— Acho que isso é seu.
Um alfa saiu lentamente da mata carregando vários animais mortos nos braços. Nunca na minha vida vi alguém tão grande, ele deve ter pelo menos três vezes minha altura, parecia um tronco de árvore devido aos ombros largos, músculos extremamente proeminentes com veias enormes e visíveis, além de uma pele parda como um carvalho, essa repleta de tatuagens tribais.
Já o cabelo é um carmesim bem escuro, com tranças espalhadas ao redor e um tanto desarrumado, lembrando uma juba de Lyanor, porém, o que mais chama minha atenção são os olhos, apesar de compartilharem a mesma cor dos fios, eles são mais claros e vivos, corroborando para uma imagem assustadora, idêntico as criaturas que me assombram toda noite, agora até na luz do dia não tenho paz?
"Eu…quero correr… mas, por quê? Por que não consigo?"
Após ouvir um baque no chão, recobro a consciência e paro de lhe encarar, me focando em ver o que causou aquilo; era o cadáver do Cerwiskar que cacei alguns minutos atrás, entretanto não só ele, todo o bando estava morto e sendo carregado pelo alfa, devia ter pelo menos dez ali.
Eu sei que alfas são fortes para executarem feitos admiráveis como quebrar pedras usando os punhos, levantar objetos pesados ou correr longas distâncias sem suarem — isso até sendo feito de maneira profissional em torneios — mas dilacerar um grupo inteiro de Cerwiskars? A primeira coisa que Yhoki me ensinou foi: "Se você escutar gritos, abandone a presa e corra, eles sempre vão atacar em grupo usando chifradas ou lhe pisoteando até a morte".
— Páhpa, quem é ele? — Zhari foi para trás de mim, encarando o desconhecido de canto. Os feromônios daquele lobo eram ardentes, se eu já estava incomodado pelo odor imagine um filhote.
O alfa parece ter notado a minha preocupação, tanto que deu alguns passos para trás, assim seus feromônios não ficariam tão intensos, o que é raro, normalmente alfas são bastante invasivos, mas ele… não aparenta ser como os outros.
— Ninguém que eu conheça. Por que está aqui? — Apesar da dor percorrendo cada músculo e osso do meu corpo, junto às forças para ficar em pé, mantendo uma postura ereta apesar das dificuldades, Zhari até tentava me ajudar, porém lhe carecia força.
— Esse abate é seu. — O tom era profundo e animalesco, pelo eco na voz dele, deve ter saído de um frenesi e sinceramente, isso me causava arrepios da cabeça aos pés, além daquela constante vontade de fugir pro mais longe possível. "Mesmo sem o eco, a voz dele já é monstruosa".
Qualquer lobo solitário levaria a comida sem olhar para trás, mas ele continua afirmando que aquilo é meu, então deve ser algum código de honra ou algo do tipo e em suma maioria só matilhas possuem leis. E parando para pensar agora, o rosto dele é familiar; maxilar quadrado, barba curta, sobrancelhas grossas, olhos afiados e nariz curvo… todas me fazem lembrar de uma tribo, embora não lembro precisamente qual.
— E… só? — Ele confirmou com a cabeça. Nenhum alfa sairia sem antes fazer alguma cantada, oferecer algo ou coisas semelhantes a essa, é normal, então por quê ele não faz? Não que eu esteja reclamando, mas estou realmente sem palavras.
O alfa focou sua visão em algo atrás de mim, provavelmente na tenda ao fundo do bosque, depois voltou a olhar para mim — Se eu tentar algo, serei amaldiçoado.
Pela primeira vez eu ri, talvez fosse o nervosismo? Como um alfa daquele tamanho poderia temer xamãs? Tudo bem que Yahto e Yhoki conseguem ser assustadores, mas até quando eles estão fora? Parece algo estúpido. "Embora ele… esteja certo, aqueles dois fariam da vida dele e de toda sua família um inferno".
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Instinto
WerewolfLobos são competitivos, sanguinários e egoístas, mas no fim continuam sendo uma matilha. Khadu, um ômega que vive a partir das regras, nunca teve paz em sua vida, seu passado é repleto de traumas e seu presente cheio de pesadelos, só a presença do s...