A Garota Dela

11 | flashback

"Se transformou em algo maior
Em um lugar em meio a névoa
Tenho a sensação de que fui traída"
great war — taylor swift

Flashback | ALERTA DE GATILHO

— Cai fora daqui, Celeste. Eu sabia que tinha alguma coisa de errado com vocês duas. — gritei, causando eco pela sala vazia do segundo andar da escola. É onde eu e Celeste nos encontramos para transar, porque é a parte esquecida do prédio.

Visto minha roupa o mais rápido possível e corro para o corredor vazio, tentando organizar meus pensamentos. Eu soube desde o dia na festa, quando ela causou uma briga apenas porque eu encostei no seu celular, que havia algo errado. Mas fala sério, trocar mensagens com uma garota comprometida?

Nancy e Celeste já tiveram um caso, e isso não é nenhum segredo. Mas agora ambas namoram! Não consigo acreditar que elas são traidoras nesse nível.

Será que a namorada dela sabe?

Deduzo que não, porque Summer é uma lutadora profissional com bastante postura. Duvido que se submeteria a ser traída se soubesse que está sendo.

— Amor, espera, espera. Foi num momento de fragilidade. Nancy estava mal e eu apenas a ajudei. — Celeste agarra no meu braço e me empurra contra um armário com facilidade. Ela tem bastante força, então minha luta é desnecessária.

— A sua ajuda é se disponibilizar para sexo? — gritei novamente. O fato de Celeste ter mais força que eu só torna tudo mais insuportavelmente irritante. Se eu conseguisse, a jogaria no chão agora mesmo.

— Fazem duas semanas, Celeste. Eu me arrependi e disse para ela que nunca mais nos falaríamos, eu juro. — disse, sua respiração falhando enquanto lutava para me manter parada — Você sabe que a Nancy nunca me esqueceu.

— E pelo visto, você também não. — Celeste ficou séria por alguns instantes, mas não negou. — ainda ama ela?

Confesso que perguntei já sentindo a dor pela sua resposta. Perguntei com medo de ser "sim" e de tudo que eu precisei fazer para conseguir confiar nela ir por água abaixo.

— Não amo. Eu só fiquei confusa, e...

Suspirei alto e a empurrei quando ela abaixou a guarda, finalmente conseguindo espaço o suficiente para correr para longe do corredor enquanto ela gritava meu nome sem parar.

Mas eu não parei de correr até estar longe.

Quando anoiteceu, naquele mesmo dia, eu ainda não tinha respondido nenhuma das mais de cem mensagens que Celeste e as minhas amigas enviaram. A sensação de traição não largava meu peito, e eu juro que nunca me senti tão dolorida quanto naquela noite.

Celeste vivenciou pessoalmente o quão foi difícil derrubar os muros de proteção que eu criei em volta do meu coração para conseguir lhe dar uma chance, e mesmo assim fez exatamente o que me jurou que não faria.

Era impossível não me perguntar o tempo todo se ela ainda nutria sentimentos por Nancy mesmo estando comigo, se alguma chance de volta entre elas ainda pairava no ar. Tantas perguntas sem respostas, tanta dor no peito que eu só notei o que estava fazendo quando parei em frente a caixinha de remédios na cozinha. Era de madrugada, então os funcionários estavam dormindo e mamãe estava viajando a negócios.

Lembrei-me da vez que uma amiga havia me dito que sempre que ela ficava mal por causa da sua namorada, ela tomava qualquer tipo de remédio que a causasse sonolência e fugia da dor. Mas só quando a decepção fosse alta demais para suportar.

Sem pensar duas vezes, misturei alguns comprimidos que o Google indicava na lista de remédios que causam sono. Não tinha certeza de quantos precisava tomar, então enfiei uns dez na boca e bebi um gole de água para descer.

E, sem perceber, naquela madrugada eu criei um vício que seria impossível de parar pelos dias que se seguiram. Quando doía, eu me embriagava de remédios o suficiente para dormir por horas, evitando Celeste e o mal que ela me causava.

Mas eu só previ que o fim daquele vício seria quase fatal tarde demais.