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Uma mesma melodia composta por acordes de um baixo e uma série de guitarra soava pela sétima vez em sequência no estúdio privado quando o telefone de Jisung acendeu pela primeira vez, sinalizando uma mensagem. Ele deixou a notificação ir e vir, tentando se concentrar na faixa que estava trabalhando no momento.

Já passaram algumas horas desde que ele chegou ao estúdio e começou a trabalhar, e não pretendia sair dali até que fizesse algum mínimo progresso na faixa que vinha tirando seu sono nas últimas semanas. Ele sentia que seu processo de criação havia se tornado um pouco menos pesado desde que conseguiu seu próprio estúdio, a perspectiva de estar sozinho em um espaço para desenvolvimento criativo derrubava qualquer parede que pudesse tentar inibir sua linha de pensamento.

Não é como se produzir com 3RACHA fosse sufocante ou desconfortável, mas Jisung sentia que o eu lírico em suas canções poderia se expressar em diferentes personas quando produzia no silencio libertador de seu pequeno estúdio e quando era alimentado por outras perspectivas sugeridas por Chan e Changbin. Eles eram um time, e Jisung acreditava que trabalhariam juntos pelo resto de suas carreiras, mas quando queria um pouco mais de intimismo e sinceridade em suas criações, preferia passar algumas noites em claro no seu espaço, deixando que tudo em sua mente fluísse e batesse nas paredes de isolamento acústico.

A música em que trabalhava no momento seria um single de pré-lançamento para seu primeiro álbum solo, no qual vinha trabalhando para fazer o lançamento antes de seu alistamento. Seria seu último trabalho antes de cerca de dois anos afastado e Jisung queria fazer algo especial. Ele sabia que Jeongin e Seungmin também estavam trabalhando em futuros lançamentos onde pretendiam mostrar diferentes lados deles ao público, cores que os fãs nunca viram antes, mas a ideia de Jisung para esse álbum era um pouco diferente.

Ele queria algo mais íntimo, mostrar mais sobre quem Han Jisung, o adulto de 26 anos, era. Ele sempre fez música pensando em construir um lugar de conforto aos seus fãs, um espaço seguro onde você pode relaxar e deixar suas inseguranças e preocupações em segundo plano. Ele queria ser um artista que representasse um amigo, alguém que você pode se relacionar, porque sabe como você se sente, porque já esteve no seu lugar e ainda volta pra lá às vezes.

Por carregar um peso tão importante, Jisung estava sendo extremamente crítico com cada música. Ele tinha a intenção de produzir cerca de 10 faixas e ter somente 2 finalizadas até então, com o tempo passando e o prazo final a poucos meses de distância, fez com que uma sensação de impaciência e frustração corresse por ele nas últimas semanas.

Então, ele estava tentando fazer essa faixa funcionar, tentando se concentrar na melodia e nos acordes, mas depois daquela primeira mensagem seu telefone começou a vibrar constantemente em cima da mesa de som, a tela piscando com cada nova mensagem e ele agarrou o aparelho para desliga-lo antes que uma veia explodisse em sua testa.

Ele parou no meio do caminho quando percebeu que as mensagens vinham do chat em grupo, o que era, por si só, incomum. Eles não usam mais esse canal com tanta frequência, agora que as atividades em grupo estavam baixas devido Minho ter iniciado o serviço militar e Changbin estar indo em breve. Atualmente o grupo tem conversas esporádicas sobre tópicos aleatórios, mas os membros preferem se comunicar entre si pelos canais privados, ligações ou simplesmente indo uns aos outros nos dormitórios, a presença física fazendo muito mais do que mensagens trocadas.

Ele leva alguns minutos rolando a tela até chegar a mensagem que gerou tanto alarde no chat que estava silencioso há dias e, quando finalmente a lê, sente a respiração falhar por um breve momento.

Lino-hyung [21:42]
yo
saindo para um intervalo de quatro dias na próxima sexta
quero comer jajangmyeon

Minho. Minho está vindo. Minho está vindo para os dormitórios com quatro dias de folga.

