Capítulo 1

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Ok, o que eu faço agora? Pensei enquanto olhava a morena de olhos azuis na minha frente, os olhos estavam marejados, vi desespero naqueles olhos e eu queria falar alguma coisa, eu queria falar muita coisa, mas simplesmente não saia, minha cabeça tava a milhão com aquela informação, tudo passava em câmera lenta. Certo, minha melhor amiga acabou de se declarar pra mim, a mulher que eu amo a mais de dez anos acabou de dizer que me ama e eu estou calada, FALA ALGUMA COISA, MIA!

— Eu... – Silêncio outra vez.

— Fala alguma coisa, Mia, pelo amor de Deus, não precisa me amar, só diz algo, diz que eu não vou te perder – ela suplicava, as lagrimas caiam uma atrás da outra, a mais alta segurou a minha mão.

Um filme começou a passar pela a minha cabeça, como aquele quando a gente tá morrendo, não que eu tenha quase morrido alguma vez, é só o que falam. Eu tinha 15 anos quando me mudei pra São Luís, entrei para o colégio mais caro da região, os patrões da minha mãe insistiram em pagar por aquilo, claro que ninguém se opôs a isso, afinal, era a minha educação. Minha aparência me ajudou bastante naquele primeiro semestre, fiz amigos, ganhei paqueras, ganhei a simpatia de todos eles, menos de uma pessoa, logo a pessoa que eu queria tanto me aproximar: Atena.

Sim, Atena como a deusa grega e de fato ela era uma deusa grega, meu Deus, jamais me esquecerei quando ela entrou naquela sala, parecia filme, meu coração deve ter falhado uma duas ou três batidas, os cabelos castanhos ondulados que iam ate a cintura, os olhos de um azul impenetrável, o corpo... Ela só tinha 15 anos, como que podia ter um corpo daqueles?

Ela me odiou por um ano inteiro, nas confraternizações na casa dela eram um inferno, ela aparecia linda e nem me olhava, foi tão difícil de conquistar o carinho dela, eu sempre me mostrei muito receptiva a amizade dela, mas ela de fato não queria, até o dia em que ela terminou com o idiota do Gustavo, lembro exatamente da cena, meu armário por um toque do destino era ao lado do dela.

— Você é uma vagabunda, Atena – Ele gritava frustrado e ela como sempre, com cara de poucos amigos. – Não acredito que tá terminando comigo porque tá afim de uma garota. Sapatão nojenta!

Eu naquela época tinha já tinha meus 1,65 e meus hormônios estavam a flor da pele, Atena me deixava a flor da pele, uma coragem absurda se apossou do meu corpo, eu lembro da cena não só pelo escândalo que o Gustavo fez, mas por causa do que eu fiz e falei.

— Você é um merda Gustavo! – Gritei fechando o armário, o espanto no rosto dos dois e de quem tinha parado pra assistir o escândalo foi excepcional.

— Tá falando com quem, sua vadiazinha? – Ele me encarou furioso e se aproximou de mim, eu dei um passo a frente o encarando.

— Vadia é a sua mãe! – Fechei o punho e dei um soco em seu nariz, na hora não senti, mas lembro de chegar aquele dia com os dedos enfaixados.

Adolescente só faz merda!

Depois daquele dia foi diferente, aliás, no segundo seguinte do soco foi diferente, ela se aproximou de mim e me levou pra enfermaria, não me agradeceu e tão pouco me dirigiu a palavra, só escutei a voz dela quando ela foi explicar pra diretora o que havia acontecido. Ganhei apenas uma advertência, uma mão enfaixada e a atenção de Atena. Aquele foi a única briga que entrei na minha vida, depois daquilo Atena resolvia todas, não que eu pedisse ou coisa assim, mas ela não deixava nada me atingir, ela me defendia em tudo, ela com essa pose inabalável era assustadora, isso também ajudava.

Depois disso, bom, nos tornamos melhores amigas, era eu e ela pra tudo, eu fui crescendo e descobrindo minha sexualidade, de fato não gostava de garotos, enfim, nos meus 16 anos tinha entendido todas as pistas que meu coração tinha me dado desde o primeiro dia de aula: eu era loucamente, perdidamente, incansavelmente apaixonada por Atena e ela era apaixonada pela vida, tinha o espirito livre demais pra se prender a qualquer pessoas.

Minha GarotaOnde histórias criam vida. Descubra agora