Capítulo único

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Para fugir do destino infeliz e entediante que lhe foi estabelecido desde antes de seu nascimento, Mikage Reo entrou de cabeça no teatro. Mas isso não veio de imediato, pois depois de se formar no ensino médio, ele ficou durante um ano trabalhando na empresa de seu pai, e por Deus ele não aguentava mais. Aquilo não era pra ele, ficar dias e dias trancafiado naquele lugar lidando com finanças, números e todo aquele ambiente monótono e sem alma, aquilo não tinha paixão, qual é o sentido de fazer algo, colocar sua total energia naquilo que você não tem paixão? Desde criança ele não consegue dar seu máximo em nada que não seja uma paixão sua.

Desde o princípio de suas aulas no universo das artes cênicas ele teve uma facilidade extrema na área, apesar de se sentir feliz por conseguir se sair bem de cara em sua nova paixão algo em seu subconsciente acendeu o pensamento que ele se deu bem em interpretar papéis, porque oras, grande parte de sua vida ele interpretou um. O papel do filho perfeito, excelente em tudo, apreciado e aplaudido por todos, porém tudo isso relacionado à sua performance, não ao seu verdadeiro eu. Seu verdadeiro eu estava trancafiado lá no fundo de sua alma, uma fechadura marcada em seu coração que aguardava secreta e silenciosamente para ser liberto.

Deixando de lado esses pensamentos borocoxôs, Reo encara a si mesmo no espelho do camarim vendo se seu cabelo está bem amarrado o suficiente e se sua franja desalinhada estava alinhada ao seu rosto, comprido e levemente arredondado nas bochechas. Já fazia alguns meses em que ele estava estagiando no Teatro Paradise, que era o maior e melhor do Japão atualmente. Como dito antes, ele se adaptou na atuação rapidamente, porém demorou um tempinho para se adaptar ao ambiente caótico que se devia mais especificamente aos seus colegas de curso e ensaio.

E falando neles..

– "Espelho espelho meu, me diz se existe alguém com um iate maior que o meu?" - Reo se assustou com a voz carregada em deboche por um milissegundo, que veio diretamente de trás de si, o autor agachado para não ser denunciado pelo reflexo do espelho numa até que ótima tentativa de tentar imitar a voz de Reo (ele nunca admitiria isso em voz alta). 

– Espera, Reo você tem um iate?!

– Porra Zantetsu cê estragou o meu momento, tchongo! - o autor da 'grande atuação' saiu bufando com raiva de seu esconderijo, revelando um Shidou Ryusei que tentava dar um leve chute no homem confuso de óculos que brotou ao seu lado que matou sua piada. Reo riu da situação, balançando a cabeça num falso desapontamento.

– Cala a boca Ryusei, e para de tentar dar coice no Zantetsu que dessa vez ele teve uma pergunta pertinente tá. - Mikage finalmente deixou de olhar seu incrível (e humilde) reflexo para olhar para aqueles imbecis surtados que ele chamava de amigos. Zantetsu desviou do chute de Shidou e o enviou um olhar convencido junto com um "chupa, otário" num sussurro.

– Mentira.. você tem mesmo o caralho de uma lancha e nunca me chamou? Tá vendo né Zantetsu? Os de verdade eu sei quem são, papo reto viu. - O loiro de mechas rosadas dramatizou, forçando um choro e se apoiando no ombro do jovem de óculos que fez uma expressão preocupada.

– Mas o pior é que mesmo se Reo me convidasse pra ir não ia dar, essa coisa de rolê com bilionário e oceano atualmente me dá medo de ir de Titanic. - Zantetsu diz com a maior seriedade existente, fazendo os amigos rirem e Reo revira os olhos sem saber realmente se ele falava sério ou se foi uma tentativa de piada. 

Desde que começou a interagir mais com o pessoal do teatro, ele nunca imaginaria que Zantetsu e Shidou virariam seus melhores amigos justamente por que eles eram completamente diferentes de si mesmo. Shidou tinha alguns problemas de temperamento, mas nada realmente sério já que ele fazia terapia. Mas ele era alguém extremamente companheiro e honesto que sempre que Reo precisava desabafar sobre suas questões mais pessoais e suas inseguranças com a própria performance em palco (e de vez em quando algumas crises de ansiedade também). Ryusei estava lá para acalmá-lo e o apoiar com toda a paciência do mundo, pois ele já havia passado pelo mesmo.

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