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A autora tem algo a revelar. Por que eu fiz a Mon engravidar? Porque o ano é 1944. Vocês já viram quantos bebês as pessoas tinham naquela época? Minha bisavó teve 20. Gente, VINTE!!! E eu achei fofo as duas gravidinhas. Até porque as pessoas têm a visão ridícula que mulheres grávidas são intocáveis. Eu mostro que duas mulheres grávidas em uma sociedade machista podem se amar e formar a família delas. Gente, essa coisa dos 25 anos é real. Só não coloquei a fonte porque esqueci onde foi que eu li. Foi nas pesquisas de noivado e eu li muitos sites. Para esse eu usei encyclopedia.ushmm.org gogonihon.com yukawajimzai.co.jp e mundo-nipo.com japaoemfoco.com. Uma curiosidade: Shiba Daijingu é um templo muito famosos em Tokio. O templo xintoísta por dentro e como se age, eu vi no vídeo de Desbravando o Japão.

   Devo dizer que, finalmente, as irmãs voltaram para a escola e eu não vou ver as duas tão cedl. Eu não fiquei falando sobre elas porque elas não são importantes. Sendo sincera, dei graças aos céus de que não tive muito contato com elas. Elas ficavam lá na delas e eu ficava com a Sam. Não farão falta, isso é uma certeza. Nem sobre o sobrinho elas queriam saber.
   O problema maior é sempre a senhora Yha. Ela está sempre em todos os lugares possíveis. E, como eu já disse, ela não gosta de mim. Me deixa em paz porque Sam mandou, mas se Sam não ficasse de olho, ela não aceitaria que uma empregada andasse pela casa como eu ando. E, ainda mais, da forma que eu me visto. Porque eu me visto como uma senhora e não como uma camponesa. E ela fica me olhando com aquele olhar tão estranho e feio. Eu tenho medo.
   Ouvi no rádio do senhor Hamada que a guerra está correndo. Sam nunca demonstra estar preocupada com o senhor Kirk, mas o senhor Hamada parece estar, cada dia mais, preocupado. Ele escuta o rádio todos os dias. Eu consigo ouvir quando passo pela sala assim que volto de casa. A guerra está muito pesada.
   Nesse momento, o rádio disse que os Aliados conseguiram invadir a Normandia e seguiram para Paris. Mas é estranho porque Chin chegou em casa dizendo que o Japão e a Alemanha estão vencendo a guerra e logo ela vai acabar porque otou-san disse que leu nos panfletos dos Shindo Renmei.
   Mas vamos falar de coisa boa, né? Ontem foi o casamento de Jim. Sam me deixou ir sem problemas. Eu fui com Chin e a festa foi bonita. Jim estava muito feliz porque Nop tinha se casado com ela. As irmãs dela já têm até filhos e ela era a única sem se casar.
   Mulheres, no Japão, depois que passam dos vinte e cinco anos são consideradas velhas demais. Meu pai diz que se chama, as mulheres de vinte e cinco que não se casaram, de bolo de Natal. Porque depois do dia vinte e cinco ninguém quer. Homens ainda podem se casar, se passar dos vinte e cinco, mulheres dificilmente vão se casar. Pelo menos, não com japoneses. Os brasileiros até aceitam. Mas acho difícil também.
    A irmã de Jim se casou com um brasileiro de pele escura, mas ela era mais nova que vinte e cinco. E foi uma história bem maluca porque eles se casaram pelo mesmo motivo que mamma e otou-san. Ficaram namorando escondido no meio das moitas da fazenda e ela engravidou.
    A família não ficou muito feliz porque queriam que ela se casasse com um japonês. Mas, se estava grávida, não tinha mais o que fazer. Agora, ele até é aceito na família porque ele aceitou fazer o casamento da forma japonesa. Então, a família sente que ele faz parte dele, mesmo que a moça, quando se case, se torne mais da família do marido. Acho que ele se tornou da família dela. O Brasil modifica as pessoas, não é? Olha mamma com otou-san. Quem diria que uma italiana se casaria com um japonês? Só o Brasil pra fazer isso acontecer.
    Sam estava feliz mais do que nunca depois que disse que eu estou grávida. E ficou mais ainda quando se confirmou por eu não parar de passar mal por dias. Agora, estou melhor. Mas ela está bem feliz como se soubesse que isso ia acontecer. Até penso que ela estava calma quando me casei, por isso. Até parece que ela planejou isso. Mas ela não teria como planejar que Chin me pediria em casamento. Isso é loucura da minha cabeça.
