"Tudo começa onde termina, qual a diferença entre estar morto e estar vivo? Para Necro, nenhuma"
Necro encara o abismo por debaixo da ponte, e o abismo encara Necro. Cada fibra de seu ser gritava por uma saída, por um fim em todo aquele sentimento, em toda dor. Ao beirar de sua vida, ele se prepara e da o que seria seu último suspiro.Um jovem de 15 anos que carrega marcas de uma vida desprezível, perdas irreparáveis, a ausência de amor, apoio familiar, com lembranças dolorosas de sua falecida mãe e um pai alcoólotra e violento. Para ele, a vida é uma triste melodia de preto e branco, sem brilho ou cor. Esta tristeza e desesperança o definem.
Necro contemplava a queda eminente. Foi então que um movimento no canto de seus olhos chamou sua atenção, um lampejo inesperado de cor azul marinho emanava nos olhos de um garoto parado ao seu lado. Antônito, Necro observou aquele brilho nos olhos do desconhecido. Era como se todas as emoções estivessem concentradas em aqueles olhos.
Curioso, Necro hesitou. Como poderia alguém tão próximo de desistir da vida carregar consigo uma centelha nos olhos? Necro pensou intrigado com toda a situação, ele não deveria se importar, ele não conseguia nem lidar com sua própria dor, porque se importaria com a escolha do outro? Mas quase como um reflexo de curiosidade, saem palavras de sua boca.
_Por que está aqui?_ Necro pergunta em baixo tom, quase como um sussurro, sua voz trêmula demonstra sua vulnerabilidade.
O estranho garoto continua olhando imerso para o vazio da ponte, por alguns segundos o mesmo pareceu raciocinar a pergunta e depois hesitante em responder, mas logo abriu sua boca para responder.
_assim como você..._ ele parecia querer concluir mas por algum motivo desconhecido desiste, aquele silêncio se tornou constrangedor. "Com certeza teria sido mais benéfico ter pulado da ponte logo" pensou Necro. Ele não deveria se intrometer nos assuntos e escolhas de outra pessoa, então apenas voltou a olhar o abismo, tentando ignorar o garoto ao lado.
Até que por segundos um movimento ao canto de seus olhos se fez presente de novo, mas agora muito mais brusco e para frente, lógicamente pensou, "ele vai pular!" E de novo como um reflexo segurou o braço do garoto. O garoto olhava para o vácuo afoito enquanto era segurado, ele ficou na ponta da ponte, se Necro tivesse demorado um mísero segundo o garoto provavelmente teria morrido, então era entendivel o choque, mas então depois de alguns segundos o garoto se virou para encarar quem o estava segurando.
Pov: Aruna
"Sinceramente, qual é o sentido de viver fingindo?"
Era algo que Aruna constantemente se perguntava, fingir ser alguém era sua especialidade. Viver em uma vida onde você atua como um personagem, sem liberdade para fazer oque ama, e sem saber oque é ser amado, práticar vários esportes, tocar vários instrumentos, tirar sempre as notas mais altas da classe, um filho perfeito um prodígio, nada disso é real, nada dessas coisas o dão prazer ou felicidade, nem as melhores vitórias. Ser alguém perfeito como seu irmão era, uma pressão que iria durar por toda sua vida. "Ninguém consegue ser perfeito o ser humano erra" mas no seu primeiro erro vem as pedras, nunca ser bom o suficiente, viver estando em segundo lugar, com a sensação de que se tivesse se esforçado um pouco mais conseguiria. Tudo isso o resumia.
Determinado a acabar com essa monotonia, Aruna vai até a ponte e se prepara para pular, havia outra pessoa em um canto mais afastado de si, provavelmente para fazer o mesmo, "pular da ponte" era um pensamento assustador e ao mesmo tempo libertador, mas antes que pudesse dar um passo rumo à escuridão, ele escuta.
_porque está aqui_ a voz parecia vir de seu lado, "provavelmente é da pessoa que estava afastada" pensou Aruna, mas mesmo assim não quis se virar para o rosto desta pessoa, pois sabia que encarar o abismo uma segunda vez seria pior. Ele não sabia como responder a pergunta do estranho, era um sentimento constrangedor, então apenas murmurou, mas pensou que o mesmo não escutaria então apenas cortou sua frase.
A pessoa não o respondeu depois de seu sussurro e o silêncio era presente, mas não importava, era o momento de partir, de acabar com o sentimento que o prendeu por anos. Aceitando seu destino, ele apenas se coloca mais a frente, e com um falso sorriso em seu rosto e lágrimas nos olhos, ele pula.
Mas misteriosamente corpo para no ar, ele sente como se estivesse sendo segurado, ele abre os olhos e quando vê aquele abismo outra vez, o desespero se faz presente, "isso está realmente acontecendo?" Aruna se pergunta, e então finalmente saindo do transe ele olha para quem o segura.
Quando seus olhos se cruzaram com o do estranho, foi como se todas as cores reaparecessem em uma pintura aquarelada, como se tudo parasse, os sons dos pássaros, o vento forte, nada chamava mais sua atenção neste momento. Seus corações batiam rápido pela adrenalina, suas respirações pesadas, mas tudo com um fundo de alívio e arrependimento, nos olhos do estranho havia desespero, preocupação e ao mesmo tempo, curiosidade. Era comum estranhar alguém que não conhecemos querer nos salvar, mas
no momento parecia certo, certo até de maisNecro pov:
"Por quanto tempo eu terei que segurar?" Pensou Necro, seus braços doíam e ele não sabia quanto tempo iria aguentar, o estranho garoto em sua frente estava totalmente paralisado olhando para si, "sera que ele morreu de olho aberto?" Pensou Necro, o estranho não aparentava nem sequer respirar, apenas estava parado em choque. Depois de alguns segundos esperando uma reação o garoto desconhecido finalmente sai do transe._olhos bonitos..._ disse o garoto abrindo lentamente um sorriso no rosto, "olhos bonitos? Isso é realmente a primeira coisa que ele fala?foi um flerte ou algo do tipo?" Necro pensa enquanto em seu rosto se forma uma expressão de indignação e desconforto.
Aquele encontro com toda certeza mudaria o rumo das coisas, daqui para frente nada será igual.
Revisão feita por helena
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Olhos Aquarela
Teen Fiction"Olhos Aquarela" é uma história que retrata a jornada de dois garotos em busca da esperança em si mesmos. Necro e Aruna se encontraram por acaso em uma ponte a beira da morte, ambos Enfrentando seus monstros internos. Necro, um adolescente introvert...