CAPÍTULO - 32

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É madrugada ou talvez a manhã já esteja se aproximando. Me levanto assustado. Não consigo me lembrar corretamente do que vi no pesadelo, diferentes lembranças e imagens confusas do último ano passaram rápidas pelo meu inconsciente.

Ao meu lado, haviam mais três pessoas, dois caçadores já experientes e Nicolas. A cúpula da barraca de cor acizentada está me causando um tipo de pressão. Preciso sair.

Puxando o zíper do abrigo, saio para pegar um ar. A noite não estava tão fria, os ondas calmas vinham e voltavam. Senti um sútil gosto de sal na minha boca.

" Só quero que tudo isso acabe " - Falei baixinho, respirando fundo. Andei até o mar.

O horizonte imenso de um intenso-azul trouxe paz por um momento, mas o cenário voltou a ficar pesado após eu notar que lá atrás, saindo da rampa da aeronave, saía Leona. Ela estava vindo até mim.

Achei que assim que ela estivesse próxima, logo faria uma pergunta. Mas me surpreendi, Leona apenas fechou os olhos e inspirou profundamente.

- Seus médicos ainda não acharam a  cura para o Medullam Cedri ? - continuei olhando para o mar.

- Ele é uma mutação um tanto curiosa, todo e qualquer avanço que temos é rapidamente descartado, pois ele sempre tem uma carta na manga.

- Realmente, um tanto curioso.

A capitã passou a esticar os braços e se alongar.

- Mas enquanto tivermos cobais, poderemos investir mais e mais em pesquisas e um dia.... - inspirou mais uma vez -, acharemos a cura e compartilharemos com todos.

- De fato, uma bela teoria - Respondi, sorriso falso. Meus olhos continuam apertando devido às lentes.

- Entendo sua falta de fé, mas faço aquilo que precisa ser feito. Você não entenderia, nasceu e cresceu como um selvagem. Está no seu sangue desconfiar do menor ruído.

" Cuidado onde pisa " - lembrei da voz da mamãe.

- Quando vi seu pai sendo levado para a mesa de cirurgia - ela passou a adentrar em um tema desconfortável -. Confesso que senti um grande temor, mas ele era tão teimoso que até a morte quiz enfrentar - ela me olhou.

- Talvez ele tenha preferido essa escolha do que trair os seus - Rebati.

- ELE, falou muito bem. Nesse ponto, você não o seguiu, afinal estamos juntos aqui Léo - as palavras dela me atingiram como uma flecha, ela estava certa. Mas meu coração passou os últimos meses extremamente confuso e tive que tomar muitas decisões rápidas para sobreviver. Uma delas foi essa. Sei que não estou totalmente certo.

- Nossa missão aqui vai ser rápida, você... - apontou para mim com o indicador - vai ser uma peça chave nisso tudo.

- Eu só quero que toda essa confusão tenha um fim, já cansei de viver fugindo de um lugar para o outro - Falei, talvez minha voz tenha deixado escapar alguma emoção.

- Eu já senti isso.

Fiquei surpreso com aquela declaração, mas ansioso para que ela falasse mais.

- Já? - questionei sincero.

- Não nasci no império Léo, já fui como vocês. Mas nunca fui feliz, nunca tive amigos ou parentes por muito tempo e só o seu pai me fez.... - ela se interrompeu.

Havia algo intalado em sua garganta, eu preciso fazê-la colocar para fora.

- Agora sou eu que peço que não fique de rodeios - falei encarando-a, firme.

Ela me olhou, sua face branca estava meio distorcida, tentei piscar na intenção que as imagens se reorganizassem, mas nada adiantou.

- Seu pai foi o único que me fez sentir o que era um lugar seguro - as palavras saíram de sua boca e me causaram um desconforto. Parte de mim estava desejando que aquilo não passasse de um mentira e outra parte, queria entender como tudo tinha acontecido.

TEMPORADA DE CAÇA Onde histórias criam vida. Descubra agora