   — Sakuranbo, o bebê mexeu! — Ela sorri, surpresa, para mim, enquanto está deitada na cama e eu estou me trocando para a gente se deitar como sempre fazemos antes de dormir.
    — Mesmo? — Eu corro até ela.
    — Sim, olha! — Ela pega minha mão e coloca na barriga e eu sinto mexer.
   — Eu senti! Mas ainda não é cedo? Ele é pequeno, né? — Fico toda emocionada.
   — Ele tá crescendo e ficando grande. Logo vai ser um grande menino. — Ela sorri mais ainda.
   — Como você sabe que é um menino, Ume? — Fico curiosa.
   — Eu sei, sou a mãe dele. Soube no momento que ele foi gerado aqui na minha barriga. — Ela toca a barriga, cheia de amor.
   — Eu não sei o que meu bebê é. — Eu fico pensando porque eu não sei mesmo.
   — Aí no fundo você sabe, sim. — Ela continua a sorrir. — Mexeu de novo. Tá agitado, o meu menino.
   — Ele deve estar feliz e está dançando. — Eu toco de novo pra ver se ele mexe.
   — Deve estar por saber que as mães dele estão aqui. Logo, o que está na sua barriga vai estar assim. — Ela sorri mais ainda e eu sorrio junto porque consigo imaginar os dois mexendo juntos.
   — Sim, logo os dois vão estar juntos e vão ser inseparáveis a vida toda. — Eu toco a barriga dela mais uma vez e vou terminar de me trocar.
   — Hoje, temos que dormir cedo porque amanhã é o Obon. — Ela suspira.
   — Eu sei, Ume. — Termino de me arrumar e me deito na cama.
   Ela apaga a luz das velas e me abraça por trás como sempre. É nosso ritual de todos os dias. Se ela não fizer isso, eu vou ficar triste e saberei que tem alguma coisa errada. Hoje, vamos dormir cedo, mas o costume antes de dormir é que a gente faz outra coisa. O tipo de coisa que a gente faria para fazer um bebê. O que me faz sentir, às vezes, que foi Sam que me engravidou e não Chin.
   Mas você deve estar se perguntando o que é o Obon. O Obon é um feriado importante no Japão que acontece todo ano no meio de agosto, no sétimo mês do calendário lunar. É o dia em que relembramos as pessoas amadas que já se foram. As pessoas voltam para suas cidades natais, visitam os túmulos, limpam eles e participam de festas e festivais.
   Antes do Obon, a família prepara os enfeites chamados shouryou para a chegada dos ancestrais. Um deles é uma berinjela, que representa a vaca e o outro é um pepino com vários palitos fincados que representa o cavalo. E a família espera que os ancestrais voltem para casa rápido, usando o cavalo, e depois vão para o reino dos espíritos bem lentamente na vaca.
    Também colocam lanternas penduradas nas portas das casas para guiar os espíritos de volta para casa. Oferendas com alimentos e flores são feitas em templos e altares nas casas. Esses altares são chamados de butsudan. E os espíritos gostam dessas oferendas.
   Acordamos cedo e vamos para fora, depois do café. Todos estão preparando a fogueira que guiará os espíritos perdidos para casa. A fogueira se chama ogara. Vemos ela ser montada e esperamos até ser acesa.
   No Japão, o festival dura dois dias, e aqui também vai durar. Mas nós não temos como ir aos túmulos dos parentes. Então, vamos fazer como se tivéssemos apenas festejando sua chegada e depois os guiaremos no último dia do Obon, acendendo as velas, representando as lanternas chamadas chochin, para guiar eles de volta ao mundo dos espíritos. Além de acendemos as lanternas flutuantes chamadas nagashi porque elas podem guiar melhor para o mundo espiritual.
    E também vamos ter o festival Bon Odori, hoje à tarde, depois que a fogueira for acesa
Faremos as danças e tudo mais. O senhor Hamada dá essa alegria para os empregados japoneses de terem os dias de folga para comemorar algo tão importante.
