DARK ANGEL (FINALIZADO)

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CHASINA CIRCE

PASSADO, 16 ANOS

Deitada em minha cama com a cabeça descansando na coxa de Alex, eu me sentia feliz e segura. Era engraçado como as pessoas conhecem as outras e suas histórias se encaixam perfeitamente ou como elas se entendem perfeitamente. Se me perguntassem eu diria que Alex era minha alma gêmea. Não porque ele gostava das mesmas comidas que eu ou porque tínhamos o mesmo gosto para filmes, não, isso não importava.

Eu diria que era porque ele me entendia como ninguém. Ele entendia o que era ser abandonado e rejeitado, o que é se sentir infeliz e triste. Depressivo. Alex me entendia. Hoje era um daqueles dias em que ele e seu pai brigaram mais uma vez e igual a esses dias ele buscava refúgio no meu quarto comigo. No momento ele estava enrolando um baseado com uma carranca no rosto enquanto eu olhava para o teto, pensativa.

— Nós deveríamos nos casar — eu disse, ele sorriu com as covinhas aparecendo em sua bochecha.

— Sim, por quê? — disse zombeteiramente.

— Porque somos tão fodidos, Alex — ele suspirou me olhando. — Somos tão fodidos que acho que ninguém será capaz de se casar conosco. Ninguém nunca vai nos entender — desviei do seu olhar. — Somos fodidos, mas nos entendemos.

Eu não diria para ele que, na verdade, não pensava disso dele. Alex é um menino divertido, carinhoso e protetor quando conhece as pessoas. No futuro, com toda certeza, ele iria achar alguém que o faria feliz. Alex podia ser fodido, mas ele iria encontrar uma família para ele. Ele me encontrou, mas não tinha certeza se eu era tudo para ele. Porque ele é tudo para mim.

— Então vamos fazer um combinado — disse me levantando e sorrindo para mim. — Quando tivermos trinta anos...

— ... se tivermos vivos até lá — ele revirou os olhos.

— ... Vamos nos casar. Pronto, seremos felizes em um lar com cachorros e tudo mais — eu ri disso. Ele sorriu e eu olhei para o seu olho roxo com pesar, eu mataria seu pai bastardo um dia. — Ninguém tocará em nós, ou irá gritar, ou desprezar. Seremos nós dois contra o mundo.

— Contra o mundo, hein? — zombei empurrando o seu ombro.

— Contra o mundo, Sina — ele me beijou na testa. — Eu e você contra o mundo e isso nunca irá mudar.

— Promete, Alex? — eu olhei para a janela. — Promete que iremos ficar juntos para sempre? Que iremos proteger uns aos outros? Que nunca, nunca, iremos nos separar? Ou pior ainda, deixar?

— Isso nunca vai acontecer, Sina — ele me abraçou rindo. — Nós dois, trinta anos, casa e cachorro.

— E Mallory.

— E Lily — ele balançou a cabeça.

— E Dora — lembrei.

— E Dorinha — brincou.

—Parece um futuro feliz — sorri.

Ele sorriu.

E, ah, aquele sorriso daquele menino de cabelos castanhos claros, olhos escuros e sardas. Ah, aquele menino que me fez promessas e promessas. Aquele menino que me fazia rir como ninguém, que me amava do jeito que eu amava ele, que me entendia como ninguém. Ah, aquele menino. Aquele doce menino...

PRESENTE

Aquele doce menino. De menino, não tem mais nada. Do outro lado da sala com uma taça de champanhe na mão usando calças sociais pretas e uma blusa social branca, ele cresceu. Seu corpo agora está tomado de músculos e suas feições endureceram, mas mesmo assim eu tenho o vislumbre daquele doce menino. Seus cabelos estão mais acobreados e suas sardas de longe não dá para ver, um menino que de longe ninguém notaria.