Ele tenta ignorar a forma como seu peito estufa e seus pulmões enchem de ar quente, mas então se lembra que esse estúdio é o seu espaço privado, uma extensão do próprio Jisung, e simplesmente deixa tudo sair. Ele então suspira e morde os lábios enquanto rola as mensagens, vendo os outros membros aparecendo animados e enviando uma série de figurinhas e exclamações.

Innie [21:51]
Finalmente você pode sair de novo

Bang channie [21:52]
Vamos monopolizar você por quatro dias ou tem outros planos?

Jisung riu fraco. Era precioso como os oito ansiavam pelo tempo em grupo, todos juntos. Eles percebiam o quanto era valioso estarem todos na mesma sala quando isso era posto à prova: a primeira separação de seus dormitórios, os períodos de quarentena ou as férias prolongadas que tiveram um tempo atrás e, agora, a ida dos membros para o exército, deixando os dormitórios um a um.

Lino-hyung [21:54]
A ideia de ter sete homens adultos me bajulando é tentadora, mas se eu não visitar meus pais eles darão tudo que é meu para Soonie

Certo. Jisung entendia, Minho tinha sua família em Gimpo, que não via há tanto tempo quanto os membros. Claro que estaria indo para casa, seus pais e os gatos sentem tanto sua falta quanto Jisung e os membros. Saber disso não impedia que a excitação que Jisung adquiriu quando leu a primeira mensagem de Minho naquela noite diminuísse drasticamente.

Lino-hyung [21:55]
Vou para Gimpo no sábado pela tarde

Os dedos de Jisung pairaram sobre o teclado, pensando em algo para enviar, mas quando os membros retomaram o fluxo contínuo de mensagens sobre a próxima sexta, decidindo o que beber e se fariam uma noite de jogos ou karaokê, ele fechou o teclado e saiu do chat em grupo. Ele rolou a tela de suas conversas recentes até encontrar sua conversa privada com Minho, a última mensagem trocada dez dias antes, quando Minho teve acesso ao telefone e conversou brevemente com Jisung sobre algo engraçado que aconteceu com seu colega de pelotão.

Ele olhou a foto de perfil por um momento. Era uma selfie com zoom exagerado na lateral do seu rosto, mostrando somente o olho esquerdo, a sobrancelha e um pedaço da bochecha. A foto ainda estava um pouco borrada e o olho arregalado, mas por mais esquisita que fosse, Jisung gostava porque sabia que Minho tinha tirado aquela foto em um dos últimos passeios noturnos que fizeram juntos antes que o mais velho se alistasse. O fato de que ele não mudou a foto desde então fazia algo se remexer dentro de Jisung.

Ele parou por um momento e pensou se mandaria alguma coisa. Uma resposta a mensagem no grupo, apenas para Minho saber que também estava ansioso, ou talvez algo sem nexo apenas para deixar o outro ciente de que Jisung havia lido. Depois de um minuto, eram 21:57 e Jisung desistiu, lembrando que Minho só poderia ficar no telefone até às 22h e não faria sentido mandar uma mensagem agora, depois de ter perdido a interação no chat em grupo.

Ele bloqueia a tela com um suspiro e se vira para a mesa de som, apenas para que seu celular comece a vibrar novamente, mas sem a interrupção de uma mensagem. Ele olha para tela e vê o nome de Minho, junto com o ícone de aceitar chamada.

Ele nem pensa antes de atender.

- Hyung?

- Pensei que você me amasse, Han Jisung.

Haha. Piadista.

- Pare com isso. Eu vi sua mensagem

- Eu sei que você viu, e não respondeu, porque com certeza tem algo muito mais importante pra fazer do que falar com seu hyung.

Jisung suspirou, afundando na cadeira.

- Ok, seu velho carente, estou aqui. Eu não respondi porque só vi agora, pensei que você já estivesse sem o celular.

