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Quando inicializou o ensino médio, em poucas semanas Kira entrou para a lista dos mais habilidosos, com um vasto conhecimento que ultrapassara os limites do currículo escolar.
Antes da U.A, sua educação fora cuidadosamente orquestrada em casa, com tutores particulares mais do que especializados. Matemática, história, ciências, linguagens e todo o restante, ensinados a ela com a mesma seriedade com que Ikari, seu avô, um dia a preparou para o campo de batalha.
Por essa razão, o que a maioria das pessoas a sua volta considerava um desafio complexo, a platinada via como algo trivial, uma mera brincadeira.
Para muitos a escola é uma etapa verdadeiramente necessária, coisa essa que Kira estava começando a ver como totalmente obsoleto. Ela pensa com certa frequência que teria sido melhor continuar com os tutores particulares, em sua casa.
E sentada na sala de aula, rabiscando em seu caderno algumas figuras geométricas, a platinada ignorava as longas e tediosas explicações da professora. A sala estaria silenciosa se não fosse pelo som do pincel arrastando sobre a lousa e o burburinho de outros alunos tentando acompanhar o conteúdo.
Kira olhou para o lado, onde Chase estava sentado com as pernas sobre a mesa, ele tinha um sorriso de canto de boca enfeitando sua face, enquanto segurava o riso. Era mais do que óbvio para ele que Kira estava apenas cumprindo hora.
—— Se divertindo, Kira? —, Chase sussurrou, mal conseguindo se segurar. —— Consigo dizer pela expressão no seu rosto que 'tá completamente entediada.
—— Isso tudo é tão fácil, Chase. Eu poderia resolver todas essas questões antes mesmo da professora terminar de falar —, ela sussurrou de volta para que apenas ele pudesse ouvir, divertida.
O moreno riu baixo, não tendo como argumentar.
A professora parou de anotar e olhou para a classe, seus olhos caindo sobre Kira, completamente desinteressada, novamente envolvida em seus próprios rabiscos. Yumeko sabia o quanto ela tinha uma mente afiada, então decidiu chamá-la para resolver um dos problemas da lousa, achando que poderia, de alguma maneira, envolvê-la mais na aula.
—— Kira, querida, —, a professora disse calmamente. —— poderia vir até a lousa para resolver uma dessas equações, por favor?
Kira ergueu os olhos do caderno e levantou-se sem pressa para ir em direção a lousa. Ela pegou o pincel e começou a escrever a resolução sem pensar muito a respeito. Suas mãos se moviam rapidamente, quase que por instinto, os números e os símbolos se encaixando.
Quando terminou, a platinada olhou por cima do ombro para a professora. —— Acabou. Posso sair por um momento? Preciso ir ao banheiro, mas prometo que volto para a aula.
Yumeko ficou parada por um momento, olhando para a resposta perfeita na lousa. Quando abriu a boca para responder, Kira já havia se virando para sair da sala, sem esperar uma confirmação.
—— Claro, Kira —, a mulher finalmente disse, tendo aprendido a não contestar a garota a muito tempo. —— Só não demore muito, certo.
Kira saiu da sala com a mesma indiferença com que entrou. A classe ficou em silêncio por um instante, alguns alunos ainda surpresos com a rapidez com que ela resolvera o problema.
Quando anoiteceu e ela voltou para sua cobertura, o silêncio era absoluto, como de costume. A platinada correu para o quarto e vestiu um conjunto de moletons simples antes de calçar seus sapatos, saindo em direção a um parque que ficava em um bairro próximo.
Ela caminhou tranquilamente sobre o concreto desgastado, sem rumo algum, até encontrar um banco qualquer para se sentar. A lua brilhava no céu, refletindo sua imagem perfeita em seus olhos rubros.
O vento noturno tocava sua pele descoberta, e Kira fechara os olhos por um momento, permitindo que a brisa levasse suas preocupações.
Katsuki, por outro lado, caminhava com passos firmes pelo chão do lugar, ali era como o seu refúgio quando precisava esfriar a cabeça. A dor depois de um treino intenso, a pressão das provas, o peso das expectativas como um futuro herói, tudo isso se dissipava quando estava ali, longe das multidões e do barulho.
O problema é que, naquele dia, alguém que não deveria estar ali perturbava a calmaria do seu espaço. Por isso, assim que ele a viu, a figura feminina familiar, casual e despreocupada, de quem o derrotara no festival, sentiu todo o seu corpo imediatamente enrijecer.
A garota estava sentada em um dos bancos, sem aparentemente notar, ou se importar, com a presença dele. Katsuki mal conseguia controlar a raiva que começou a borbulhar em todo o seu ser. Kira havia sido sua oponente final no Festival, uma competidora que aparecera do nada e o derrotara sem sequer usar sua individualidade.
Até aquele dia, Katsuki nem sabia que ela existia.
O loiro respirou fundo, forçando-se a manter a calma. Sou mais maduro agora, pensou consigo mesmo, tentando conter o impulso de simplesmente se aproximar e despejar nela todos os xingamentos que conhecia, como teria feito um ano atrás. Perder o controle a essa altura do campeonato só o faria parecer infantil.
Enquanto perdia tempo observando-a de longe, Kira virou a cabeça em direção a ele e seus olhos se encontraram. Por um breve instante, ele pensou que ela o ignoraria, mas ela sorriu, aquele mesmo sorriso levemente provocador que direcionou a ele antes.
As palavras saíram antes que ele pudesse perceber. — Não esperava ver você aqui.
— Bakugou —, ela falou seu sobrenome como se fosse a palavra mais deliciosa do mundo. — Eu que não esperava encontrá-lo essa noite.
Ele cruzou os braços, o maxilar trincado. Kira riu de sua reação, um som leve, quase como se estivesse se divertindo com a raiva que emanava dele, e isso apenas piorou as coisas.
—— O que foi, ainda preso ao Festival de Esportes?
A provocação o atingiu em cheio, e o loiro sentiu as palavras começarem a sair sem nenhum controle. —— Seu rabo, vá se foder.
Kira inclinou a cabeça com uma expressão de falsa surpresa. —— Que linguajar mais infeliz —, e rapidamente sorriu de novo, ainda aquele mesmo maldito sorriso. —— Sabe, apenas pessoas que não sabem se expressar de maneira inteligente recorrem a uma substituição tão grosseira no vocabulário.
—— Foda-se.
—— Com você? —, provocou, sem vergonha.
Katsuki a observou com os olhos arregalados. A garota era um enigma que ele ainda não sabia como decifrar, mas que, de algum jeito, o atraía e o enfurecia na mesma medida.
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breathe | k. bakugou
Fanfictionㅤ ㅤ ㅤ ㅤ Uma força indomável - hipnotizante e provocadora, essa é Kira Acheron. Desde cedo, a garota cresceu envolta na sombra de uma herança perigosa, um império, forçada a caminhar por um labirinto de emoções conflitantes, onde le...