Entre Luz e Sombras (Sebastian Sallow x FemOC)

Passagem entre Mundos

No meu aniversário de quinze anos recebera o melhor dos presentes que alguém na minha posição poderia ter recebido: uma oportunidade para deixar o orfanato. Claro que algum dia iria sair, fosse por casamento arranjado com um desconhecido – por vontade do possível noivo ou da diretora –, fosse através de adoção. Na minha idade era impensável a última opção. Quem sabe por isso o destino quis oferecer-me uma terceira opção: sair para estudar numa escola. E não era uma escola qualquer: era Hogwarts, uma escola de magia. Mas esse detalhe todos desconheciam. Afinal, quem iria acreditar que magia existia? Mesmo que acreditassem, o professor Fig – o meu salvador – tinha me proibido de fazê-lo.

Independentemente disso, tinha sido a única a sair do orfanato por outro meio além do convencional. Tinha sido a sortuda e apenas Margaret tinha ficado genuinamente feliz por mim. Na verdade, o seu nível de felicidade era proporcional ao seu nível de tristeza. Ela era uma criança tão pura que me doía cada vez que recordava o quanto a vida tinha sido injusta com ela, ainda em tão tenra idade.

– Porque sou a única a ir? As outras meninas não podem acompanhar-me? – Uma vez questionara o professor Fig.

– A seu tempo, alguma delas juntar-se-á a ti – respondeu, mas apressou-se a emendar. – Quem sabe...

Por muito tempo tinha me questionado sobre quem e quando seria. Contudo, tanta coisa acontecera que não me detive mais em tais pensamentos. Obcecada com a vontade de salvar a todos depois de aprender magia, deixara-me frustrar pelos meus próprios limites. Afinal, eu era tão humana como todos. Algo tão óbvio como não poder salvar o mundo estava diante de mim, mas eu não tinha visto. Por isso, depois que perdera o professor Fig, a vontade de desistir começou a florescer em mim.

Sempre relembrava do professor Fig com carinho. A sua chegada ao orfanato fora estranha para todas nós. Um homem tão mais velho não era o que esperávamos para casar, e isso só contribuíra para os cochichos entre as mais velhas. Poderia ter sido o caso de ter ido para adotar alguém, no entanto não nos tinha cruzado pela mente essa possibilidade, talvez por ter ido sozinho. As garotas mais velhas indagaram-se sobre a possível noiva que seria escolhida para aquele homem e fora com alívio que me viram ser chamada para apresentar-me no escritório da diretora.

– Que seja uma adoção – segredara Helen antes que eu tivesse saído do seu lado rumo ao escritório.

Vira-lhe a apreensão no olhar, e eu mal sabia que aquela iria ser a última vez que Helen demonstraria a sua preocupação por mim.

No escritório, começamos pelas apresentações. O professor Fig fora cordial comigo, dedicara o máximo de respeito quando apertara a minha mão e ainda tivera a delicadeza de preparar a cadeira ao seu lado para me sentar. Tinha ficado impressionada, era facto. Do outro lado da secretária, a diretora tentara conter uma mistura de satisfação e raiva. O seu olhar faiscara quando se cruzara com o meu e, naquele momento, não entendera o motivo. Afinal, ela iria ver-se livre de mim. Mas agora, depois de ter presenciado o casamento de Helen e de ter descoberto a verdade, fazia sentido. A proposta do professor Fig estragara-lhe os planos e, no final, tivera que entregar a sua garota favorita no meu lugar.

– Presumo que estime muito as suas protegidas, dado o seu entusiasmo pelo meu convite em levar a Miss Lynch para estudar numa escola prestigiada – declarara Fig, a certa altura, e eu não sabia dizer se tinha sido sincero ou se tinha existido ironia nas suas palavras.

Um sorriso tremera nos lábios da diretora.

– Ora, senhor Fig, mas é claro! Vi boa parte das minhas meninas crescerem desde bebés, como é o caso da Samantha. É com muito orgulho que a vejo ter uma oportunidade de receber uma educação apropriada. – Remexera-se na cadeira. – Somos muitas e passamos por algumas dificuldades. Infelizmente, apenas posso oferecer-lhes os ensinamentos para a vida no futuro.