Doze

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Estávamos lá, de frente para a lápide.
Me agachei, passeando com os dedos sobre seu nome.

Isabel Fernandes Silva

- Oi, mamãe. São para você.

Coloquei as orquídeas que meu pai comprou na floricultura do Sr. Santiago em frente à ela.

- Tenho novidades. Fiz uma amiga. Ela se chama Helena - falei, e não consegui evitar que meu rosto ficasse vermelho. - E também... Bom, essa é a única novidade. Eu sinto muito a sua falta. Muito mesmo.

Papai apertou meu ombro, estava ao meu lado. Já não escondia suas lágrimas de mim.

- Amamos você. Vamos seguir em frente por você. Vou ser um pai melhor - ele disse e o abracei.

- Você já é - falei.

Ficamos em silêncio. Não havia necessidade de palavras. Aquele momento era apenas nosso.

Quando chegamos aos portões do cemitério, tive uma surpresa. Helena estava lá, na calçada. A bicicleta ao seu lado. Ela disse que iria trabalhar hoje, então devia ter vindo de lá. Meu pai olhou para mim e sorriu, em seguida acenou para Helena, antes de entrar no carro e ir embora.

Atravessei a rua até ela. Meu coração estava tranquilo.

- Oi - falei. Ela se levantou e me abraçou, me pegando de surpresa.

- Oi - sussurrou. - Como se sente?

- Na verdade, me sinto bem.

Ela se afastou e me olhou.

- Jura?

- Juro. Bem como eu não me sentia há muito tempo... Graças a você. - Falei. - Obrigada. Você é incrível.

Ela ergueu a sobrancelha.

- Você está me fazendo um elogio?

Fiquei vermelha.

- Não mesmo, sua convencida.

Nós rimos, rimos até perdermos o fôlego. 

Suas mãos ainda estavam envolvendo meus ombros e as minhas ainda a seguravam pela cintura. Então seu rosto ficou sério, e o meu ficou sério. E então nos inclinamos ao mesmo tempo, nossos lábios à centímetros de distância. Eu conseguia sentir o cheiro de café em seu hálito. Meu rosto ardeu com a expectativa de sentir o gosto em sua língua.

- Júlia... - ela sussurrou e eu quase derreto por dentro. Deus, eu amava quando ela dizia o meu nome. Meu coração parecia prestes a sair pela boca. Eu gostaria de me inclinar...

Ela me soltou, se afastando. Seu rosto mais escuro do que nunca. Demorei para raciocinar e pisquei para sair do transe em que me encontrava. Ela já estava subindo na bicicleta.

- Helena? - Minha voz saiu rouca.

- A gente não devia, eu não... Eu preciso ir.

E partiu em seguida. Me deixando sozinha e confusa sobre o que tinha acabado de acontecer.

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⏰ Última atualização: Aug 08, 2023 ⏰

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