2. COSTA

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Escrito por João R. C. Melo

"Vamos, Sah!" o rapaz dizia enquanto corria pela praia vazia. "Já estamos quase lá..."

Sara estava passando pela melhor etapa de sua vida. Sempre se considerou uma mulher batalhadora, e não costuma esperar que as coisas sejam fáceis. Lutou muito para conseguir abraçar todas oportunidades que surgiam, e para se manter de pé diante de todas dificuldades. A vida nunca lhe entregou nada de bandeja, então era realmente difícil de acreditar em como tudo vinha melhorando cada vez mais.

"Não acredito que você conseguiu achar uma praia tão bonita assim," a ruiva respondeu, caminhando lentamente e admirando a paisagem. "E ainda mais no meio do nada."

Havia se mudado por conta de uma nova proposta de emprego, onde estava avançando muito rápido; seu namorado havia largado tudo para ir com ela, e estava se encaixando perfeitamente na cidade; os dois estavam noivos e agora em uma viagem para uma região praiana quase paradisíaca...

"Você ainda não viu nada," seu noivo respondeu, parando para que a garota o alcançasse. "Tem muitas trilhas, caminhos pras piscinas naturais e o caralho à quatro mais pra frente."

Ele estava completamente animado com a viagem, o sorriso não saía de seu rosto e parecia estar quase exalando felicidade.

"E eu também estou," ela pensou enquanto sorria de volta. Estava vivendo seu melhor momento.

Estava.

***

Sara acordou completamente desorientada. Não conseguia enxergar nada e seu corpo não parecia responder suas tentativas de se movimentar. Sabia que estava deitada, jogada em algum lugar duro, mas nem ao menos sentia completamente seu corpo. A única coisa que conseguia perceber era que estava ferida. As poucas partes de seu corpo que sentia, todas elas ardiam com a dor.

Sem conseguir se movimentar, tentava entender o que estava acontecendo, mas suas memórias pareciam distantes demais. Tentar forçar a memória parecia piorar ainda mais sua situação, com a dor martelando em sua cabeça e tomando seu corpo. Se mostrando em cada vez mais lugares e cada vez mais forte.

A certeza que tinha agora é de que não estava morta. A morte com certeza seria mais pacífica.

Sentia agora certa umidade pelo seu corpo, poderia ser do local onde se encontrava ou talvez de seu próprio sangue, a essa altura poderia ser uma possibilidade bastante real. Tinha grandes chances de estar morrendo, e se não estivesse, desejava estar perto disso. O passar do tempo trazia mais dor, sabia que não estava com ferimentos leves, pelo menos algumas fraturas estavam envolvidas para sentir seu corpo gritando constantemente.

Podia ouvir um som de gotejamento. Não sabia se estava distante ou não, era difícil identificar muita coisa enquanto a dor martelava em sua cabeça e em todo seu corpo. Aos poucos parecia se acostumar com a luminosidade do local, porém, e começava a reparar algumas figuras entre a escuridão.

Rochas. Talvez estivesse em uma caverna.

A ruiva tentou forçar a visão um pouco mais, querendo despertar alguma ideia de onde estava ou do que estava acontecendo, mas a tentativa só trazia mais dor.

Sentiu-se lentamente perdendo a consciência que recuperara a tão pouco. Se tivesse sorte, talvez dessa vez não acordasse.

***

Ao acordar novamente, um pensamento lhe veio a mente muito rápido. Não somente um pensamento, mas um nome: Felipe.

Estava com seu noivo, se lembrava disso. Estavam aproveitando sua viagem, felizes, leves. Por onde ele estava? O que havia acontecido com ele? O pânico em seu corpo começava a consumi-la. Sara queria gritar seu nome, mas não tinha forças suficientes nem ao menos para se levantar.

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