Recordo tudo o que passei durante a minha vida em Lay, quando remendava os rasgos das minhas calças nas noites de verão na varanda da pequena casa onde habitava com o meu pai.
A minha mãe falecera quando eu apenas tinha oito anos, tinha leucemia e os meus pais não possuíam dinheiro suficiente para o tratamento. Recordo-me pouco desses momentos, o meu pai afogava as preocupações com bebida e eu permanecia no meu quarto em silêncio.
Com dez primaveras deixei a escola e comecei a trabalhar no campo de uma vizinha que me pagava alguns trocos pelo suor. O meu pai trabalhava na mansão dos Parker's e estavam a precisar de homens e pagavam o dobro do salário, aceitei a proposta imediatamente.
Admirava a filha deles com ainda as espinhas no rosto a presenciar a adolescência. Tinha olhos da cor do céu, um azul imenso que preenchia o meu sorriso. Tinha uma voz doce que quando pronunciava o meu nome tornava o meu rosto da cor dos tomates na época da colheita.
As mágoas do meu pai permaneciam a ser esquecidas recorrendo ao álcool. Uma vez uma senhora de cabelo cor de carvão acompanhada por um semelhante provavelmente o seu filho, visitaram o meu pai. Era a única irmã do meu pai, recordo-me do seu nome e do nome do pequeno rapaz que a acompanhava. Alice e Carlos. Ofereceu-se para tomar conta de mim acusando o meu pai de se ter tornado um alcoólico. A minha tia vivia numa casa maior, branca com janelas azuis e um grande jardim. Vivia perto da mansão dos Parker's pois era a cozinheira da mansão.
A minha tia quis que concluísse os estudos, mas como iria poder estudar e trabalhar ao mesmo tempo? Precisava do dinheiro para me sustentar e a qualquer momento ao meu pai também. Para além do mais se fosse para a escola nunca mais a voltaria a ver. Contudo a minha tia não permitiu que continuasse a trabalhar e fui estudar para uma vila próxima de Lay. Não a vi durante três anos enquanto concluía os estudos.
Aos 18 anos ofereceram-me trabalho por três anos fora do país. Aceitei a proposta porque o salário como médico fora do país era muito elevado. Recebi semanalmente cartas da minha tia, por vezes encomendas com presentes para mim nomeadamente roupa, livros e calçado. O meu pai não me deu notícias durante os três anos que estive ausente, não sabia absolutamente nada sobre ele. Regressei a Lay com a mala cheia de recordações e a conta bancária com muito dinheiro . A minha tia adorou o meu carro levei-a a passear por Lay, estava realmente entusiasmada.
Quando regressei percebi que o meu tio Paulo regressara da tropa, onde trabalhou durante seis anos. Estava no momento de enfrentar o meu pai, desloquei-me de veículo para a casa que já me pertencera contudo algo inesperado aconteceu. Um carro deslocava-se a toda a velocidade em sentido contrário. Bateu contra mim e depois só me recordo de acordar no hospital.
Levantei-me ainda me questionava se estaria vivo ou se teria partido. Senti uma dor no peito, o meu pai ficaria desfeito primeiro a morte da minha mãe e agora a minha. Percorri em passos pequenos o quarto onde me encontrava, era pequeno. Apenas continha uma cama, uma janela com portadas brancas com vista para um velho prédio e uma pequena mesa acompanhada por uma cadeira. O pequeno hospital de Lay só continha 10 quartos para os doentes, notei que tinha graves feridas na cara quando atravessava o corredor e me cruzei com um espelho.
Ouvi vozes que soaram preocupantes, uma voz de mulher disse:
-Ela encontra-se entre a vida e a morte.
Uma voz atrapalhada de lágrimas respondeu:
-Podemo-nos despedir?
A enfermeira desapareceu nos corredores escuros inundados de dor do hospital de Lay. Aproximei-me do quarto do qual ela acabara de sair, um casal chorava desesperadamente. Voltei para o meu quarto onde me perdi com o velho prédio visível através da pequena janela que o meu quarto possuía. O relógio deu algumas voltas e decidi tentar novamente descobrir quem se encontrava por detrás da porta que continha o número sete na porta. A porta encontrava-se aberta aproximei-me e um copo com água, que peguei no meio do meu percurso no corredor, caiu no chão. Era ela, já não estava a menina que visualizava a apanhar flores quando trabalhei antes de abandonar Lay e me tornar médico. Uma voz doce pronunciou algo quando me rodei para ir para o meu quarto. Estava completamente chocado com o facto de ela estar prestes a morrer. Nunca lhe tinha admitido os meus sentimentos por ela. Ela na altura nunca se apaixonaria pelo filho de um camponês que trabalhava para o seu pai.
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Lay
KurzgeschichtenLay é uma pequena cidade repleta de confusões e agitação. João, um rapaz que nasceu em Lay conta a sua vida incluindo todos os pormenores desde as mais profundas mágoas às mais altas gargalhadas. A vida de João sofre uma reviravolta autêntica, que a...