto será que tem? Seria parecido com o de galinha?"
Ficava com água em sua boca infestante de dentes afiados só de pensar.
Para surpresa da mulher-monstro, escuta-se um barulho vindo não da cidade, mas da mata próxima. Saltou bem alto e abriu o longo manto que vestia, que se transformou magicamente em asas de mariposa que lhe permitiram planar e sobre o vento. Ao aterrissar em uma árvore, ela reconheceu o barulho e encontrou a fonte. Era um choro, um choro de um bebê largado em uma cesta velha feita de palha.
A Cuca esbugalhou os seus olhos amarelos crocodilos. Passou anos esperando por uma oportunidade para capturar sua criança e agora havia uma bem na sua frente, sem qualquer um homem ou mulher para ficar no seu caminho. Foi como se alguém tivesse lhe dado um presente depois dos anos de espera para saciar sua gula. Ela sorriu de orelha a orelha enquanto salivava faminta e rapidamente pegou a criança e correu o mais rápido possível para sua casa escondida no interior de uma gruta.
Imediatamente, a criatura feiticeira pegou seu livro de receitas, aqueceu o seu fogão velho e pegou a maior das suas panelas para preparar o melhor dos ensopados. Em seguida, ela pegou todos os legumes e temperos e começou a fatiar um por um com muita ansiedade e empolgação. Fez tudo isso enquanto sonhava com o ensopado de menina que estava preparando. Mais do que isso, ela sonhava com ser finalmente reconhecida como uma Cuca de verdade, assim como as outras Cucas. Finalmente seria respeitada e temida e seus dias de decepção e solidão finalmente acabaria
Falando na pequena, esta parou de chorar quando sentiu o calor fresco e aconchegante da gruta. Ela levantou de sua cesta e olhou curiosa para o seu redor, sem entender nada do que estava acontecendo. Ela viu um pequeno vaga-lume que pousou um instante em seu narizinho e deu o mais inocente dos sorrisos e expondo sua boquinha banguela. O vaga-lume voou e a bebezinha tentou capturá-lo com suas mãozinhas gordinhas. Desajeitadamente ela saiu da cesta e foi engatinhando em cima da mesa da cozinha atrás do pequeno inseto. No entanto, a pequenina era totalmente destrambelhada. Cada passo que ela dava, ela empurrava algo ao chão. Primeiro foi um repolho, depois uma frigideira e depois uma caixa cheia de ovos frescos que foram totalmente desperdiçados. Enquanto isso, a Cuca distraída com seu ensopado nem sequer notou o caos que estava acontecendo pelas suas costas.
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Nana Neném
Short StoryA Cuca gosta de comer crianças. Ela é um ser maligno que não segue regra nenhuma. Ela faz o que lhe dá na telha. Ela gosta de fazer o contrário do que se espera. Dizem que as cucas nunca são amadas e nunca irão amar. Será verdade? Ou será apenas len...