════ capítulo zero

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EM TODA A SUA VIDA, Líder teve que esconder sue nome, seu sexo de nascença — que era feminino — tudo porque seus pais queriam que ela fosse um menino e, infelizmente, o cancro do colo do útero afetou sua mãe, e ela nunca mais conseguiu engravidar, e eles não queriam adotar crianças. Com isso, Líder foi transformada num menino, agia como um menino, e nunca, mas nunca mais, disseram seu nome verdadeiro. Na verdade, sempre a trataram de Líder, pois na cabeça do seu pai, ele tinha que ser o LÍDER, pois estava agindo como um menino, sendo uma oportunidade de ouro pois futuramente poderia realmente ser um menino.

Mas, devido a tanta turbulência e casos suspeitos na família de Líder, ele ingressou num internato com treze anos de idade, parecendo um autêntico rapaz. Sua puberdade ainda não chegara, mas ele sabia que iria chegar. Seu peito possivelmente iria crescer. Iriam notar. Tinha pesquisado muito às escondidas sobre seu sexo, pois ainda possuía uma vagina no meio das suas pernas, e não um pénis. E o que mais lhe preocupava não era sua vagina, mas sim seus peitos quando crescessem. Mesmo que fosse bem magro, ele sabia que outrora seus peitos iria crescer.

Teve a sua primeira crise de identidade aos dez anos e também o seu primeiro e maior surto. Seu cabelo estava crescendo, e ela pediu à própria mãe que lhe fossem ao cabeleireiro e fazer-lhe um corte novo, que deixasse-a parecendo um garoto assim como uma garota, pois seu rosto era bochechudo, seus olhos ocidentais, e as pessoas se perguntavam realmente se ele era um garoto ou uma garota, além da sua voz ligeiramente grossa para uma menina, mas que na verdade, era a voz dele quando falava coreano. De certa forma, ele notava que quando falava coreano, sua voz ficava alguns decibéis mais grave, e isso o frustrava, mas se acostumou, pois nunca mais sequer voltou a falar a sua outra língua, mas ainda assim, sabia-a, pois era essa a língua que falava consigo mesmo.

Entrando no internato, ele olhou os lugares e sabia melhor que ninguém que aquele não era seu lugar. Era um internato só para garotos. Como ele poderia se sentir bem ali? Não sabia, mas como sempre, tinha que fingir que era um menino.

— Seja bem vindo... — Líder notou que fizeram uma pausa exatamente por verem que não estava seu nome colocado naquele papel que tinham nas mãos.

— Líder. 

— Saiba que seus pais fizeram um grande esforço para se instalar aqui.

— Pagaram até para me chamarem de Líder. Eu sei. Não sou criança nenhuma.

— Ainda bem. Por favor, nos siga, iremos apresentar-lhe seu quarto. — Líder assentiu, seguindo a mulher, que lhe apresentou um quarto, e ele nunca se sentiu tão feliz em ver que era um quarto individual para cada aluno. Talvez fosse por isso que os pais andavam pesquisando dia e noite um bom internato, mesmo com a polícia sobre suspeita em cima deles.

Líder ficou apenas alguns segundos no quarto, deixando suas malas num canto e indo conhecer o resto da sua residência, já que moraria ali até ser maior de idade, e o medo de descobrirem-no era bem grande, mas ele daria de tudo para não o descobrirem, pois pelo que andou vendo em notícias, o que mais se tem naquela cidade são casos de abusos, e visto que estes garotos nunca sequer devem ter visto uma mulher na vida, assim que vissem que ela possuísse peitos e vagina, poderiam querer lhe fazer mal.

Conhecido então cada canto, ele logo foi apresentado aos outros alunos que entretanto se levantaram para irem ter suas aulas, comentando sobre o aluno novo, e como ele era bem baixo.

— Bem, obrigatoriamente você tem que entrar num dos desportos que o internato possuí, sendo entre eles futebol, basquetebol, natação, tendo os desportos aquáticos que esses não são obrigatórios, qualquer um pode participar se bem entender para se divertir, e por fim, andebol. Tem outras modalidades, mas que são individuais, então não sendo obrigatórios. Exigimos que todos pratiquem desporto para não perderem o hábito do exercício físico, com isso possuindo também uma pequena academia. Com isso, também acrescento que existe o clube de leitura, ciências e tecnológica, tendo essa duas áreas, sendo a tecnologia, como por exemplo, programas, etc. e tem o de robótica. 