    Ele participa junto com a esposa. Mas a senhora Yha odeia. Ela odeia ficar junto com os funcionários. Mas ele faz isso todos os anos. Talvez porque gosta de sentir que está no Japão. Porque elle traz os tambores taiko que ele mandou trazer do Japão. Todos dançam ao som dos tambores. Até mesmo os funcionários que não são japoneses.
    No Japão, se usam os trajes tradicionais. Mas como somos pobres, não temos como ter os trajes tradicionais para fazer o Bon Odori. Então, usamos as nossas melhores roupas e dançamos em boas vindas.
    No último dia, temos o okurubi, onde outra fogueira é acesa para ajudar os espíritos a voltarem para o mundo espiritual. Nos despedimos com as velas e lanternas flutuantes que vão pelo riacho, levando os espíritos embora. As lanternas flutuantes são colocadas em rios ou no mar no Japão, por ajudar os espíritos a voltar para o mundo espiritual. Essa é a cerimônia do Toro Nagashi, festival das lanternas.
    Então, esperamos que a fogueira seja acesa para os espíritos. Senhor Hamada aparece segurando os tambores e entrega para meu pai e para o pai de Jim. Eles tocam os tambores como é tocado no Japão porque eles são nascidos e cresceram no Japão. Então, viram o Bon Odori antes de virem para cá.
    Todos nós dançamos ao som,  esperando nossos entes queridos que se foram voltarem para casa. Até Sam parece se divertir, mesmo sabendo que não é igual ao que acontece no Japão. Até mesmo os outros funcionários que não são japoneses se divertem.
   E o Bon Odori tem uma lenda muito bonita. Otou-san conta sempre que pode, antes do Obon. Ele gosta de relembrar e a gente gosta de ouvir. É gostoso ouvir lendas, né? Pelo menos, eu gosto de ouvir histórias bonitas.
   O monge Mokuen resolveu usar o seu poder para ver em qual plano astral o espírito de sua mãe estava. Ela tinha morrido fazia pouco tempo. Por ser uma pessoa bondosa, ele achou que ela estava no Nirvana, que é onde Buda vive. Mas sua mãe renasceu na dimensão dos Gaki, onde ficam os demônios famintos. Eles sofrem de eterna fome.
    Ao ver a mãe em eterna fome, ele levou comida para ela, pois podia fazer viagem astral. Mas, toda vez que levava o alimento, ele se transformava em fogo e isso não era nada bom para ele.
    Mokuen, então, fez uma longa oração para Buda, pedindo que ajudasse sua mãe. Buda ouviu a oração e aconselhou Mokuen para que no décimo quinto dia do calendário lunar, prendesse todos os monges no mosteiro para que eles não pisassem nos pequenos insetos e nas flores.
    No dito dia, Mokuen chamou os monges para o grande mosteiro, dizendo que daria um grande banquete em homenagem à sua mãe morta. Então, foi feita tanta comida que os monges comeram o dia todo, além de beberem, cantarem e dançarem. Ao ponto de se esquecerem de sair do mosteiro.
    Quando o dia terminou, a mãe de Mokuen estava iluminada e tão leve que flutuava. Ela, agora, era um ser do sexto plano astral. Ao ver sua mãe parecendo um couchin, que é uma lanterna de papel, ele ficou tão feliz que começou a dançar de alegria. Os monges, que já estavam alegres, saíram dançando atrás dele. Formaram uma grande roda. Essa roda passou a representar o círculo da felicidade. A partir desse dia, nasceu o Bon Odori e a dança que fazemos.
    Nós dançamos felizes por dias, nos divertindo com todos os moradores, até chegar a hora de despedir dos nossos entes que vieram nos ver. Pegamos as lanternas flutuantes feitas com papel, bambu e pequenas velas. Vamos até o riacho, segurando nossas velas para guiar os nossos entes queridos.
    Estou com Chin porque devo estar com ele. Sam está com o senhor  Hamada e a senhora Yha. Nós colocamos nossas lanternas flutuantes na água e elas flutuam com o riacho, indo embora.
    Vou para casa com Chin porque hoje é meu dia de ficar com ele. Fico feliz porque é só um dia que eu fico com ele. E a sorte maior é que acho que agora ele não vai me tocar tão cedo porque eu estou grávida e mulher grávida não pode ser tocada. Nós somos sagradas. Machuca o bebê. O que é ótimo pra mim porque eu me livrei por uns meses desse homem. Eu sou somente de Sam. Nos tocamos da mesma forma. O bebê não liga.
