Capítulo 5

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Rafael - Copacabana.

Dona Jane veio pela parte da tarde limpar meu apartamento, e infelizmente ou felizmente não usou produtos de limpeza com cheiros fortes, por isso o cheiro de Maria Eduarda estava impregnado pela casa toda. Um cheiro suave, doce que deixaria qualquer um viciado.

É, eu descobri o nome dela pouco antes de ela acordar hoje de manhã. Não foi difícil já que metade da faculdade segue ela nas redes sociais. Além disso também descobri quem era seu pai, Renato Soares, o maior delegado da cidade, se não do país, já tentou me encontrar várias vezes, mas é quase impossível.

Já era cerca de sete horas da noite, ouvi a minha campainha tocando, liberei a entrada porque sabia que era Cauê e Felipe perturbando meu juizo.

Dia de domingo eles vinham pra cá, dizem que é pra me fazer companhia mas na verdade eles vem só pra comer ás minhas custas e jogar meu videogame. Dois interesseiros.

- Fala aí irmão. - Felipe já chegou fazendo toque. - Trouxe cachaça e uns petiscos.

- Você sabe que eu não bebo, mas valeu.

- Quem disse que a cachaça é pra você? - Cauê falou rindo e eu olhei de cara feia. - A gente trouxe uma coca geladinha pra tu, toma aí.

Me deu uma garrafa de 600ml de Coca e eu ri balançando a cabeça negativamente.

- Vocês não prestam.

- A gente pensou em você seu ingrato, a gente deveria ter trago só as bebidas alcoolicas, Felipe, pelo menos ia sobrar mais dinheiro.

Eles já foram se sentando no meu sofá e pegando os controles do videogame colocando Fifa pra jogar.

- Viciados do caralho. - eles gargalham.

- Pede aí uma pizza pra gente, Rafinha. - Cauê sabe que eu odeio que me chamem assim, justamente por isso que chama.

- Eu quero sushi hoje, pizza a gente comeu semana passada. - Felipe falou.

- Peçam aí qualquer coisa e paguem.

- Que mal humor, Rafael. - foi a vez de Felipe falar.

- Ainda tá estressado por causa da menina de ontem? - Cauê perguntou e Felipe olhou nós dois sem entender.

- Que menina? O que rolou?

- Na festa de ontem eu fui pago pra drogar uma menina, Rafael ficou puto, tenho que me redimir com ele inclusive.

- Quem não ficaria puto? Porra, tu é pago pra fazer uma coisa e faz outra que não tem nada a ver. - eu falei.

- Calma aí, tu drogou a menina? Caralho Cauê, que merda ein.

- Ela dormiu aqui, acordou desesperada, foi pra casa umas duas horas.

- Por isso tá esse cheiro de mulherzinha aqui. Perfume bom da porra, deve ser caro um desse. - Cauê ás vezes perde a oportunidade de ficar calado.

Preferi deixar quieto o fato de ela ser filha de delegado, porque sei que ela talvez não tenha nada a ver com o pai e isso pode ser irrelevante.

E além disso eu estava sem paciência pra explicar a história, por isso me mantive calado enquanto eles jogavam. Aproveitei pra pedir comida, eu tava com fome, então pedi pra todo mundo logo.

(...)

Segunda. - Rocinha

Saí de casa cedo pra resolver umas coisas no morro do Cauê, ele me disse que era uma coisa séria demais pra ser falada por telefone. Já fiquei logo tenso porque Cauê nunca me chama pra lá, a não ser pra verificar contagem de mercadoria.

E pela ligação ele também estava nervoso.

Voei do meu apartamento até a Rocinha, com um certo medo do que viria, assim que cheguei já reconheceram logo o meu carro e liberaram minha entrada.

- Cauê tá aonde? - perguntei de um dos vapores.

- Lá na boca, ele disse que tá te esperando. - ele respondeu.

Nenhum deles sabe quem eu sou, sabem que eu sou envolvido e talvez pensem que eu trabalhe com coisas externas, mas nenhum sabe de fato, e pretendo que continue assim.