- Você é tão atencioso com meus horários, Hannie. – Jisung zombou disso e Minho riu, o som enviando ondas de calor através da linha telefônica. – Está no seu estúdio?

- Sim, tentando chegar em algum lugar com aquele single que te falei.

- Hmm. Vou te ver na sexta ou precisarei ir até o estúdio te desenterrar daquele sofá velho?

Jisung riu, revirando os olhos com carinho. De todas as pessoas que já visitaram seu estúdio – o que, para ressalva, se limitou a menos de dez pessoas, sendo somente os membros e alguns produtores de sua equipe – Minho foi o que passou mais noites lhe fazendo companhia enquanto tentava compor e produzir. Ele voltava de algum horário, entregava uma bebida ou algum salgadinho para Jisung, se jogava no sofá colocado no canto do estúdio e passava a noite lendo ou assistindo alguma coisa em seu telefone.

Ninguém mais faria isso, se infiltrar no espaço de Jisung enquanto ele precisava entrar em um processo criativo, mas Minho não parecia um intruso. Minho parado perto de si, apenas fazendo companhia e dizendo algum comentário de vez em quando, não atrapalhava Jisung, era confortável, acolhedor. O que Jisung não diria a ninguém, é que se sentia muito mais à vontade ouvindo o som suave da respiração de Minho distraído no sofá, do que quando a sala era preenchida unicamente pelo som de seu trabalho.

- Sem viagens desnecessárias ao meu estúdio. Claro que estarei lá, hyung.

Minho soltou um murmúrio em concordância, e Jisung olhou seu relógio digital no canto da mesa enquanto ouvia a cadência calma no tom do mais velho. 21:59.

Quando Jisung abriu a boca para se despedir, Minho falou primeiro.

- Vem me buscar?

Jisung engoliu em seco. Maldito, maldito Lee Minho. Se ele soubesse o efeito que tem sobre Jisung, faria essa pergunta quando eles têm menos de um minuto para desligar?

- Quer que eu pegue você na sua base?

- Uhum. Não quero sair e dar de cara com Yongbok chorando outra vez.

Pobre Felix. Na primeira folga de Minho, ele e Chan foram buscá-lo em sua base. O menino mais novo começou a chorar no momento em que viu Minho, falhando em limpar as lágrimas quando Minho bagunçou seu cabelo com carinho.

- Certo, vou falar com Chan e-

- Não. Sem Chan, só você. Você ainda tem seu carro certo? Ou desistiu da vida sem um motorista particular?

Ah, sim. Quatro dos membros agora tinham seus próprios carros. Hyunjin, Felix, Seungmin e Jeongin tinham suas habilitações, mas não viam necessidade em um carro particular no momento. Minho e Bangchan foram os primeiros a comprar seus carros, logo seguidos por Changbin. Jisung protelou por um tempo, mas após perceber quantas viagens fazia até seu estúdio semanalmente, sempre pedindo um carro da empresa ou se arriscando em um táxi, entendeu que era uma mudança necessária.

Minho queria que ele o buscasse. Com seu carro, sozinho. Seriam só os dois na volta ao dormitório.

- Claro que ainda tenho meu carro, idiota.

- Hmmm.

Jisung suspirou.

- Estarei lá, hyung.

Jisung olhou para o relógio digital. 22:00.

- Obrigado. Até semana que vem, Jisungie.

- Até, hyung.

- Bye bye~~

E assim, a ligação caiu. Jisung ouviu a linha tocar três vezes em seu ouvido antes de abaixar o telefone. Ele fechou os olhos e soltou todo o ar dos pulmões em uma expiração. Olhou novamente o relógio.

22:03

Ele precisava de pelo menos meia hora para colocar seus pensamentos de volta no lugar antes de voltar a trabalhar, então deixou o telefone na mesa e foi até o sofá no canto do estúdio, caindo de costas. De olhos fechados e o coração batendo alto nos ouvidos, ele tentou se lembrar das músicas que Minho cantarolava sem perceber, deitado nesse mesmo sofá, quando fazia companhia para Jisung meses atrás.

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