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Yara

Eu estava apática.

Não havia nada nem ninguém que me tirasse daquele transe vegetativo constante, como se eu não estivesse mais no mundo.

Se passaram dois dias desde o ocorrido na festa, e em pensar que em nenhum lugar eu teria paz me assusta mais ainda. Tento de toda forma não sair de casa, sempre mais calada e mais cabisbaixa que o normal.

Eu não estava indo para o trabalho, não tinha condições nem de levantar de minha cama para ir. Era como se uma tristeza enorme houvesse me golpeado em cheio.

Haviam várias ligações de Aron, contei 36 ligações e 43 mensagens não lidas. E eu realmente não estava com vontade alguma de responde-lo.

Ester tentou vir me visitar e ficar comigo por um tempo no dia seguinte ao ocorrido mas eu realmente precisava ficar sozinha. Não estava sendo fácil ler todas aqueles comentários e memes contra mim nas redes sociais.

Megan não me deixou em paz, mandou diversas mensagem me xingando e ameaçando acabar com minha vida, deixando claro que eu não teria mais paz, lembro que no dia seguinte a briga Ester me mandou os vídeos que a ruiva havia postado em suas redes encenando estar muito abalada e me colocando totalmente como vilã da história.

E ler os comentários das pessoas me julgando naquele vídeo me destruiu ainda mais.

Dilan havia me ligado pedindo explicações sobre minhas faltas e apenas o respondi dizendo que estaria muito doente, provavelmente terei de levar algum atestado médico para comprovar minha "verdade".

Hoje eu resolvi levantar da cama e ir para o trabalho.

Estava totalmente sem ânimo mas eu precisava manter minha vida. Pelo menos algum esforço por mim eu deveria fazer.

As olheiras enormes e escuras em meu rosto pálido e abatido denunciavam o quão mal eu estava. Meus olhos estavam escuros e vazios, perdidos. Vesti um moletom qualquer e escondi minhas olheiras para que não ficasse tão evidentes no trabalho.

Solto um suspiro pesado antes de finalmente girar a maçaneta daquela porta e sair.

....

— quem é vivo sempre aparece não é mesmo?– Dilan diz assim que entro em sua sala e me encara sério.

— me desculpe, não estava nada bem.– digo rapidamente.

— é, deu pra perceber.– o mais velho desceu seus olhos para me analisar.– bom, hoje o palco é seu, vá aprender os passos de hoje com Agnes e mais tarde entrará em ação.

Assinto e me apresso para sair de sua sala antes que o mesmo continue colocando coisas em minhas costas.

Encontro Agnes no palo vazio ensaiando e assim que a mesma me vê, me lança um sorriso acolhedor.

— olha só quem resolveu aparecer.– diz apoiando suas mãos em sua cintura.

— preciso de dinheiro, sem dinheiro não posso sobreviver.– descontraío e viro meu rosto antes que a mesma questione sobre minha aparência de morta viva.

— como estão as coisas?– pergunto enquanto me alongo.

— ah, estão estressantes.– diz calmamente.– aquele cara é muito exigente.

Tentacion | Aron PiperOnde histórias criam vida. Descubra agora