Capítulo 24

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Esfrego os olhos com as mãos, conferindo se estava enxergando direito. É ele, Duke, do mesmo jeitinho que eu me lembrava, e, ao mesmo tempo, diferente.

Ele olha para trás, para mim, e fica por alguns segundos me encarando. Sai da moto e vem em minha direção passando a mão pelos cabelos, jogando-os para trás. Ele está tão bonito, que tenho certeza de que não conseguirei abrir a boca perto dele.

— Saddie... — Ele sabe meu nome. Sim, agora tenho certeza disso.

— Duke... É bom tê-lo de volta.

Ele sorri.

— Minha mãe estava ansiosa para te ver, pelo jardim que você cuidou. Você parece ter um dom com as plantas, ao menos foi o que ela disse.

— Eu gosto de plantas, e foi... um prazer cuidar. — Tento manter minhas emoções no controle. — E como é estar de volta?

— Um pouco estranho, outra língua. Eu já estava me esquecendo do inglês, confesso.

— Como estão seus pais?

— Bem. Você os verá. Minha mãe... está gravida.

— A Sra. Martina está grávida? Oh, meu Deus! É uma ótima notícias, Duke.

— Acho que sim.

— Era para você estar feliz, já que ganhará um irmãozinho.

— Um pentelho, eu diria.

— Não fala isso. Eu sempre quis um irmão... É meio solitário ser filha única. Não se sente assim?

— Eu me sentia, até alguns anos. Acho que me acostumei. — Joga os cabelos para trás, e eu observo na velocidade de uma câmera lenta. — Soube que estava Cape Charles. Se divertiu?

— Deu para me divertir um pouco...

— Sinto muito pelo seu pai. Como ele está?

— Levando. Agora é encarar o tratamento, depois, quem sabe, a cirurgia. Acho que querem diminuir o tamanho do intruso. É assim que chamo aquilo que está na cabeça dele.

— Acho que ficará tudo bem.

Duke pega o celular do bolso e olha alguma coisa nele.

— Preciso ir. Marquei de ver alguns amigos. A gente se esbarra por aí, Saddie. Foi bom te ver.

— Até mais.

Enquanto observo Duke voltar para a sua moto, tento controlar meus batimentos cardíacos, suspirando o mais fundo que posso. Foi a primeira vez que conversamos. A primeira vez que ele tomou a iniciativa e veio falar comigo. É como se ele não fosse a mesma pessoa.

Duke sai com a sua moto, passando por mim e acenando. O sorriso dele é o mesmo, mas tem algo diferente. Sem contar que ele está pelo menos uns vinte centímetros mais alto, e seu corpo se desenvolveu. Não é mais o garoto magrelo, em que seu uniforme de hóquei ficava largo. Ele cresceu, está muito mais bonito, e mais charmoso.

Quando estou quase chegando à porta da minha casa, ouço a Sra. Riccelli me chamar no outro lado do gramado. Ela está do mesmo jeito, exceto pela barriga de grávida.

— Sra. Martina!

Deixo as bolsas no chão e vou até ela, abraçando-a.

— Você está linda, Saddie! Senti tanto a sua falta. — Diz ela.

— Sentimos a sua falta também. Soube que está esperando um bebê!

— Pois é, isso nos pegou de surpresa. Meu marido continua em choque.

Nós rimos.

— Tive medo de que não voltassem mais.

— Mas é claro que voltaríamos! Eu amo esta casa, e amo vocês. Só precisávamos resolver as coisas por lá.

— Eu vi o Duke. Ele está... alto...

— Ele esticou de repente. Meu filho já é um homem agora.

— Sim.

— Seus pais estão em casa? Como está seu pai?

— Você já soube?

— Roberto conversou com ele há alguns dias, para avisar que estávamos voltando. Foi como ficamos sabendo.

— Meu pai é forte, uma verdadeira fortaleza. Sempre quer mostrar que está bem, ele sempre foi assim. Mas... me assustou bastante.

— Soube que ele desmaiou e você o encontrou desacordado. Logo fiquei preocupada.

— Foi um susto e tanto, mas estou tentando não pensar nisso.

— A propósito, você cuidou muito bem do jardim. As flores estão fantásticas. Fiquei muito feliz em vê-las.

— Que bom que gostou.

— Andou praticando?

— Bastante.

— Fico feliz de ouvir isso.

Minha mãe aparece na nossa varanda e nos avista, vindo em nossa direção.

— Martina.

— Hellen, você está ótima, querida.

— Vou deixar vocês conversando, e desfazer as malas.

— Claro, querida. Depois aparece lá em casa, para colocarmos o papo em dia.

— Pode deixar.

Deixo as duas conversando e pego as bolsas, levando-as para dentro de casa. A imagem de Duke não me sai da cabeça, e aparentemente, fiquei mais balançada do que achei que ficaria.

— É a Sra. Riccelli — Pergunta meu pai.

— É, sim. Ela está grávida, você sabia?

— Não, não sabia. Mas desconfiei pela voz de Roberto, quando nos falamos ao telefone, há alguns dias. Acho que estava pisando em ovos...

— Pai, descanse. Vou arrumar o quarto de hóspedes para você.

— Sua mãe já fez isso, querida.

— Muito rápida. Então vou desfazer as malas.

Ele assente com a cabeça e pega o controle remoto da tv. Nisso ele nunca mudou.

Vou para o meu quarto e jogo as bolsas na cama. Olho para a porta da minha sacada, e vejo que o quarto de Duke está escuro, embora a porta esteja aberta. Isso me faz pensar em Dylan, o que me deixa bastante confusa.

Busco meu celular e olho o visor. Três mensagens perdidas de Dylan.

A primeira mensagem é uma foto dele com o Ed, com suas pranchas, e o cenário da praia atrás deles.

A segunda mensagem é uma foto com ele sozinho, sentado na areia olhando para o mar. Talvez Ed tenha tirado essa foto propositalmente, para que eu a visse.

Terceira mensagem.

"Pensando em você. Sentindo sua falta de forma absurda! Acho que terei que ir à Pocomoke para te ver".

Não sei se seria uma boa ideia Dylan aparecer agora. Justamente agora, que Duke finalmente voltou. Sei que estou ficando dividida e confusa. Mas, sei também que não planejei nada disso. 

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