    Acordamos bem cedo. Eu faço o café e o almoço para ele. Ele sempre leva marmita. Faço a reverência para ele antes de sair e deixo ele comendo sozinho como sempre. Subo correndo e vejo o senhor Hamada na porta esperando algo. Acho isso estranho porque ele sempre levanta um pouco depois de eu chegar.
    — Kornkamon, depois de levar o café para Samanun, se encontre com todos lá embaixo. Tenho um comunicado a fazer. Já avisei Jim e Mhee. — Ele nem espera minha resposta e começa a ir lá pra baixo.
    Vou para a cozinha e Jim parece preocupada. Nem comento. Só pego o que preciso e vou para o quarto de Sam. Ela ainda está dormindo, mas deixo a bandeja em cima da cômoda e resolvo avisar ela. Porque ela não gosta de acordar sem eu estar aqui.
    — Ume. — Chamo baixinho e ela acorda.
    — Aconteceu alguma coisa? — Ela me olha confusa.
    — Senhor Hamada me mandou ir até lá embaixo porque tem uma notícia. Eu já volto. — Dou um beijo no rosto dela e saio correndo.
    Encontro com Jim indo para baixo depois de terminar de dar a comida para Mhee entregar para a senhora Yha. Ela nunca esperaria pelo café dela. Mhee está vindo logo atrás. O que me faz pensar que ele vai pedir para todos alguma coisa ou vai mandar todos embora. Eu não sei.
    Chegamos no ponto que liga todos os pontos da fazenda. É bem o meio de tudo aqui. E todo mundo está aqui. Todos estão preocupados e o senhor Hamada parece estar esperando todos estarem aqui. Mas Jim vai pra perto de Nop e eu vou pra perto de Chin.
    — Muito bem, todos estão aqui. Como vocês sabem, o Brasil está lutando contra o Japão. Isso está fazendo com que brasileiros não nos vejam como amigos e não queiram comprar produtos vindos de japoneses. Isso está fazendo minha fazenda ter prejuízo. Eu não terei dinheiro, esse mês, para dar para vocês, mas poderei fornecer o alimento e a água para vocês em troca de seus serviços. Isso vai durar só até essa guerra acabar. Prevejo que ela vá acabar logo e teremos dinheiro para pagar a todos. Espero que compreendam. — Ele fala e todos nós ficamos nos olhando sem entender.
    — Não vai pagar nosso salário? Então, podemos ir embora? — O marido brasileiro da irmã da Jim pergunta.
    — Sim. Podem ir embora. Mas quem quiser ficar, terá alimentação e água. Não faltará nada. — Ele fala preocupado.
    — Eu vou ficar. — Meu avô fala. — Hamada me deu uma casa e trabalho quando ninguém quis e abrigou minha família. Vou esperar, em gratidão. Minha família também.
    — Também tenho gratidão. — Otou-san fala.
    — Também tenho. — O pai do Chin diz e fico aliviada por saber que ele vai ficar porque o pai dele vai.
    Mas alguns funcionários vão embora. Eu não os culpo. Muitos deles estavam aqui pela gratidão. Os japoneses já estavam bravos porque o filho do senhor  Hamada foi lutar contra o Japão. Isso é muito grave para eles. E agora ele pede pra trabalhar de graça em troca de comida? É difícil todos ficarem.
    O senhor Hamada vai pra não sei onde. Acho que ele vai olhar como estão as coisas na fazenda. Mas o pessoal está chocado e conversando.
   — Eu fiquei pela gratidão, mas se aquele filho dele aparecer por aqui e pegar os negócios, nunca mais trabalho aqui. — Otou-san fala pra mamma e fico quieta.
    — Vou ficar porque otou-san tem gratidão e porque a senhora Samanun te trata bem. — Chin fala e percebo que deve ter vindo direto pra cá porque ainda segura a marmita enrolada num pano.
    — Ela é muito boa e está grávida, né? Precisa de mim. — Eu falo do bebê pra ele ter mais certeza ainda que preciso ficar.
    — Vou trabalhar. — Ele faz a reverência e eu retribuo.
    — Vamos, Mon. — Jim me chama e eu vou com ela.

Illicit Affairs (REPOSTAGEM REVISADA E MELHORADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora