—Malessa—Runna me olha e se encolhe como se eu fosse lhe dar um tapa ou gritar com ela, mas apenas tenho a reação de levantar as sobrancelhas o mais alto que consigo. E depois... Pelo o quê essa garota passou naquela cidade miserável para esperar que eu batesse nela por causa de um erro de cálculo? Tudo bem que era um erro enorme, um erro descomunal, um erro que eu não estava preparada para ter que lidar, mas ainda assim... Eu nunca bateria em uma criança.
A culpa é minha. Eu pedi que ela abrisse o portal sendo que ainda nem controla os poderes direito. É claro que a culpa disso é minha, como todas as outras coisas. Mas a surpresa e a preocupação me invadem como parasita, depositando agonia em meu sangue.
— Ilha Nômade. — eu repeti as palavras, ainda tentando acreditar.
Runna encolheu os ombros, e contorceu o corpo como se sentisse dor, mas era só a forma dramática de uma adolescente expressar seu arrependimento.
— Eu sinto muito, muito mesmo. — ela me encara de novo, as sobrancelhas arqueadas em uma expressão triste. — Eu não queira complicar ainda mais as coisas, mas...
As palavras morreram na sua boca, e eu respiro fundo, ainda me matando para tentar entender, porque...
— Como você conhece a Ilha? — pergunto, totalmente confusa. Aquele com certeza não era um paraíso para tirar férias, era um dos piores lugares para se estar. E Runna... — Olha, para abrir um portal, mesmo os básicos, é preciso ter estado no lugar antes. Então, como você...
Agora são as minhas palavras que morrem na minha garganta. Runna parece entender o que quero dizer, pois ela passa os dedos pelos cabelos loiros e suados, antes de respirar fundo e admitir outro detalhe para o qual eu também não estava preparada.
— Eu li em livros. Li tanto sobre aquele lugar, que é como se eu já tivesse ido lá.
Minutos se passam, e já faz um tempo que minha boca está aberta em um puro e simples choque. Completamente atônita com o fato dessa garota estar desafiando todas as leis e regras conhecidas sobre ser uma Passageira. Vendo minha reação, ela me olha com mais medo ainda. Tento falar uma, duas vezes, mas só na terceira que consigo.
— Um livro... — finalmente fecho a boca. — Você abriu um portal com base em informações na porra de um livro?
— Na verdade, foram vários livros. — ela corrige, sua expressão ainda preocupada.
Um ruído sai de mim, mas não se parece nem um pouco com um sorriso normal. Dou dois tropeços para trás, não sei se pelo fato de que eu pareço estar a mil anos sem comer alguma coisa, ou porque Runna às vezes me assusta, e muito.
Ela me acompanha, os braços prontos para me pegar. E se eu não estivesse atordoada pelo grande poder que ela possui, eu teria sorrido do fato dela pensar que teria forças para me impedir de cair de bunda no chão. Mas esse não era o caso, e eu certamente ficaria o resto da noite chocada por essa situação.
— Deveria se sentar, você está muito fraca. — ela avisa e eu ergo as mãos, negando seu pedido.
Então eu obrigo minha cabeça a voltar para seu lugar, e começar a funcionar de novo. Se estamos em Loly-Puth, a Ilha Nômade fica do outro lado do país. Semanas, senão meses de viajem, se andarmos a pé. Algumas semanas, se conseguirmos cavalos, e apenas horas, se arrumassemos um carro. Mas só Nêmesis tinha os automóveis tecnológicos, o que era um saco. E enquanto eu pensava nisso, uma coisa não saia da minha cabeça.
— Por que pensou na Ilha? Tantos lugares menos perigosos, tantas... — sinalizo o espaço ao nosso redor, e ela acompanha meu movimento. — ...fazendas como essa, e... Pensou logo na Ilha onde as pessoas de lá fazem os swuinks parecerem florzinhas?
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~ɪᴍᴘéʀɪᴏ ᴅᴇ ᴅᴇᴜꜱᴇꜱ ᴇ ᴍᴏɴꜱᴛʀᴏꜱ~
Fantasy"Este é um jogo selvagem de sobrevivência". Malessa e seu irmão gêmeo Zander estão em alerta constante para sobreviverem ao que o mundo se tornou. Um pesadelo. Uma guerra entre criaturas sombrias, espécies sobrenaturais e humanas está acontece...