Onde anda você?

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E por falar em saudade, onde anda você?

Sugawara ouviu uma voz grave soar em seus ouvidos, logo após o saxofonista fazer sua bela introdução. Seus instintos o fizeram virar na direção do cantor de forma imediata, perguntava-se o porquê daquela voz parecer-lhe tão familiar. A intenção do platinado era apenas curtir a sua noite de sexta, após um longo dia de trabalho, mas ao que tudo indicava, não era isso que seu coração permitiria.

Onde anda os seus olhos, que a gente não vê.

Onde anda esse corpo? Que me deixa morto de tanto prazer.

Os olhares dos dois se encontraram neste exato momento naquele bar, mesmo com a pouca luz do ambiente. Sugawara Koushi estava encantado com o homem à poucas mesas à sua frente, bem no centro do palco (caso a personalidade do platinado fosse um pouco mais iludida, facilmente diria que aquela canção foi escolhida para si). O rapaz possuía os cabelos castanhos escuros e curtos, sua pele era parda e os ombros ficavam bem marcados em seu terno preto, a camisa social branca com apenas um botão aberto e os sapatos tão impecáveis quanto ele.

E por falar em beleza, onde anda a canção?

Que se ouvia na noite dos bares de então.

Koushi tinha a absoluta certeza que aquela canção havia sido escolhida para si, não era possível. Caso o moreno, que tão bem conhecia, tinha a intenção de lhe atingir, que ele soubesse, então, que estava conseguindo. Sugawara não conseguia tirar os olhos do rapaz, não importava o quanto tentasse, mas parte da culpa era do homem que estava no palco, cantando, o olhando, o querendo.

Onde a gente ficava, onde a gente se amava em total solidão.

O platinado recordou-se de quando se conheceram alguns anos atrás, Sugawara no terceiro ano da faculdade de Pedagogia e o rapaz, calouro em Direito. Mesmo eles tendo a mesma idade, Koushi ingressou na universidade primeiro, então acabaram não passando tanto tempo juntos e seus caminhos se distanciaram.

Hoje eu saio na noite vazia, numa boemia, sem razão de ser

Da rotina dos bares, que apesar dos pesares, me trazem você

O homem que estava no palco, tratava-se de Sawamura Daichi, a verdadeira (e possivelmente, única) paixão de Sugawara Koushi. O moreno olhava intencionalmente para o platinado, afim de que ele entendesse a súplica que seu ser transmitia, a mesma angústia de quando Sugawara se formou e a mesma dor de tê-lo deixado partir sem dizer o que sentia por medo de o magoar.

E por falar em paixão, em razão de viver
Você bem que podia me aparecer

Sawamura respirou fundo após o último verso cantado, indicando que a música estava chegando ao fim e olhou para Sugawara uma última vez antes de encerrar.

Nesses mesmos lugares, na noite, nos bares...
Onde anda você?

Aplausos puderam ser escutados, o moreno fazia uma pequena reverência ao público, em sinal de agradecimento. Sugawara não se movia, apenas o encarava, sentado, estava abismado com tudo aquilo e sequer sabia o que fazer. Deveria se levantar? Ir falar com ele? Ignorar todos aqueles sinais? Sawamura falava com a plateia que o recebera calorosamente, mas o platinado não conseguia prestar atenção, ele estava completamente perdido em seus próprios pensamentos.

E por falar em saudadeOnde histórias criam vida. Descubra agora