Estávamos lá, de frente para a lápide.
Me agachei, passeando com os dedos sobre seu nome.Isabel Fernandes Silva
- Oi, mamãe. São para você.
Coloquei as orquídeas que meu pai comprou na floricultura do Sr. Santiago em frente à ela.
- Tenho novidades. Fiz uma amiga. Ela se chama Helena - falei, e não consegui evitar que meu rosto ficasse vermelho. - E também... Bom, essa é a única novidade. Eu sinto muito a sua falta. Muito mesmo.
Papai apertou meu ombro, estava ao meu lado. Já não escondia suas lágrimas de mim.
- Amamos você. Vamos seguir em frente por você. Vou ser um pai melhor - ele disse e o abracei.
- Você já é - falei.
Ficamos em silêncio. Não havia necessidade de palavras. Aquele momento era apenas nosso.
Quando chegamos aos portões do cemitério, tive uma surpresa. Helena estava lá, na calçada. A bicicleta ao seu lado. Ela disse que iria trabalhar hoje, então devia ter vindo de lá. Meu pai olhou para mim e sorriu, em seguida acenou para Helena, antes de entrar no carro e ir embora.
Atravessei a rua até ela. Meu coração estava tranquilo.
- Oi - falei. Ela se levantou e me abraçou, me pegando de surpresa.
- Oi - sussurrou. - Como se sente?
- Na verdade, me sinto bem.
Ela se afastou e me olhou.
- Jura?
- Juro. Bem como eu não me sentia há muito tempo... Graças a você. - Falei. - Obrigada. Você é incrível.
Ela ergueu a sobrancelha.
- Você está me fazendo um elogio?
Fiquei vermelha.
- Não mesmo, sua convencida.
Nós rimos, rimos até perdermos o fôlego.
Suas mãos ainda estavam envolvendo meus ombros e as minhas ainda a seguravam pela cintura. Então seu rosto ficou sério, e o meu ficou sério. E então nos inclinamos ao mesmo tempo, nossos lábios à centímetros de distância. Eu conseguia sentir o cheiro de café em seu hálito. Meu rosto ardeu com a expectativa de sentir o gosto em sua língua.
- Júlia... - ela sussurrou e eu quase derreto por dentro. Deus, eu amava quando ela dizia o meu nome. Meu coração parecia prestes a sair pela boca. Eu gostaria de me inclinar...
Ela me soltou, se afastando. Seu rosto mais escuro do que nunca. Demorei para raciocinar e pisquei para sair do transe em que me encontrava. Ela já estava subindo na bicicleta.
- Helena? - Minha voz saiu rouca.
- A gente não devia, eu não... Eu preciso ir.
E partiu em seguida. Me deixando sozinha e confusa sobre o que tinha acabado de acontecer.
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Depois Que Eu Te Conheci
RomanceJúlia Fernandes só quer saber de nadar e mais nada. Reservada, ela procura nunca se envolver demais com as pessoas, e essa personalidade apenas se solidificou depois que a mãe morreu em um acidente, o que dificultou a relação com o seu pai, que, ape...