Fecho meu olhos com força. Eu estava ferrada, mortinha e enterrada. Vejo o carro de papai estacionado assim que chego ao bloco dos dormitórios, não havia mais escapatória. Sinto meu coração acelerar com a expectativa - nada boa - do que poderia me acontecer nos próximos minutos. Caminho lentamente até a entrada, prolongado o máximo possível meu percurso.
— Não sabia que sua cama estava no lado de fora, Anelise.
A voz dura e firme me deu calafrios. Tento pensar na melhor desculpa, mas eu sabia que seria em vão. Ele já sabia mesmo.
— Fui a uma festa, mas não foi nada demais.
— Nada demais? — Ele ri. — O que você acha que aconteceria se alguém soubesse que está num lugar assim? Já sabia que isso aconteceria no momento em que me disse que queria viver num lugar assim. Seu desejo era de soltar as asas e me envergonhar na primeira oportunidade, não?
— Claro que não...
— Vai se mudar de volta pra casa.
— Mas pai! Eu não fiz nada, ninguém lá sabe quem sou ou de quem sou filha. Não seja tolo.
— Tolo?
— Sim. Não precisa de tanto alarde por isso, eu só quero viver uma vida normal.
— A partir de amanhã. — Ele aponta seu dedo em minha direção. — Vai voltar a viver comigo. Só vira para as aulas e voltará para casa. Se não se comportar, terá que estudar de casa.
— De casa?
— Tenho dinheiro o suficiente para isso, não me provoque. — Seus olhos se desviam de mim. — Arrume suas coisas, de manhã venho te buscar.
Com isso, papai me da as costas. Sinto como se meu peito estivesse entrando em combustão, a raiva se instalando por todo o corpo. Eu queria gritar, espernear e manda-lo aos quintos. Suspiro, acho que nunca serei capaz disso. De me ver livre e fazer algo por que quero. Subo as escadas com pesar, sentindo as lágrimas escorrerem por minhas bochechas.
Encontro Ana no caminho, segurando um pijama em suas mãos. Creio que minha cara de desolada tenha lhe dado alguma noção de que a coisa estava feia. Caminho até ela quase me arrastando, deixando que meus sentimentos escorressem para fora de mim. Ana me abraça, quase me esmagando.
— Quem eu tenho que matar.
Sorrio em meio as lágrimas. — Eu tenho tanto para te contar.
Ana me segue para dentro do quarto, me olhando com os olhos preocupados enquanto eu me jogava de forma nada delicada na cama. Respiro fundo, pensando por onde começar. Apenas a lembrança de Daniel me fazia querer arrancar a cabeça de alguém, contudo, eu precisava desabafar.
— Daniel me traiu, decidi fazer uma surpresa para o idiota e ele estava na cama com uma loira linda.
— Puts. — Ela se senta ao meu lado. — Que filho da puta, como ele pôde fazer isto? Se quiser bater nele me chama, Lise.
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Because Of You
RomantizmE se a única noite em que você pudesse se perder em desejos e luxúrias, acabasse sendo o fim de toda sua liberdade? E, se o homem que te tirou de órbita e a levou a sentir coisas deliciosas, de um dia para o outro se tornar seu segurança pessoal? A...