A Morte quer ensinar O Corvo a dançar

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Para o meu noivo.


Tomara que ele esteja. Tomara que ele esteja. Tomara que ele esteja.
E ele estava. Ah, ele era tão lindo. Parecia com os personagens de livros que eu gostava de ler; alto, forte, a postura brutal digna de um homenzarrão. Os braços definidos eram cheios de tatuagens que estavam aparentes graças à camisa arregaçada até os cotovelos. Ele era banhado em prata, com colar, anéis, pulseira e relógio.

A aparência de alguém letal. Que te destruiria.

Eu sorrio com o canto da boca enquanto o admirava do outro lado do salão. Ele não era o único que parecia amedrontador.

Com certeza o vestido vermelho, o cabelo loiro liso e a mão pesada de anéis davam conta do recado para mim. As unhas afiadas querendo rasgar aquele pescocinho lindo (da forma mais prazerosa possível, claro... talvez).

Será que ele conseguiria me erguer? Aguentaria meu peso? Eu era magra, mas não era pequena, nem de longe. Com o salto, eu provavelmente era da mesma altura que ele.

Como seria seu toque? Seria gentil e carinhoso ou seria grosseiro e bruto?

Mas, naquele dia em específico, eu não podia visualizar seu rosto. Não conseguia olhá-lo nos olhos e o chamar para brincar, não tinha visão da barba aparada que eu amava nele.

Ri comigo mesma. Ele não fazia ideia que eu o admirava de longe, há tantos tempos.

Lembrei da sua voz. Nos conhecemos por causa do mesmo grupo de amigos, mas nos víamos apenas em festas como essas. Nunca tínhamos trocado uma palavra sequer. Mas a sua voz estava impregnada em mim, é com ela que eu sonhava todas as noites e fazia outras coisas mais antes de dormir. Grave, de uma forma que chegava a me assombrar e me arrepiar. Fazia temê-lo.

E eu não temia ninguém. Principalmente um homem.

Estávamos em uma festa à fantasia. Era Outubro, perto do Halloween, era uma festa em uma grande casa noturna da cidade, estava lotada e a música alta. Alguns homens tinham se aproximado e tinham desistido sem que eu falasse uma palavra sequer, eles desapareciam quando eu os encarava. As mulheres passavam e soltavam risadinhas quando eu piscava um dos olhos em suas direções.

Não queria nenhum deles.

O homem, o único, que eu queria estava bebendo com uma mulher do nosso ciclo de amigos, vestido com uma máscara de corvo, como um médico dos tempos da peste negra. Uma bengala com a cabeça de prata estava em sua mão direita. Lindo pra caralho. Queria arrancar aquela máscara do seu rosto no banco de trás do meu carro e beijá-lo como nunca. Devorá-lo.

Eu não estava fantasiada de porra nenhuma. Eu era assim, sem graça. Normalmente, eu não ia à festas abertas ao público, e sim apenas à casuais propostas pelos meus, nossos, amigos, para flertar com alguma mulher bonita, brincar com o ego de algum homem estúpido e fumar.

Encostada ao balcão, vi uma dessas mulheres com quem costumava flertar rotineiramente aparecer e se encostar ao meu lado.

— Geralmente você dança, pelo menos. — Ela diz. Ela era uma mulher bonita, mais baixa do que eu, mas muito mais velha (mas eu era muito nova comparado aos meus amigos, então não contava), com os cabelos ruivos e lisos. Estava vestida de coelhinha, com um pompom na parte de trás do seu vestido como rabo.

— Quero dançar com ele. — Falei, rosnando baixinho sem querer.

— Ele? — Ela seguiu meu olhar. — Ah, Dante.

— Eu sei o que você vai dizer, Tayla.

— O que que eu direi, então?

— Que ele é casado, que eu deveria desistir de uma vez por todas, que eu estou perdendo meu tempo...

A Morte e O CorvoOnde histórias criam vida. Descubra agora