— Eu gostaria de participar do de leitura caso fosse possível já me colocar. Dos obrigatórios ainda não sei. Terei tempo para escolher?

— Daremos três dias para experimentar cada um.

— Experimentarei somente futebol, basquetebol e andebol. Nunca gostei de natação, sinto que posso morrer afogado porque sou pequeno.

— Entendemos. Bem, a equipa de basquete é rigorosa, você pode treinar, mas para fazer parte da equipa e poder entrar no campo num dos jogos que eles habitualmente fazem, precisa ser escolhido. Geralmente não deixamos esse como obrigatório já que é por escolha deles próprios. Mas achei direito de lhe dizer como está estipulado nas regras do internato.

— Entendo. Você apenas fez o seu trabalho. 

— A visita se dá como concluída, irei até à direção consigo e levarei os livros junto consigo até ao quarto, esperando se organizar assim que tiver seu horário e lhe levarei à sala de aula uma única vez.

— Obrigado. — Agradeceu e dirigiram-se até à direção, onde pegaram o horário e os livros que já tinham todos a identificação de Líder. Ele olhou os livros, eram grandes e pesados, tanto que se preocupou pela mulher carregar tanto peso, mas também sabia que não iria conseguir. Aqueles livros eram para dois anos, pois eles iriam buscar os próximos, e assim por diante até finalmente serem de maiores.

Enfim com os livros e o horário, encontrava-se arrumando sua mochila, colocando o estojo que tinha organizado antes de ir para ali, ouvindo sobre que eles também poderia pedir material escolar, e ele assentiu a tudo o que lhe foi dito naquele curto espaço de tempo.

Caminhando para a sua primeira aula, Líder se sentia nervoso, mas agiu o mais normal possível, se sentando no primeiro lugar livre depois de se apresentar, não conseguindo explicar o motivo do porque está usando um pseudónimo, então a professora explicou que foi os pais deles, e logo associaram — alguns, mas associaram — que ele era filho daquele casal doido e achavam bem melhor ele ficar naquele lugar, ainda mais porque tinha um rumor bem grande que não sabia se era verdade referente a abusos sexuais ao filho, neste caso Líder, mas ele nunca sofreu disso — graças a Deus —, mas mesmo que fale, talvez nem mesmo nele acreditem, pois se mal acreditam quando é realmente verdade e é preocupante, com certeza iriam falar-lhe que estava a proteger a família ou tinha medo que lhe fizessem mal. 

Tinha um garoto um tanto alto na sua frente, mas ele se baixou para ela poder passar as coisas do quadro, sendo agradecido por Líder.

— San. Choi San. — Ele disse. — Faço parte da equipa de Basket.

— Prazer. Líder.

— Eu sei. Você disse na apresentação. Já sabe que desporto irá fazer?

— Ainda não sei.

— Não escolha basquete, e não é só por ser rigoroso, está um caos com as piadinhas de mau gosto dos mais velhos. Sabe, eles já estão na puberdade e ficam fazendo piada com quem ainda não passou. Então se você ainda não está passando, se mantém longe deles, e de basket. — Líder assentiu, tendo em seguida um monte de folhas em cima da sua mesa, tiradas da mochila do garoto. — São os meus resumos, temos teste* semana que vem. Não vão se importar se você chegou hoje. Os horários de testes são para cumprir. 

— Certo. Obrigado por isso.

— Você é bonito. E seu corte de cabelo lembra o do meu amigo, e ainda são os dois pequeninos para a idade que têm. Ele é das turmas dos mais velhos. E já está na puberdade. — Líder acabou corando, agradecendo mais uma vez, voltando com sua atenção à aula.

Bonito. Nunca o tinham elogiado, nem no masculino e nem no feminino. Isso o deixou completamente corado. Suas bochechas estavam quentes, sempre repetindo a mesma palavra na sua cabeça dita pelo Choi.

VOCABULÁRIO
teste*: prova

Através das aparências | jung wooyoungWhere stories live. Discover now