Capítulo 36

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Matteo

Sua expressão nunca fora tão sombria.

― Eu tinha tudo em minhas mãos ― rosna. ― Seu avô, aquele imbecil, me tomou tudo só por causa de uma merda de uma doença que poderia aparecer depois de velho.

― Ou não ― retruco. ― Não se pode prever o início dos sintomas, inclusive a sua já é considerada rara. Geralmente essa síndrome começa a aparecer na casa dos trinta anos, exatamente quando um homem alcança a maturidade intelectual.

Eu, ao descobrir sobre meu tio, saí estudando, temendo que meu filho pudesse ter herdado.

― Já há medicamentos que ajudam a retardar e até amenizar os sintomas. ― Ele realmente está tentando me convencer?

― Mas na época não havia, titio ― lembro-o e ele chega a fazer uma expressão de fúria.

― Pois é. Seu avô me tirou da jogada, assim como ia diluir a minha herança para incluir o filho bastardo dele ― eu ri, mesmo que ele estivesse fugindo da resposta.

― Você tinha uma família tão abastada quanto a nossa, e vovô não tinha qualquer obrigação de deixar nada pra você. ― Cruzo os braços. ― Onde meu casamento entra nisso?

― Não entra. ― Cada vez entendo menos esse maluco. ― Seu avô tinha adoração por você. Quando Paola engravidou e descobrimos que seria uma menina, eu perdi minhas esperanças.

Como?

― Você esperava que tendo um filho, vovô reconsideraria à possibilidade de seu filho ser o próximo na fila?

Seu silêncio foi minha confirmação.

― Eu queria mostrar que eu era bom e que um filho meu seria tão bom quanto eu ― que argumento era aquele? A doença já estava mesmo degenerando seus neurônios, só pode.

― Você nunca se viu, Andrea? ― Mamãe se intromete. ― Sempre impôs sua autoridade na base da chantagem enquanto se escondia atrás de mim e depois de Giancarlo. ― Ela põe a mão na cabeça. ― Você negociava, você tramava, mas nunca era ouvido porque era fraco e papai sabia disso. E quando, por um milagre, tinha uma ideia boa, precisava de um respaldo ou de alguém para defender. Nunca conseguiu ser dinâmico em nada, tanto que ser formou com a ajuda de papai mas nunca fora colocado à frente de alguma empresa. Você era o peso morto que carregávamos.

― Peso morto! ― Ele encara mamãe. ― Esse peso morto conseguiu mais do que qualquer um aqui imaginou que conseguiria.

― Se passando por tolo, você chegou longe ― afirmo e ele abre um sorriso. ―Não posso negar que meu pai assumiu as coisas com sua ajuda e você tem se mantido até hoje por causa dele e de Carlo. Mas vamos voltar ao meu casamento.

Eu não entendia as peças. Na verdade, eu já estava chegando a conclusão que tudo não passara de um capricho, de uma necessidade de autoafirmação.

― Francesca foi quem começou a brincadeira de que nós faríamos o casamento seu com minha filha, afinal, Graziela era o bebê mais lindo de toda a maternidade, escola e onde quer que estivesse.

― Não pretendo entrar nesse mérito, tio ― até porque ela sempre foi mesmo linda a ponto de chamar a atenção por onde passava.

Mas eu não confirmaria e encheria ainda mais a bola desse maluco.

― Graziela nasceu e como todo pai, eu me apaixonei pela minha filha.

― Não sei se acredito na sua capacidade de se apaixonar por alguém. Na verdade, eu não sei se há entre vocês essa capacidade.

Completamente, Seu (Livro 2 - Traídos)Onde histórias criam vida. Descubra agora