Esfrego os olhos com as mãos, conferindo se estava enxergando direito. É ele, Duke, do mesmo jeitinho que eu me lembrava, e, ao mesmo tempo, diferente.
Ele olha para trás, para mim, e fica por alguns segundos me encarando. Sai da moto e vem em minha direção passando a mão pelos cabelos, jogando-os para trás. Ele está tão bonito, que tenho certeza de que não conseguirei abrir a boca perto dele.
— Saddie... — Ele sabe meu nome. Sim, agora tenho certeza disso.
— Duke... É bom tê-lo de volta.
Ele sorri.
— Minha mãe estava ansiosa para te ver, pelo jardim que você cuidou. Você parece ter um dom com as plantas, ao menos foi o que ela disse.
— Eu gosto de plantas, e foi... um prazer cuidar. — Tento manter minhas emoções no controle. — E como é estar de volta?
— Um pouco estranho, outra língua. Eu já estava me esquecendo do inglês, confesso.
— Como estão seus pais?
— Bem. Você os verá. Minha mãe... está gravida.
— A Sra. Martina está grávida? Oh, meu Deus! É uma ótima notícias, Duke.
— Acho que sim.
— Era para você estar feliz, já que ganhará um irmãozinho.
— Um pentelho, eu diria.
— Não fala isso. Eu sempre quis um irmão... É meio solitário ser filha única. Não se sente assim?
— Eu me sentia, até alguns anos. Acho que me acostumei. — Joga os cabelos para trás, e eu observo na velocidade de uma câmera lenta. — Soube que estava Cape Charles. Se divertiu?
— Deu para me divertir um pouco...
— Sinto muito pelo seu pai. Como ele está?
— Levando. Agora é encarar o tratamento, depois, quem sabe, a cirurgia. Acho que querem diminuir o tamanho do intruso. É assim que chamo aquilo que está na cabeça dele.
— Acho que ficará tudo bem.
Duke pega o celular do bolso e olha alguma coisa nele.
— Preciso ir. Marquei de ver alguns amigos. A gente se esbarra por aí, Saddie. Foi bom te ver.
— Até mais.
Enquanto observo Duke voltar para a sua moto, tento controlar meus batimentos cardíacos, suspirando o mais fundo que posso. Foi a primeira vez que conversamos. A primeira vez que ele tomou a iniciativa e veio falar comigo. É como se ele não fosse a mesma pessoa.
Duke sai com a sua moto, passando por mim e acenando. O sorriso dele é o mesmo, mas tem algo diferente. Sem contar que ele está pelo menos uns vinte centímetros mais alto, e seu corpo se desenvolveu. Não é mais o garoto magrelo, em que seu uniforme de hóquei ficava largo. Ele cresceu, está muito mais bonito, e mais charmoso.
Quando estou quase chegando à porta da minha casa, ouço a Sra. Riccelli me chamar no outro lado do gramado. Ela está do mesmo jeito, exceto pela barriga de grávida.
— Sra. Martina!
Deixo as bolsas no chão e vou até ela, abraçando-a.
— Você está linda, Saddie! Senti tanto a sua falta. — Diz ela.
— Sentimos a sua falta também. Soube que está esperando um bebê!
— Pois é, isso nos pegou de surpresa. Meu marido continua em choque.
Nós rimos.
— Tive medo de que não voltassem mais.
— Mas é claro que voltaríamos! Eu amo esta casa, e amo vocês. Só precisávamos resolver as coisas por lá.
— Eu vi o Duke. Ele está... alto...
— Ele esticou de repente. Meu filho já é um homem agora.
— Sim.
— Seus pais estão em casa? Como está seu pai?
— Você já soube?
— Roberto conversou com ele há alguns dias, para avisar que estávamos voltando. Foi como ficamos sabendo.
— Meu pai é forte, uma verdadeira fortaleza. Sempre quer mostrar que está bem, ele sempre foi assim. Mas... me assustou bastante.
— Soube que ele desmaiou e você o encontrou desacordado. Logo fiquei preocupada.
— Foi um susto e tanto, mas estou tentando não pensar nisso.
— A propósito, você cuidou muito bem do jardim. As flores estão fantásticas. Fiquei muito feliz em vê-las.
— Que bom que gostou.
— Andou praticando?
— Bastante.
— Fico feliz de ouvir isso.
Minha mãe aparece na nossa varanda e nos avista, vindo em nossa direção.
— Martina.
— Hellen, você está ótima, querida.
— Vou deixar vocês conversando, e desfazer as malas.
— Claro, querida. Depois aparece lá em casa, para colocarmos o papo em dia.
— Pode deixar.
Deixo as duas conversando e pego as bolsas, levando-as para dentro de casa. A imagem de Duke não me sai da cabeça, e aparentemente, fiquei mais balançada do que achei que ficaria.
— É a Sra. Riccelli — Pergunta meu pai.
— É, sim. Ela está grávida, você sabia?
— Não, não sabia. Mas desconfiei pela voz de Roberto, quando nos falamos ao telefone, há alguns dias. Acho que estava pisando em ovos...
— Pai, descanse. Vou arrumar o quarto de hóspedes para você.
— Sua mãe já fez isso, querida.
— Muito rápida. Então vou desfazer as malas.
Ele assente com a cabeça e pega o controle remoto da tv. Nisso ele nunca mudou.
Vou para o meu quarto e jogo as bolsas na cama. Olho para a porta da minha sacada, e vejo que o quarto de Duke está escuro, embora a porta esteja aberta. Isso me faz pensar em Dylan, o que me deixa bastante confusa.
Busco meu celular e olho o visor. Três mensagens perdidas de Dylan.
A primeira mensagem é uma foto dele com o Ed, com suas pranchas, e o cenário da praia atrás deles.
A segunda mensagem é uma foto com ele sozinho, sentado na areia olhando para o mar. Talvez Ed tenha tirado essa foto propositalmente, para que eu a visse.
Terceira mensagem.
"Pensando em você. Sentindo sua falta de forma absurda! Acho que terei que ir à Pocomoke para te ver".
Não sei se seria uma boa ideia Dylan aparecer agora. Justamente agora, que Duke finalmente voltou. Sei que estou ficando dividida e confusa. Mas, sei também que não planejei nada disso.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Má Companhia
RomanceSaddie vive esperando pela volta do seu primeiro amor, que voltou para a Itália. Enquanto isso, ela lida com o drama dos pais e conhece o misterioso Dylan, que faz de tudo para conquistar o seu coração.