Os Novos Arcanos

Prólogo: A noite esquecida

Naquela madrugada silenciosa do mês de dezembro de 2013, o Castelo dos Castelos ganhava uma aura ainda mais misteriosa. As paredes, que se erguiam como sentinelas antigas e veneráveis, pareciam tocar os céus estrelados, emoldurando uma cena majestosa e opressiva. A noite envolvia tudo com um véu de escuridão, mas as torres e corredores do castelo eram delineadas pela luz de linhas de led, colocadas como que em molduras, lançando sombras que dançavam como fantasmas nas pedras lisas do chão.

Michelle Red Way, sentia o peso da história impregnado nas pedras milenares que a cercavam. O Castelo dos Castelos tinha sido o cenário de sua infância, onde cada passo ecoava como uma lembrança viva dos dias dourados. O reinado de seu pai, Theon, ecoava através das passagens secretas e dos salões ricamente decorados que com o passar do tempo haviam sido enriquecidos com telões de alta tecnologia, que noticiavam tudo que ocorria no mundo dos homens.

À medida que Michelle caminhava por aqueles corredores familiares, agora habitados por um ar de solenidade, ela sentia a mudança na atmosfera. As tapeçarias que uma vez exibiam o vermelho vibrante dos Red Way agora pendiam como lembranças desbotadas, suas figuras desvanecendo gradualmente no tecido do tempo. As altas portas, que haviam testemunhado os sorrisos e suspiros de sua família ao longo das gerações, agora pareciam guardar segredos sombrios por trás de sua imponência.

O trono, outrora o símbolo do poder majestoso de seu pai, estava agora sob a jurisdição de seu irmão mais velho, Leon. Sua presença pairava levemente, nem um pouco parecida com a figura imponente que Michelle conhecia desde a infância. O novo governante trouxera consigo uma aura fraca, sua postura refletindo os dilemas e desafios que ele enfrentava ao assumir a responsabilidade do reinado.

No entanto, um chamado em uma hora tão tardia destoava do costume. Apesar de tudo, Leon, em sua dedicação paternal, nunca deixava de embalar seus filhos na cama, observando-os com ternura enquanto adormeciam. Seu amor por aqueles dois era ardente e inegável, moldando cada ato e escolha que fazia. Assim, a convocação àquela hora carregava consigo um ar de urgência e gravidade que perpassava os limites do comum.

Michelle, ainda assim, trilhou os corredores do palácio em resposta à chamada, seus passos ecoando de maneira solene nas paredes adornadas que testemunharam gerações de reuniões e decisões. Ao adentrar a sala de reuniões, uma aura de gravidade e expectativa a envolveu. Seus olhos, de um vermelho vivo como brasas ardentes, e os cabelos longos e brancos que fluíam como flocos de neve, traços distintivos de todos os que carregavam o nome Red Way, não passaram despercebidos pelos guardiões do castelo. Um aceno de reconhecimento passou entre eles, um sinal silencioso de que ela era parte incontestável da linhagem que governara aqueles domínios. A conexão entre a família e aqueles que a protegiam estava enraizada nas tradições e na história compartilhada, formando uma ligação tácita que transcendia palavras.

O coração de Michelle batia em compasso com o peso das expectativas, sabendo que o futuro da linhagem Red Way estava prestes a ser delineado por forças maiores do que ela mesma.

Assim que cruzou o limiar da sala, seus olhos notaram imediatamente a presença dos demais Arcanos, figuras poderosas e enigmáticas que desfrutavam de assentos de destaque. Era sabido que esses magos influentes compartilhavam a responsabilidade de governar e proteger os reinos do mundo, mas não era segredo que suas motivações nem sempre se alinhavam com o bem comum. Suas ações frequentemente eram guiadas por ambições próprias, tramas obscuras e agendas secretas. A desconfiança sutil pairava no ar, mesmo naquele círculo de autoridades.

No entanto, Michelle não se deixou distrair pelas sombras que esses Arcanos podiam lançar. Seus olhos, ardendo em determinação, perfuraram as camadas de intriga que rodeavam a sala e logo encontraram o foco do que tanto temia. Lá, em meio às cadeiras imponentes dos Arcanos, havia um espaço vazio que clamava por atenção. O trono do Arcano Escarlate, símbolo da autoridade e liderança de sua família, permanecia desocupado.