Capítulo único

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Você acredita em lendas urbanas, histórias de fantasmas ou relatos de uma viagem fantástica ?

Entendo!...

Eu também não acreditava até protagonizar a minha.

Foi a dez anos atrás ,eu tinha dezoito.

Residia em um recanto isolado, um município que se erguia distante da agitação, abraçado por uma floresta densa que desenhava limites intransponíveis. Desde a infância, nutria uma fascinação inabalável pela natureza e por todos os enigmas que ela abrigava. Era uma atração tão profunda que me impelia a afastar-me da cidade, um ato de escapismo deliberado daquela prisão de concreto, das ruas ruidosas e dos vizinhos bisbilhoteiros, que sempre encontravam maneiras de criar rumores a partir de meros sussurros.

O município de Ewbank, ao qual eu estava ligado por nascimento, carregava consigo a má fama de despejar seus moradores à medida que a língua afiada de seus habitantes minava qualquer privacidade. Era um lugar onde as palavras tinham peso e poder, capazes de criar e principalmente destruir laços, muitas vezes de forma injusta. Minha aversão àquele lugar se tornou profunda, uma raiz que crescia cada vez mais forte. Meus olhos brilhavam com a promessa de um futuro além daqueles limites, e eu ansiava pelo dia em que pudesse partir, sem olhar para trás, para buscar uma vida mais livre e autêntica.

Um dia, enquanto explorava a floresta, me deparei com algo que mudaria minha vida para sempre: um cogumelo diferente de tudo que já havia visto.

Seu chapéu era um emaranhado de "cores" sombrias, - se é que podemos chamar aquilo de cor. Era algo totalmente fora das paletas de cores que já haviamos catalogado,com tons escuros e profundos quase negro. Em vez de cintilar como estrelas, ele emanava uma aura perturbadora. Curioso e ao mesmo tempo cauteloso, decidi colher o cogumelo e levá-lo de volta ao município.

Quando finalmente decidi revelar o cogumelo às autoridades locais, notei uma mistura intrigante de expressões em seus rostos. O desdém era quase palpável, mas havia também um traço sutil de ganância, como se aquele cogumelo pudesse conter algum segredo valioso. Sem pestanejar, eles batizaram-no de "Cogumelo Sombrio", atribuindo-lhe um título que evocava mistério e drama, como se estivessem pintando uma tela de tons escuros e enigmáticos.

Cada sílaba daquele apelido parecia carregada com a aura sombria que o cogumelo emanava. Eles contavam histórias, sussurravam narrativas que circulavam como segredos pelo ar da cidade, sobre os incautos que se aproximavam do cogumelo e caíam em um abismo de sentimentos profanos e desespero. Era como se cada palavra fosse entrelaçada com a própria maldição, uma trama que capturava a mente dos ouvintes e os deixava ansiosos por mais.

A verdade é que as pessoas da aldeia tinham um apetite insaciável por esse tipo de mistério. Era como se a escuridão da lenda as atraísse como mariposas para a chama. Cada olhar, cada cochicho revelava o quanto elas estavam enredadas nas histórias sobre o cogumelo sombrio, como se estivessem sedentas por uma experiência que desafiasse seus próprios limites emocionais e psicológicos.

Conforme era previsível, os jornais locais não perderam tempo em relatar o incidente, e em um piscar de olhos, Ewbank da Câmara se transformou no tópico mais comentado dos tempos recentes. A notícia se espalhou como um incêndio, atraindo curiosos ávidos por saber mais e colecionadores que viam no fenômeno uma oportunidade única.

Mas eu não conseguia me afastar do mistério. Como alguém fascinado por descobertas, não podia deixar de estudar o cogumelo e entender sua verdadeira natureza. Durante dias e noites, observei-o atentamente, fazendo experimentos e anotando minhas observações. O cogumelo parecia reagir de maneira sinistra à escuridão, emanando uma aura mais intensa quando a noite caía.

Cogumelo sombrioOnde histórias criam vida. Descubra agora