Assim que estacionei na boca, já desci e tranquei o carro. Entrei e encontrei Cauê e Felipe quase arrancando os cabelos, os dois estavam com a cara fechada e me encararam quando eu bati a porta da salinha.

- O que foi? - perguntei.

- Irmão, não faço ideia. Tinha mercadoria pra chegar hoje, armamento e droga, mas recebemos a notificação que foi desviado do percurso. Avaliado em quase dois milhões, caralho.

- E já viram quem tava responsável por trazer?

- Mota foi buscar no porto, mas mataram ele e roubaram. Não tem nem como saber.

- Vou pedir pro Formiga dar uma olhada no relatório da entrega. Ele deve conseguir acessar isso.

Liguei logo pro Formiga que mexe com tecnologia, acessa dados que ninguém consegue. Expliquei tudo a ele e na hora ele acessou e me enviou um arquivo por whatsapp detalhado de quem assinou o recebimento da mercadoria.

Porra.

Se antes eu pensei que Maria Eduarda era irrelevante, agora eu já tenho certeza que não é. Quem diria que o pai dela seria um merda de policial corrupto, roubou nossa mercadoria na cara dura.

- O que foi, Rafael? - ouvi Felipe perguntando.

- Quem desviou a mercadoria foi o delegado Soares, Formiga acabou de me mandar. Ele é corrupto mas obviamente não tá do nosso lado, com certeza fica do lado do comando vermelho.

- Porra, não dá nem pra recuperar. Caralho! - ele pontuou e eu concordei.

- Dá sim! Roubando de volta. - falei e eles me olharam sem acreditar.

- Tá maluco, Rafael? Invadir uma base da polícia é pedir pra morrer, e fora que a gente recupera o valor em pouco tempo.

- A gente vai bolar um plano, irmão. E vai recuperar essa mercadoria, não vou deitar pra PM não. - ele concordou meio relutante e aceitou. - Essa semana ainda a gente vai recuperar. Vou bolar um plano e vocês vão pra atividade! Vou indo pra casa, tenho muita coisa pra fazer ainda hoje e vou aproveitar pra ver isso.

Fiz toque com eles e voltei pro meu apartamento. Dona Jane já estava lá arrumando a bagunça que Felipe e Cauê deixaram ontem aqui.

- Bom dia, filho. - ela falou e eu dei um sorriso.

- Bom dia, dona Jane. Tá bem? Como estão os meninos?

- Eles estão bem, Rafa, e eu fico bem com eles bem. Leonardo começou na faculdade hoje, tá todo animado. - ela riu orgulhosa do filho.

Dona Jane era uma figura materna pra mim. Ela está comigo há anos e me conhece como a palma da mão. Seus três filhos sempre estão por perto, Gabriel tem 28 anos e é o mais velho, casou há uns dois anos e foi morar com a mulher. Leonardo tem 24, o do meio, mora sozinho e Mateus tem 17, é o mais novo e o único que mora com ela. Tive pouco contato com o marido dela, mas sabia que boa coisa ele não era, mas ela não tocava no assunto.

- Faculdade de quê? - sentei no sofá.

- Ele começou administração, conseguiu bolsa na universidade mais renomada, graças a Deus. - ela se gabou pelo filho e eu ri. - E você não pensa em fazer uma faculdade, filho?

- Eu já pensei há alguns anos atrás, mas hoje não tenho tempo pra isso não dona Jane. - ela concordou com a cabeça.

- Ah, antes que eu esqueça. Eu tava limpando o quarto de hóspedes e uma das suas aventuras deixou o salto lá. Parece ser caro, por isso fiquei em dúvida se jogava fora ou se você iria devolver.

- Pode jogar... - uma luz veio na minha cabeça e eu bolei rapidamente um plano. - Não, melhor guardar dona Jane. Hoje ainda eu vou devolver, essas coisas são realmente caras.

- Vou separar o sapatinho da sua Cinderela. - eu ri pelo apelido e fui pro meu quarto começar a trabalhar.

O CHEFE DO TRÁFICO [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora